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Jamaica empreende cruzada climática

Estudantes plantando mangues. Foto: Cortesia da Fundação de Gestão de Áreas Costeiras do Caribe

Kingstone, Jamaica, 20/12/2011 – As condições meteorológicas cada vez mais irregulares e extremas, com graves consequências para a população, a economia e a infraesturutura da Jamaica, levaram cientistas e autoridades a coincidirem quanto à adaptação se dirigir para a mitigação dos riscos. Apesar de uma variedade de projetos com este fim, não há uma unidade coordenadora. No contexto da Segunda Comunicação Nacional sobre Mudança Climática, que cada Estado parte da convenção das Nações Unidas está obrigado a apresentar, vários organismos agora colaboram para criar soluções sustentáveis e reconhecem a importância da participação das comunidades locais.

A diretora-executiva do Departamento de Florestas, Marilyn Headley, descreveu várias iniciativas para melhorar a resposta diante do fenômeno. “Metade das pessoas costuma esquecer que sem cobertura florestal não se pode reduzir os efeitos da mudança climática”, disse Headley à IPS, ressaltando a importância das florestas para fixar as íngremes ladeiras que caracterizam esta ilha do Caribe. O Departamento de Florestas iniciou em fevereiro deste ano a recuperação de 300 hectares, avaliação de outros 2.600 para concessão do status de protegidos, e a produção de 300 mil mudas de árvores frutíferas e madeireiras para um programa de reflorestamento, informou.

Também há planos para instalar estruturas que facilitem a navegação de rios e para equipar e capacitar comunidades locais na prevenção e controle de incêndios florestais. Além disso, avalia-se a mudança do uso da terra para determinar o ritmo de desmatamento da ilha. Um obstáculo importante é que somente um terço dos 336 mil hectares de florestas que restam na Jamaica está sob controle do governo.

O que mais preocupa é que a agricultura, o setor mais prejudicado pelas chuvas e secas extremas, ainda não se beneficia das estratégias de mitigação. Setores agrícolas inteiros estão em queda. Em 2008, cessaram as exportações de bananas pelos danos causados após anos de tempestades. Os agricultores com problemas econômicos não podem se recuperar, e o mesmo ocorre com a indústria do café. A Segunda Comunicação Nacional sobre Mudança Climática também identifica a agricultura como “um dos setores econômicos fundamentais da Jamaica”. O documento alerta que as alterações na temperatura, as precipitações e o dióxido de carbono (CO²) atmosférico podem afetar a produção.

A vulnerabilidade da Jamaica diante de problemas meteorológicos pode agravar-se pela incapacidade de financiar a manutenção e o reparo da infraestrutura e pela falta de informação em escala comunitária. Por isso, sua participação e conscientização são pilares das medidas de adaptação atuais, afirmou Headley. O Departamento de Florestas e a Autoridade Nacional de Planejamento e Meio Ambiente (Nepa) formaram grupos comunitários que, segundo dizem, são cruciais para o sucesso das iniciativas de mitigação.

Também foram criados programas para incentivar a gestão comunitária e encontrar e financiar atividades econômicas alternativas para os que vivem dos recursos naturais, disse à IPS o diretor de Política e Planejamento, Anthony McKenzie. Em janeiro, o Departamento de Florestas acrescentará três Comitês de Gestão de Florestas Locais aos oito já existentes. “Serão órgãos legais para gerir e proteger as florestas”, destacou Headley. As consequências da falta de preparo da Jamaica ficaram claras no começo deste ano quando, um dia antes do começo da temporada de furacões, a rede viária entrou em colapso após oito dias de fortes chuvas.

Danificados por mais de 12 eventos meteorológicos extremos em cinco anos, pontes e calçamentos cederam colocando em risco a vida de pessoas, as casas e as comunidades. Os encanamentos entupidos pela vegetação e inutilizados pelo lixo e os muros dos canais de evacuação de água se romperam, após décadas sem manutenção, provocando inundações, danos às propriedades e perda de renda.

Uma avaliação de 900 comunidades, realizada pelas autoridades, concluiu que, no começo deste ano, 310 delas eram muito vulneráveis a danos materiais, declarou, em junho, Ronald Jackson, chefe do Escritório de Preparação para Desastres e Gestão de Emergências. Jackson responsabilizou as “más práticas” pelas dificuldades em conseguir o desenvolvimento, pois desviam permanentemente recursos para o socorro e a reconstrução. “Não podemos continuar utilizando os limitados recursos para compra de suprimentos para a enorme quantidade de pessoas que vivem em condições vulneráveis. Devemos reduzir seu número”, afirmou.

Os tecnocratas dizem que se preparar para a mudança climática aqui significa fortalecer as comunidades contra desastres naturais, criar estratégias paliativas e educar a população. Organizações internacionais financiaram iniciativas para ajudar as comunidades locais a se prepararem melhor. Em nível nacional são feitos esforços para incluir a mudança climática em políticas estatais. A proteção florestal e costeira são duas áreas que contam com um fundo da União Europeia para aumentar sua resiliência e reduzir o risco de desastres em áreas vulneráveis.

O projeto de US$ 5,3 milhões contempla, entre outros objetivos, o fortalecimento das instituições para a adaptação à mudança climática e outras atividades em oito organismos e Ministérios. A iniciativa prevista para durar 30 meses, que já completou 12, está a cargo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e do Instituto de Planejamento da Jamaica.

A Nepa se ocupa dos sistemas de proteção natural costeira da ilha e a conservação da biodiversidade, enquanto o Departamento de Florestas reabilitará as bacias e reforçará a gestão e a salvaguarda das florestas. Para isso, a Nepa revisa seu procedimento para incluir políticas que abordem a mudança climática, destacou McKenzie à IPS, como replantar pradarias marinhas e mangues, reduzir a contaminação e garantir que suas políticas promovam um uso sustentável da natureza.

Em Portland Cottage, uma aldeia de pescadores na costa sul da Jamaica, a Nepa trabalhou com a Fundação de Gestão de Áreas Costeiras do Caribe para cultivar mais de três mil mudas de mangues ao longo da costa. Milhares de pessoas se salvaram em 2004 porque os mangues evitaram que a marejada ciclônica, associada ao furacão Ivã, destruísse as casas dessa comunidade.

A Nepa e a organização Panos Caribe também colaboram com um projeto de educação nas comunidades de Portland Cottage e de Mocho para “reduzir a brecha” entre as políticas e a transmissão de informação, informou à IPS a diretora regional de comunicação da Panos, Indi Mclymont Lafayette. “As autoridades fazem um bom trabalho preparando para as consequências da mudança climática, mas é preciso mais para compartilhar informação com os setores mais vulneráveis que devem estar preparados”, acrescentou. Envolverde/IPS

* Este artigo é parte de uma série apoiada pela Aliança Clima e Desenvolvimento (CDKN).