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Israel mantém silêncio sobre armas químicas

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Jerusalém, Israel, 25/9/2013 – “Israel também tem armas químicas?”, é a pergunta feita pela revista Foreign Policy com base na informação revelada por um documento desclassificado da Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos. Redigido em 1983, dez anos depois da guerra do Yom Kipur, com Egito e Síria contra Israel, o documento afirma que o Estado judeu “levou adiante um programa de preparação para uma beligerância química, tanto na área ofensiva quanto defensiva”.

Verdade ou não, a informação coincide com a doutrina israelense de sempre procurar dissuadir os Estados árabes inclinando a balança de poder bélico a seu favor, pontuou à IPS o professor Shlomo Aronson, especialista em armas de destruição em massa da Universidade Hebreia de Jerusalém. “Já que os Estados árabes começaram a fabricar armas químicas, é bastante natural que Israel tenha feito o mesmo. Eles têm armas químicas, nós também temos que tê-las”, explicou.

“A Síria desenvolveu seu arsenal químico para equilibrar a ameaça que representavam as armas atômicas israelenses”, disse à IPS Ziad Abu Zayyad, ex-chefe da delegação palestina nas conversações de paz do Oriente Médio sobre Controle de Armas e Segurança Regional (1991-1996). “Embora não possamos confirmar que Israel possua agentes químicos letais, vários indícios nos levam a crer que tem à sua disposição ao menos agentes neurotóxicos persistentes e não persistentes, um agente mostarda e vários antidistúrbios, acompanhados de seus correspondentes sistemas de lançamento”, diz o informe da CIA.

É sabido, desde o começo da década de 1970, que o hermético Instituto Israelense para a Pesquisa Biológica, localizado em Ness Ziona, 20 quilômetros ao sul de Tel Aviv, realiza testes químicos. O documento de inteligência citado pela revista norte-americana identifica “um provável centro de distribuição de armas químicas com agentes nervosos e uma instalação de depósito na Área de Armazenamento Sensível de Dimona, no deserto do Neguev”. Isto significa que estaria perto de uma instalação de pesquisa nuclear israelense onde se acredita são fabricadas ogivas atômicas.

Oficialmente o Estado judeu não confirma nem nega ter um programa de armas químicas, e intencionalmente é ambíguo sobre seu plano relativo à destruição em massa. Só deixa vir a público os centros de distribuição de máscaras antigás e os exercícios que realiza regularmente para se proteger de um eventual ataque químico. Aronson explica assim a doutrina israelense: “Não reconhecer a existência das armas de destruição em massa antes que a paz prevaleça, e não se comprometer publicamente com nenhuma linha vermelha em matéria de armas não convencionais”.

Israel assinou a Convenção sobre Armas Químicas, de setembro de 1993, que proíbe a produção, o armazenamento e o uso desse tipo de armamento, mas nunca a ratificou. Implantado, “o tratado permitirá que inspetores visitem as instalações de Israel, incluindo as nucleares”, pontuou Aronson.

Zayyad acredita que, depois da Síria, Israel deveria entregar seu armamento químico. “Os dois casos devem ser vinculados. Estamos tentando que o Oriente Médio fique livre de armas de destruição em massa”, disse a IPS. No entanto, Israel resiste a ser pressionado para uma ratificação da Convenção no contexto da iniciativa de desarmamento da Síria. “A paz é a única solução para a situação de segurança de Israel”, ressaltou.

Israel se nega a falar com os jornalistas estrangeiros sobre o assunto, e opta por atender somente as mais discretas inquietações da imprensa local. “Alguns países da região não reconhecem o direito de Israel existir, e abertamente pedem que seja aniquilado”, declarou um porta-voz da chancelaria israelense ao jornal liberal Haaretz. “Nesse contexto, a ameaça de armas químicas contra Israel e sua população civil não é teórica nem distante”, acrescentou, para explicar o motivo de seu país não ratificar a Convenção.

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, viajou a Jerusalém para informar ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, os detalhes do acordo com a Rússia para obrigar ao desarmamento químico da Síria. “Se conseguirmos isso, teremos fixado uma pauta para guiar o comportamento com o Irã e a Coreia do Norte”, apontou Kerry. “A determinação que a comunidade internacional mostra com a Síria terá um impacto no Irã, o patrão do regime” de Bashar al Assad, disse Netanyahu a Kerry. “Se a diplomacia tem alguma possibilidade de funcionar, deve estar acompanhada de uma concreta ameaça militar”.

Netanyahu sabe que os Estados Unidos, após adotar este enfoque com a Síria, não podem deixar de apoiar publicamente Israel em seu conflito com o Irã, ainda que Teerã dê sinais de disposição para assumir compromissos com relação ao seu plano de desenvolvimento nuclear. E, no momento, as demandas para Israel entregar o arsenal de gases venenosos que supostamente possui estão destinadas a evaporarem. Envolverde/IPS