Documento do Greenpeace revela que maior empresa de processamento de proteína animal do mundo não seguiu acordo no qual prometia não comprar gado de fazendas desmatadoras ou que estivessem em terra indígena.
Após a campanha da organização ambiental Greenpeace em junho de 2009 contra o desmatamento, o trabalho escravo e a invasão de áreas indígenas causados pela pecuária na Amazônia, muitas empresas brasileiras assinaram compromissos para não comprarem carne ou couro de gado de fazendas que realizassem essas atividades ilegais.
Mas pouco mais de dois anos depois da ação, o Greenpeace descobriu que ainda há companhias que mantêm ligações com fazendas responsáveis por essas atividades irregulares. Uma delas é JBS-Friboi, maior firma de processamento de proteína animal do mundo, que em 2009, juntamente com as firmas Bertin, Marfrig e Minerva, assinou um documento para “limpar” sua cadeia de suprimento de quaisquer atividades ilegais.
No relatório ‘Quebra de confiança: Como a indústria da pecuária na Amazônia continua ligada ao desmatamento, ao trabalho escravo e à invasão de terras indígenas’, lançado nesta quarta-feira em Bolonha, na Itália, o Greenpeace indica que a empresa ainda compra carne de fazendas que estão na ‘lista negra’ do Ministério do Trabalho e embargadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
De acordo com a Ministério Público Federal, a partir do cruzamento de dados do Guia de Transporte Animal (GTA) do Ibama, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Ministério do Trabalho, constatou-se que, apesar do frigorífico JBS ter se comprometido a rever as suas relações comerciais, continuou comprando animais para o abate oriundos de propriedades rurais que constam em listas de irregularidades.
Segundo a organização ambiental, a descoberta “demonstra fraquezas na cadeia de suprimento para produtos de couro e carne. Os consumidores que compram produtos originários da cadeia de suprimento da JBS não podem ser assegurados que os produtos são originados responsavelmente, ou seja, que não contribuem para o desmatamento e trabalho escravo”.
Para resolver esse problema, a organização quer que a JBS e outras firmas ligadas à carne e ao couro honrem o compromisso firmado em 2009, encerrem suas atividades com parceiros que realizam atividades ilegais, estabeleçam um processo “transparente e eficiente” para monitorar seus progressos, implementem políticas ambientais e “apoiem publicamente leis abrangentes que procurem diminuir e eliminar o desmatamento causado pela pecuária”.
“Até quando uma empresa do porte da JBS incentivará o desmatamento da Amazônia e o uso de escravos? Já passou da hora do frigorífico limpar sua lista de fornecedores, para garantir que seus consumidores não participem da destruição da maior floresta tropical do mundo”, declarou André Muggiati, da campanha Amazônia do Greenpeace.
O Greenpeace pede que o governo, por sua vez, evite mudanças no Código Florestal que aumentem o desmatamento ou que concedam anistia a desmatadores ilegais, tome medidas administrativas para aumentar os registros e licenças ambientais das fazendas apropriadamente, e tome medidas imediatas para remover fazendas ilegais de terras indígenas.
“Se a reforma do Código Florestal for aprovada do jeito que deseja a bancada ruralista no Congresso, a situação só vai piorar, com os incentivos à anistia e a mais desmatamento. É preciso avançar no registro das fazendas. Chega de escuridão sobre o que acontece na Amazônia”, alertou Muggiati.
Atualmente, a pecuária é a maior causadora de desmatamento no Brasil, e o governo calcula que mais de 60% das terras desmatadas são usadas para o pasto de gado. O problema é ainda maior porque a maioria dessas áreas é de pecuária de baixa intensidade, o que faz com que a atividade, além de ser prejudicial ao meio ambiente, seja pouco produtiva (com menos de uma cabeça de gado por hectare), e sirva de veículo para especulação imobiliária.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.