Ramalá, Palestina, 4/4/2011 – O governo de Israel alertou o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e a União Europeia que recorrerá a medidas unilaterais se a comunidade internacional reconhecer a Palestina como Estado independente na próxima sessão da Assembleia Geral, em setembro. A ameaça é uma resposta ao que o governo israelense considera tentativas de seus críticos, em níveis local e internacional, para prejudicar a legitimidade do Estado judeu.
Nos últimos meses, vários países latino-americanos (Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Equador, Guiana e Uruguai) reconheceram oficialmente o Estado palestino. É provável que Paraguai e Peru sigam o mesmo caminho em breve, enquanto a Venezuela já o fez na década passada. Por outro lado, a Noruega passou a considerar “delegação diplomática” o escritório palestino em Oslo, antes chamado “delegação geral”.
Nos últimos quatro meses, várias outras nações amigas de Israel, como França, Espanha e Portugal, tomaram a mesma medida. Outras centenas de países, a maioria do Sul, reconheceram a “Palestina” depois que o líder histórico dessa nação, Yasser Arafat (1929-2004) declarou unilateralmente sua independência em 1988. Outros Estados, a maioria do antigo Bloco do Leste, reconheceram o Estado palestino às vésperas dos acordos de paz de Oslo de 1993.
A onda diplomática originada na América Latina pode se propagar por África e Ásia. Um sinal disto foi notado quando a Universidade de Johannesburgo, na África do Sul, decidiu, na semana passada, cessar todo tipo de cooperação com a Universidade Bem Gurion e boicotar outras instituições acadêmicas israelenses. O antigo regime do apartheid (segregação racial institucionalizada pela minoria branca contra a maioria negra) na África do Sul costumava ser um dos aliados mais próximos de Israel.
A cooperação militar, política e econômica entre os dois governos era extremamente próxima. Israel ajudou a treinar as forças de segurança sul-africanas, famosas por sua brutalidade, e ajudou o regime com seu programa de desenvolvimento nuclear, desarticulado com o fim do apartheid e a chegada do governo democrático, liderado por Nelson Mandela (1994-1999). Acredita-se que, por outro lado, que os sul-africanos forneceram urânio a Israel para seu próprio plano atômico.
A indignação de Israel pelas críticas internacionais atingiu seu ponto mais alto quando o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, disse que as negociações entre as duas partes permaneciam congeladas. Na semana passada, Israel informou aos 15 membros do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas e aos maiores países da UE que se a ANP persistir em seus esforços para obter reconhecimento como Estado, responderia com medidas unilaterais.
Também na semana passada, a chancelaria israelense enviou um telegrama classificado a mais de 30 de suas embaixadas, ordenando que apresentassem protestos diplomáticos no mais alto nível possível em resposta aos esforços palestinos pelo reconhecimento internacional na próxima sessão da Assembleia Geral da ONU.
Em setembro passado, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse na Assembleia Geral que desejava ver o Estado palestino convertido em membro da ONU em menos de um ano. Israel e ANP também disseram que as conversações começaram dia 2 de setembro em Washington e durariam, pelo menos um ano. O primeiro-ministro palestino, Salam Fayyad, anunciou que os esforços para criar instituições estatais estarão completos até setembro próximo.
Embora soe ameaçador, não se sabe exatamente o que o governo israelense tem em mente quando fala de “ações unilaterais”. É possível que anexe grandes blocos de assentamentos israelenses construídos ilegalmente na Cisjordânia ocupada. Más notícias para Israel chegaram no dia 30 de março, quando o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chamou esse país a deter a construção de colônias em territórios palestinos ocupados e toda forma de violência e provocação.
Ao falar no Uruguai durante uma conferência internacional organizada pela ONU sobre apoio latino-americano e caribenho à paz no Oriente Médio, Ban afirmou que é um momento “crucial” para o processo de paz. “O tempo é essencial para concretizar a solução dos dois Estados. A ocupação que começou em 1967 é moral e politicamente insustentável, e deve acabar. Os palestinos têm um direito legítimo de estabelecer um Estado independente e viável por si mesmos”.
Mas Samir Awad, da Universidade de Birzeit, na Palestina, perto da cidade de Ramalá, na Cisjordânia, acredita que os israelenses estão mais preocupados em controlar o terreno do que com a opinião internacional. “Os israelenses, contrariamente às suas afirmações de que apoiam a criação de um Estado palestino, decidiram, ao menos extraoficialmente, que isso não está entre seus interesses”, disse Samir, à IPS. “Para consumo internacional e a fim de manter as aparências, continuarão com a farsa de apoiar a solução dos dois Estados”, acrescentou. Envolverde/IPS