Har Brajá, Cisjordânia, 15/8/2013 – Grandes tubulações negras e tanques de água envoltos em plástico estão espalhados por um poeirento locam em construção, enquanto operários palestinos, falando em árabe, levantam dois blocos de apartamentos de três andares. Isto é Har Brajá (montanha da benção, em hebreu), um assentamento ilegal israelense perto de Naplusa, uma das maiores cidades palestinas da Cisjordânia. E, em um dia ensolarado, a construção avança rapidamente.
“Quanto mais crescermos, mais difícil será nos tirar daqui”, afirmou Yonatan Behar, morador de Har Brajá, enquanto jornalistas percorrem o assentamento. “Ariel (uma colônia israelense próxima) é uma cidade de 20 mil habitantes ou mais. Quem em sã consciência pensaria em evacuar uma cidade de 20 mil habitantes? No caso de uma comunidade pequena, de 300 famílias (como Har Brajá) isso seria possível. Mas, se chegarmos a mil famílias e a duas mil e a cinco mil, então será muito difícil, muito difícil”, afirmou Behar.
O governo israelense não passa por alto quanto à importância de estabelecer estes “fatos no terreno”, o que significa construir rapidamente colônias na Cisjordânia e em Jerusalém oriental. Enquanto, ontem, líderes israelenses e palestinos reiniciavam as negociações para um acordo de paz, Israel tomava várias medidas para fortalecer e expandir seus assentamentos. Não parece considerar-se que impacto isto terá sobre as conversações de paz.
No começo desta semana Israel aprovou a construção de quase mil novas unidades habitacionais em sete assentamentos da Cisjordânia, e planeja construir mais 900 em Jerusalém oriental, ao sul da cidade de Beit Jala, na Cisjordânia. As autoridades israelenses também agregaram vários assentamentos da Cisjordânia à sua lista de comunidades prioritárias que são aptas para receber financiamento do governo.
Isto inclui três assentamentos que originalmente eram considerados postos avançados, construídos violando inclusive as leis israelenses, e que no ano passado foram reconhecidos retroativamente. A rádio do exército informou que, na primeira metade deste ano, a população israelense de assentamentos na Cisjordânia aumentou mais do que a que vive dentro de Israel. A primeira cresceu 2,1% e a segunda apenas 2%.
A construção de casas em colônias da Cisjordânia também aumentou durante o primeiro trimestre deste ano, e o fez em uma proporção impactante: 355% em relação ao último trimestre de 2012, segundo o Escritório Central de Estatísticas de Israel. Estes esforços em curso, e aparentemente acelerados para expandir os assentamentos israelenses enquanto são reiniciadas as negociações, mostram que o governo de Israel não tem intenção de evacuar sua crescente população de colonos, atualmente estimada em mais de 600 mil.
Por outro lado, Israel continua, como tem feito desde a criação dos assentamentos, há décadas, desacatando as leis internacionais, ao promover ativamente o crescimento das colônias, sem considerar em absoluto as consequências. É que, na verdade, não há nenhuma. Embora alguns afirmem que as recentes promessas de construir os assentamentos buscam aplacar as facções de direita dentro da coalizão governante em Israel, que se opõem a voltar às negociações, a realidade é que estas, desde seu início há 20 anos, apenas facilitaram a continuação das políticas coloniais israelenses.
De fato, as conversações de paz historicamente serviram para nada além de dar uma fachada diplomática a Israel, enquanto continuava confiscando terras palestinas e expandindo suas colônias. O último grande tratado assinado entre as duas partes foram os Acordos de Oslo de 1993. Esse marco ainda vigora, embora inicialmente tenha buscado ser apenas um acordo interino por cinco anos.
Atualmente é difícil ver Oslo como algo mais que um fracasso. Por essa via Israel garantiu suas políticas de ocupação e aumentou exponencialmente sua população de colonos. Entre 1993 e 2010, a população de colonos judeus na Cisjordânia e em Jerusalém oriental aumentou de 241 mil para mais de 500 mil, segundo a organização israelense de direitos humanos B’Tselem.
Muitos colonos nem se alteram pelo reinicio das negociações ou pelas perspectivas de um acordo. Após décadas de impunidade, muitos se orgulham do quanto se sentem seguros. “Itamar continua crescendo há décadas. Eu o chamo lufada de crescimento. Não paramos de construir”, contou à IPS Moshe Goldshmidt, morador desse assentamento situado perto de Naplusa.
Goldshmidt passou os últimos 20 anos ouvindo falar de uma possível evacuação das colônias, mas os esforços para fazer com que saiam dali só reforçam a determinação dos colonos em ficar. “Não viveremos no medo. Cremos muito firmemente no que estamos fazendo”, ressaltou. Envolverde/IPS