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Israel pode chegar a sentir saudades de Morsi

Mohamed Morsi. Foto: Divulgação/ Internet
Mohamed Morsi. Foto: Divulgação/ Internet

Jerusalém, Israel, 10/7/2013 – Para Israel, a primeira coisa que o Egito tem a fazer, em meio à instável luta pelo poder e a democracia, é estabilizar suas instituições, particularmente as forças armadas, manter a segurança na península do Sinai e na Faixa de Gaza, ambas limítrofes com o Estado judeu, e preservar a paz com este último. Após a derrubada do presidente Mohammad Morsi, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, prudentemente, instruiu os funcionários de seu país a manterem uma diplomacia silenciosa, não fazerem declarações públicas nem participarem de debates onde qualquer comentário pudesse ser mal interpretado como uma intervenção nos assuntos internos do Egito.

Os funcionários de segurança de Israel temem que o enfraquecimento da lei e da ordem no Egito possa alterar a relativa calma que prevalece tanto no deserto do Sinai quanto em Gaza. Quando Morsi ganhou as eleições presidenciais há um ano, os israelenses assumiram que Cairo rapidamente se transformaria em uma versão sunita de uma Teerã confabulada com o palestino Movimento de Resistência Islâmica (Hamás). Olhando para trás, Morsi foi bom para Israel, até melhor que seu antecessor, Hosni Mubarak (1981-2011). Ameaçou emendar o tratado de paz de 1979, mas o respeitou sob pressão dos Estados Unidos. Negando-se a fazer qualquer trato com Israel, delegou suas prerrogativas de segurança ao sistema militar, o que terminaria por derrubá-lo.

Nesse ínterim, as forças armadas, único contato de Israel com o Egito, manejaram bem o statu quo de guerra fria entre os dois países. A cooperação e coordenação de segurança entre os dois vizinhos nunca foi tão estreita. O “grande irmão” egípcio influía sobre seus irmãos palestinos de Gaza. Em uma espécie de reconhecimento pós-morte, vários analistas israelenses se apressaram em afirmar que, durante o ano em que Morsi governou, Gaza esteve mais tranquila do que nunca.

Os números falam por si mesmos. Nos primeiros seis meses posteriores à Operação Pilar de Defesa (novembro de 2012), apenas 24 foguetes foram lançados contra o sul de Israel, em acentuado contraste com os 171 que choveram sobre o Estado judeu durante o período paralelo posterior à Operação Chumbo Derretido (dezembro de 2008-janeiro de 2009). O governo de Morsi foi decisivo na mediação de um cessar-fogo durante a ofensiva mais recente contra Gaza e também foi responsável por monitorar sua implantação. Estimuladas pelo Egito, as unidades de segurança do próprio Hamás frearam os ataques fronteiriços.

Quando há poucos dias as guerrilhas da Jihad Islâmica dispararam foguetes contra o deserto de Neguev, no sul de Israel, o Egito, ainda com Morsi na Presidência, impediu uma potencial escalada. Precisamente por causa de suas credenciais islâmicas, Morsi fez o que seu antecessor anti-islâmico nunca se atrevera a fazer em Gaza. As forças armadas do Egito intensificaram a campanha contra os túneis utilizados pelos militantes para infiltrar ativistas no Sinai e contrabandear armas, alimentos e outros produtos para a faixa palestina, asfixiada sob o bloqueio egípcio-israelense.

Em paralelo à construção do muro de segurança por parte de Israel, o exército do Egito realizou esforços no Sinai para impedir a passagem de imigrantes africanos e de contrabandistas, e agiu contra jihadistas e outros rebeldes islâmicos. Em meio ao clímax político da semana passada, a imprensa local informou amplamente que Israel concordou em permitir que as forças egípcias controlassem a área do norte do Sinai, contígua à Faixa de Gaza. Segundo o acordo de paz, todo reforço de soldados egípcios na área desmilitarizada está sujeita à luz verde de Israel.

Entretanto, nos últimos dias o Sinai viu ressurgir os incidentes. No dia 5, dois dias depois da queda de Morsi, rebeldes atacaram uma delegacia em Rafah, bem como postos de controle do exército que protegiam o aeroporto Al-Arish, ambos perto de Gaza. Nesses ataques morreram seis soldados do Egito. Por esse motivo, a passagem de Rafah, entre Egito e Gaza, está fechada até nova ordem. Isso não é um bom presságio para o já assediado Hamás.

No dia 7, pela primeira vez em um ano, uma explosão atingiu o duto que transportava gás natural para a Jordânia. Neste contexto crítico, o interesse supremo de Israel se reduz a deixar que o regime – seja civil ou militar, religioso ou secular – ganhe os corações e as mentes do povo egípcio, para que a estabilidade se restabeleça no Egito e além de suas fronteiras. Envolverde/IPS