Washington, Estados Unidos 6/9/2013 – O poderoso lobby israelense nos Estados Unidos exerce forte pressão sobre o Congresso para que autorize o presidente Barack Obama a lançar uma ofensiva militar na Síria. Um dos argumentos centrais é que o ataque também poderá servir para amedrontar o Irã. “O tema da Síria deve ser compreendido no contexto do Irã”, disse Michael Makovsky, diretor do Instituto Judeu para Assuntos de Segurança Nacional (Jinsa), que apresentou o último informe da organização, Estratégia para Prevenir um Irã Nuclear.
A possibilidade de Teerã desenvolver armas atômicas é “a mais urgente e grave ameaça à segurança dos Estados Unidos hoje”, alertou Makovsky, citando a introdução do trabalho. A investigação foi realizada por um grupo de especialistas, entre eles vários ex-funcionários da administração de George W. Bush (2001-2009), oficiais de alta patente na reserva e o embaixador Dennis Ross, que foi assessor de Obama durante a maior parte de seu primeiro mandato.
Obama pretende lançar um ataque “limitado” contra a Síria como castigo ao regime de Bashar al Assad, acusado de ter disparado armas químicas contra a população civil em um subúrbio de Damasco. “Se não houver uma resposta do Congresso contra Assad, os iranianos entenderão que quando traçamos uma linha vermelha não o fazemos seriamente”, pontuou Ross, hoje conselheiro no pró-israelense Instituto para Políticas no Oriente Médio. “Portanto, existe uma relação direta entre o que está ocorrendo na Síria e como é visto pelos iranianos”, acrescentou.
A pressão do lobby israelense chega justamente quando o governo de Obama parece ganhar apoio no Congresso para lançar a ofensiva militar. Por dez votos contra sete, o Comitê de Relações Exteriores do Senado aprovou, no dia 4, uma resolução autorizando Obama a atacar a Síria. Dois legisladores do governante Partido Democrata e cinco do opositor Partido Republicano, incluindo os aspirantes presidenciais Marco Rubio e Rand Paul, se opuseram à resolução. Outro democrata se absteve.
Para tentar convencer a maioria, os autores da resolução limitaram a autorização a 60 dias, com possível extensão de outros 30, e proibiram o envio de soldados no terreno “para operações de combate”. Contudo, para também aplacar os “falcões” (ala mais belicista em Washington), liderados pelo senador republicano John McCain, deixaram claro que qualquer ação deve ter o objetivo de “reverter a dinâmica no campo de batalha” a favor dos rebeldes que lutam contra Assad há dois anos.
A resolução, que será debatida pelo plenário do Senado na próxima semana, também fala em aumentar a ajuda militar aos rebeldes. Depois deverá ser debatida na Câmara de Representantes. O rascunho da resolução enviado pela Casa Branca pedia uma ação “limitada” para prevenir o uso o a proliferação de armas químicas na Síria. Embora alguns funcionários do governo inicialmente propusessem uma campanha de apenas dois ou três dias com mísseis cruiser, e que não necessariamente mudaria o equilíbrio de poder no conflito sírio, agora parece mais factível uma ofensiva mais agressiva.
O esforços de Obama para obter a autorização do Congresso recebeu significativo apoio do lobby judeu, que até o dia 3 mantinha silêncio público sobre o assunto. Mas algumas de suas instituições mais importantes pressionavam há semanas, tanto o governo como os congressistas, para uma solução política mais agressiva contra Assad, mesmo antes do uso de armas químicas, em 21 de agosto, em um subúrbio de Damasco, que deixou mais de 1.400 mortos, segundo a Casa Branca.
O Comitê de Assuntos Públicos Estados Unidos-Israel (Aipac), o grupo de pressão mais poderoso, deu esta semana um forte apoio à autorização, bem como a Conferência de Presidentes de Organizações Norte-Americanas-Judias e a Liga Antidifamação. A estes se somaram, entre outros, a Coalizão Judia Republicana, grupo de poderosos doadores de milhões de dólares para campanhas contra Obama, que estão estreitamente associados com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e seu direitista Partido Likud.
Estes grupos coincidem que se deve castigar Assad pelo suposto uso de armas químicas e, também, destacaram que está em jogo a credibilidade de Washington na hora de marcar “linhas vermelhas”. Segundo eles, isto também se aplica ao Irã. “Esta decisão crítica deve ser tomada em um momento em que o Irã corre para adquirir capacidade nuclear”, destacou a Aipac em sua declaração. “Não aprovar esta resolução enfraquecerá a credibilidade de nosso país para prevenir o uso e a proliferação das armas não convencionais, e, portanto, colocará em risco nossa segurança e nossos interesses, bem como de nossos aliados regionais”, acrescentou.
Esse também foi o argumento central do último informe da Jinsa, apresentado por Ross e Eric Edelman, ex-subsecretário da Defesa para Políticas de Governo de Bush. “Creio ser importante para a credibilidade do presidente que o Congresso autorize o uso da força”, afirmou Edelman. “A menos que o Irã acredite em uma real opção militar por trás da disposição de negociar, não haverá uma gestão de sucesso”, enfatizou, em referência às conversações do chamado P5+1 (China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia mais Alemanha) com Teerã, que, se espera, recomeçarão no final deste mês. Envolverde/IPS
* O blog de Jim Lobe sobre política externa dos Estados Unidos pode ser lido em lobelog.com.