Ariel, Cisjordânia, 22/7/2013 – Quando a União Europeia (UE) começa a deslegitimar as colônias judias nos territórios palestinos ocupados, cidadãos israelenses partidários da solução de dois Estados lideram sua própria campanha de boicote contra o assentamento de Ariel, na Cisjordânia, no qual residem cerca de 20 mil pessoas. A União Europeia publicou, no dia 19, no diário oficial, as novas diretrizes para que os 28 Estados membros não deem nenhum financiamento, subvenção, bolsa ou prêmio a entidades israelenses com sede nos territórios palestinos a partir de 2014 e durante sete anos.
Além disso, os futuros acordos com Israel estabelecerão que os territórios palestinos não fazem parte do Estado judeu e, portanto, ficarão excluídos dos mesmos. Em junho, o McDonald’s em Israel rejeitou uma oferta para abrir um restaurante no primeiro centro comercial a ser construído em Ariel. A multinacional tem 170 lojas no país, das quais 40 são kosher. O dono da rede de fast food é Omri Padan, fundador do movimento Paz Agora, que defende a solução de dois Estados para o conflito palestino-israelense.
Seu presidente, Yariv Openheimer, considerou as duas decisões “éticas e legítimas”, e afirmou que “o governo de Israel trava uma batalha perdida, a do consenso internacional de que a ocupação deve terminar. Israel não pode obrigar as pessoas nem as empresas a participarem de atividades nos assentamentos”. Após um exercício de infantaria de quatro dias nesta área, os recrutas israelenses deixaram um monte de rifles de assalto na grama em volta de uma piscina municipal e se reuniram ao redor de um churrasco. “Esse é um hambúrguer de Ariel”, brincou um soldado, se referindo ao fato de a rede McDonald’s os deixar sem acesso ao famoso Big Mac.
Por sua vez, o prefeito de Ariel, Eliyahu Shaviro, ressaltou que “nos opomos a todo boicote”. O Conselho de Comunidades Judias da Judeia e de Samaria, organização que reúne os assentamentos da Cisjordânia, pediu “o fim de todos os projetos europeus para os palestinos até a União Europeia anular a decisão unilateral”. Para Openheimer, “não são boicotes contra Israel. Muitos israelenses também estão contra os assentamentos e não compram sua produção, especialmente desde que foram interrompidas as conversações de paz”, em 2010.
O movimento Boicote, Desinvestimentos e Sanções não tem muitos adeptos entre os israelenses favoráveis à paz, que suspeitam que a iniciativa não está dirigida apenas contra os assentamentos, mas contra o próprio Estado de Israel. Ariel é uma das colônias onde se concentra a campanha de boicote. Em 2011, cerca de 145 acadêmicos contra a expansão de assentamentos anunciaram medidas contra a Universidade de Ariel, com 18.500 pessoas entre estudantes e pessoal docente, mas foi quase em vão. Há seis meses, o governo reconheceu oficialmente essa casa de estudos.
Vários atores, autores e diretores se negam a trabalhar no Centro de Artes Cênicas, inaugurado há três anos. Muitas companhias deslocaram suas fábricas da zona industrial de Barkan, a maior da Cisjordânia, perto de Ariel. Entre elas Barkan Winery, Multilock e Bagel-Bagel. “Os árabes podem recair em um ciclo de violência se estiverem desempregados. Não devemos apontar contra a educação, a cultura ou as empresas, devemos preservar a coexistência e o tecido social”, advertiu Shaviro.
Openheimer replicou: “Os colonos se aproveitam da mão de obra palestina barata, e obtêm benefícios consideráveis de uma conjuntura política viciada. Os residentes de Ariel não são colonos por convicção ideológica, são apenas cidadãos comuns que se mudaram para este lugar pelo preço da moradia”. “Os colonos investem muita energia para criar um símbolo de normalidade, como se Ariel se parecesse com Tel Aviv. Muitos israelenses acreditam que os pontuou Openheimer. “O estado nos mandou para cá. Estamos no centro do consenso nacional. Quem se nega a visitar Ariel não nos faz falta”, afirmou Shaviro à IPS.
Em resposta à decisão unilateral adotada por Ariel Sharon quando foi primeiro-ministro (2001-2006) de retirar soldados e colonos da Faixa de Gaza há oito anos, o ex-presidente dos Estados Unidos, George W. Bush (2001-2009), declarou em uma carta: “À luz das novas realidades no terreno, incluídos os grandes centros povoados israelenses existentes, não é realista pensar que o resultado das negociações sobre status final seja o regresso total e completo às fronteiras anteriores a 1967”.
A referência a “grandes centros povoados” significa que, no contexto da solução de dois Estados, Washington aceitaria que Israel anexasse os bairros judeus de Jerusalém oriental e quatro assentamentos, entre eles Ariel. Se for incorporado a Israel, o enclave de Ariel seria só isso, um enclave em meio ao futuro Estado palestino. “Quem construiu Ariel (em 1978) sabia que tinha o poder de impedir a criação de um futuro Estado palestino”, indicou Openheimer.
Ao contrário de Bush, o presidente Barack Obama afirmou em 2011: “As fronteiras de Israel e Palestina devem se basear nas de 1967, com um intercâmbio territorial de mútuo acordo”, embora não tenha se referido aos assentamentos. “Há um grande consenso nacional de que Ariel faz parte de Israel, com ou sem paz”, apontou Shaviro.
Quando terminou um período de dez meses sem construção de assentamentos, no final de 2010, foi realizado em Ariel um projeto de bairro de casas com jardim. Há no total cerca de 650 moradias em construção. A universidade está terminando sua nova biblioteca e ampliando seu campus. Há um boom na construção. “Não foi dada nenhuma autorização de construção durante um ano. Espero que o governo amplie os assentamentos”, declarou o prefeito. O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, anunciou, no dia 19, que Israel e Palestina acordaram as bases para iniciar negociações de paz antes de setembro. Envolverde/IPS