Jerusalém, Israel, 4/10/2011 – O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, aprovou a construção de 1.100 apartamentos em território palestino ocupado, apenas seis dias após sua pouca entusiástica aparição na Organização das Nações Unidas (ONU). Simultaneamente, apoiou um plano de negociações do Quarteto para o Oriente Médio.
“Israel celebra o chamado a iniciar negociações diretas sem pré-condições com a Autoridade Nacional Palestina (ANP)”, diz um documento oficial. A resposta favorável surgiu após duas reuniões entre os ministros mais influentes do gabinete da coalizão de extrema direita encabeçada por Netanyahu. “Israel exorta a ANP a fazer o mesmo e a unir-se de imediato”, acrescenta o documento.
Em uma desesperada tentativa para harmonizar o reconhecimento do Estado palestino na ONU com negociações de paz, o Quarteto para a Paz no Oriente Médio lançou há duas semanas uma nova iniciativa para tentar resolver o longo conflito no Oriente Médio. O plano pede que as partes reiniciem as conversações diretas dentro de um mês, que apresentem suas propostas sobre as fronteiras permanentes e os acordos de segurança dentro de três meses, para se chegar a um acordo final em um prazo “inferior ao final de 2012”.
No entanto, a aprovação do novo plano de construção no bairro judeu de Gilo, em Jerusalém oriental, deixa dúvidas sobre a disposição do governo israelense de começar conversações sérias com os palestinos. Visto do exterior, Netanyahu parece que novamente exagerou a mão. A proposta do Quarteto não menciona o congelamento da construção de assentamentos como condição para iniciar o diálogo, mas que as partes se abstenham de “ações provocativas”.
A atitude de Netanyahu recorda uma decisão semelhante de março de 2010, quando deu luz verde para a construção de 1.400 apartamentos em outro bairro de Jerusalém oriental durante a visita do vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, considerado favorável a Israel. A vergonhosa situação levou a uma crise de confiança midiática entre o primeiro-ministro e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
Desta vez, Netanyahu também foi repreendido pela chefe de governo da Alemanha, Angela Merkel, incondicional aliada de Israel na Europa, que declarou à imprensa de seu país estar “furiosa” com o primeiro-ministro israelense. “Não creio em uma única palavra”, acrescentou. “Não posso entender como, poucos dias depois da declaração do Quarteto, aprova a construção de 1.100 unidades habitacionais”, disse a chanceler.
No contexto das atribuladas relações entre a ANP e os Estados Unidos após a declaração favorável a Israel feita por Obama na Assembleia Geral da ONU, a Alemanha se tornou o canal preferido para transmitir as mensagens do Estado judeu aos palestinos e tentar pressionar o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, a negociar com Israel.
Ao que parece, é o que fez Merkel, mas quando lhe perguntou do que precisava para reiniciar as conversações com Israel, Abbas respondeu que a chanceler pedisse a Netanyahu que congele a atividades nos assentamentos ocupados por três meses, o prazo estabelecido pelo Quarteto para o começo das negociações sobre as fronteiras e a segurança. “Não necessita que o diga publicamente, mas que não nos envergonhe”, teria dito Abbas a Merkel. No entanto, Netanyahu nem mesmo se deu ao trabalho de responder à proposta palestina, segundo o jornal israelense Haaretz e, por outro lado, teve início o plano de construção em Gilo.
“As relações com o governo alemão e a chanceler Merkel são boas e estreitas”, diz outra declaração de Netanyahu, também divulgada no dia 2. Aparentemente, ignorando que foi a própria chanceler alemã que informou sobre a dura conversa telefônica e criticou a imprensa israelense por distorcer os fatos. “Assim como a imprensa se apressou em informar sobre a crise diplomática com os Estados Unidos, e depois resultou que as relações eram mais fortes do que nunca, desta vez também parece que os vínculos entre Israel e Alemanha são tão amigáveis como antes”, acrescentou.
Merkel, ao que parece, estava “tão indignada com Netanyahu” que decidiu romper o baixo perfil midiático que costuma manter nas relações com o primeiro-ministro israelense, replicou o Haaretz. A prudência de Merkel é compreensível. Em fevereiro, afirmou-se que repreendeu Netanyahu de forma semelhante por nada fazer “para promover a paz”, acrescentou o jornal.
“O que se vê dali não é o que se vê daqui”, diz um ditado popular israelense. No âmbito local, Netanyahu concentra um grande apoio por seu enfoque diplomático. Sua reação à admoestação alemã é compartilhada pela maioria da população. Ele não considera ilegal a construção em bairros judeus de Jerusalém oriental.
Não é de estranhar que as autoridades tenham alertado dos perigos de um “tsunami” anti-israelense na ONU e de um levante palestino na Cisjordânia. Agora que ficou claro que não chegou o Dia do Juízo final e que não é certo que Abbas consiga os nove votos necessários no Conselho de Segurança, sem esquecer o apoio sem precedentes de Obama a Israel e da garantia de veto por parte de Washington, os israelenses podem se concentrar nestes dias festivos.
A ANP ainda deve aprovar o plano do Quarteto. Por não estar previsto o congelamento da construção de assentamentos, Abbas tentará ganhar tempo e promover o reconhecimento do Conselho de Segurança para reiniciar as negociações de uma posição de fora. Funcionários israelenses deixaram claro, ainda que em particular, que têm dúvidas de se conseguir um acordo com a ANP sobre as fronteiras no prazo de seis meses. Envolverde/IPS