Arquivo

Islamofóbicos dos Estados Unidos se distanciam de ataques na Noruega

Washington, Estados Unidos, 27/7/2011 – Enquanto a Noruega lamenta a morte de quase cem pessoas no duplo atentado da semana passada, nos Estados Unidos cresce a preocupação por grupos e blogueiros com a mesma mensagem islamofóbica que teria inspirado o responsável pelos atentados em território norueguês. O autor dos ataques, Anders Behring Breivik, de 32 anos, foi identificado graças a uma publicação na Internet: um manifesto de 1.500 páginas intitulado “2083: uma declaração de independência europeia”, assinada por “Andrew Berwick”.

Breivik havia admitido à polícia norueguesa a responsabilidade pelo ataque com bomba no dia 22, perto de um escritório estatal de Oslo, que deixou sete mortos, e por um tiroteio indiscriminado contra jovens que participavam de um acampamento organizado pelo governante Partido Trabalhista na Ilha de Utoya, no qual morreram pelo menos 86 pessoas.

O discurso do suposto terrorista é parte de um “movimento transatlântico que às vezes chama a si mesmo de antijihad”, disse Toby Archer, pesquisador do Instituto Finlandês de Assuntos Internacionais, em um artigo publicado no dia 25 pelo Foreignpolicy.com. “Como indicam seus escritos, Breivik é claramente um produto dessa comunidade de antimuçulmanos e blogueiros contrários à imigração, escritores e ativistas, fundamentalmente presentes na internet”, disse Archer.

Para este pesquisador, ao contrário da direita europeia tradicional, esta rede tende a ser filosemita e a simpatizar com os partidos de extrema direita de Israel. A maioria dos membros norte-americanos da rede se identifica com o movimento neoconservador e com os líderes da polêmica campanha do ano passado para impedir a construção de um centro comunitário muçulmano perto do lugar onde ficava o World Trade Center, um dos cenários dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.

Os mesmos grupos e blogueiros promoveram ativamente o filme “Obsession: Radical Islam’s War Against the West” (Obsessão: a Guerra do Islã Radical Contra o Ocidente), produzido pelo Fundo Clarion, no qual se compara o extremismo muçulmano com o nazismo. Cerca de 28 milhões de cópias em DVD desse filme foram distribuídas em residências de Estados-chave às vésperas das eleições de 2008, em um aparente esforço para dissuadir os eleitores do agora presidente Barack Obama.

Em um ponto do manifesto, Breivik incluiu links ao site de vídeos YouTube para mostrar partes do filme. O blog Jihad Watch, de Robert Spencer, é citado no manifesto pelo menos 162 vezes, enquanto Daniel Pies e seu Middle East Forum é mencionado em 16 ocasiões, segundo análise do Centro para o Progresso Norte-Americano. O blog Atlas Shrugs, de Pamela Geller, é citado 12 vezes no manifesto, enquanto o Centro para Políticas de Segurança aparece com oito citações.

Entretanto, todos eles se distanciaram de Breivik desde que se conheceu sua identidade no sábado, e protestaram furiosamente por sugestões na mídia de que poderiam estar de alguma forma vinculados com o ocorrido na Noruega.

Geller, coautra de um livro com Spencer no ano passado, que acusava Obama de travar uma “guerra contra os Estados Unidos”, considerou “indigno” um artigo de primeira página do jornal The New York Times que mencionava as contínuas citações dos dois autores feitas por Breivik . “É como o caso de Charles Manson, que consideoru a letra da música “Helter Skelter”, dos Beatles, como um chamado para cometer os homicídios”, escreveu no blog Atlasshrugs.com. “É como acusar os Beatles. É patentemente ridículo”, acrescentou.

Apelando para a mesma analogia, Spencer também expressou sua indignação em seu blog Jihadwatch.org, tanto pelos atentados quanto pelas sugestões de que ele poderia de alguma maneira ser responsável. Embora tenha sido mencionado apenas uma vez no manifesto, David Horowitz – cujo Centro para a Liberdade David Horowitz forneceu US$ 920 mil ao Jihad Watch na última parte do século passado, segundo o site Político – também defendeu Spencer no site direitista FrontPage.

A maior parte do dinheiro foi doada pela Fundação Fairbrook, administrado por Aubry e Joyce Chernick, e que financiou outros grupos islamofóbicos. “Robert Spencer nunca apoiou um ataque terrorista”, escreveu Horowitz no FrontPage, no dia 25. “Seu crime aos olhos da esquerda é ter dito a verdade sobre os fanáticos islâmicos, começando com o profeta do Islã, que pregou o extermínio dos judeus”, afirmou.

Por sua vez, Gaffney – que disse há tempos que a Irmandade Muçulmana se organiza para impor a lei islâmica no Ocidente, incluindo os Estados Unidos – expressou preocupação por não se aprender com “as lições da catástrofe” da Noruega. Envolverde/IPS

* O blog de Jim Lobe sobre política externa dos Estados Unidos pode ser acessado em www.lobelog.com.