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Jovens do mundo querem a palavra

Paris, França, 20/10/2011 – No contexto dos levantes populares no Oriente Médio e em outras partes do mundo, o sétimo Fórum da Juventude da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que acontece esta semana na França, ganha particular importância pelo peso deste setor populacional nesse movimento e suas propostas de paz, justiça e igualdade social. O encontro reúne delegados de 190 países, entre os quais ativistas da Primavera Árabe e de movimentos dos chamados indignados do Sul da Europa. Os participantes esperam que os governantes os levem a sério.

“As últimas concentrações registradas em várias partes do mundo mostraram que, se querem a paz, devem ouvir os jovens”, disse o nigeriano de 27 anos Enilolobo Solomon, que reside em Londres. “Vim de Londres para fazer parte disto. Vamos contribuir para acabar com as ideias dos ricos. Espero que os países adotem nossas resoluções para que as coisas possam melhorar”, declarou à IPS. Solomon, que participou do Parlamento Juvenil da Comunidade Britânica de Nações, disse que ficou sabendo do encontro em Paris pela rede social Facebook, e rapidamente se apresentou como voluntário, porque participar do Fórum da Juventude é uma “brilhante ideia e é o que todo mundo deveria estar fazendo”.

É importante porque apresenta uma oportunidade para trabalhar juntos, disse à IPS outro delegado. “No geral, estamos tão sozinhos que não sabemos o que fazer. É, definitivamente, uma inspiração para a mudança. Queremos que nos escutem”, afirmou Sica Acapo, universitário francês de 21 anos. Sob o lema “como a juventude promove a mudança”, os responsáveis pelo encontro juvenil convocado pela Unesco recorreram a certas personalidades para divulgar uma mensagem de “paz”. O ator e ativista norte-americano Forest Whitaker encabeçou, no dia 17, um painel sobre resolução de conflitos e reconciliação, bem como sobre a contribuição dos jovens nesta área.

O encontro foi considerado uma formação prévia para os delegados antes da abertura forma do Fórum, no dia 18, pelo blogueiro egípcio e ativista Gigi Ibrahim, considerado “um dos líderes” das mobilizações na Praça Tahrir, no Cairo, no Egito. “Podemos ser suficientemente valentes para mudar o modelo. Podemos reestruturar o mundo”, afirmou Whitaker, nomeado em junho embaixador da boa vontade da Unesco. Além de atuar, participa de projetos que refletem seu interesse por questões humanitárias.

Whitaker produziu uma comovedora história de um menino soldado ugandense, bem como um documentário sobre a necessidade de conseguir a paz e a compreensão em comunidades conflitivas. Fundou, com o antropólogo italiano Aldo Civico, especialista em resolução de conflitos da Universidade Rutgers, dos Estados Unidos, o Instituto Internacional para a Paz, dedicado a “promover uma cultura e uma prática para fortalecer o potencial humano para a paz mediante o diálogo e a negociação”.

“Ele coloca compaixão, compromisso e sentimento no que faz neste mundo agitado”, disse a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, ao falar de Whitaker. Ambos trabalham para “apoiar ou desenvolver iniciativas que deem poder aos jovens e para excluí-los dos ciclos de violência”. O ator repassou para a IPS suas reflexões feitas à frente dos delegados no painel, ao dizer que “foi transformado” por sua presença e que quer fazer tudo o que estiver ao seu alcance para divulgar as preocupações dos jovens.

Entre os motivos de preocupação está a violência, o desemprego e o acesso a educação. Cerca de 565 jovens entre dez e 29 anos morrem por dia em episódios de violência interpessoal, segundo pesquisa da Organização Mundial da Saúde. Diante do mal-estar instalado em várias regiões e à brutal repressão com que respondem as autoridades de vários países, a quantidade pode aumentar.

Os jovens são uma grande proporção das pessoas pobres. Cerca de 209 milhões sobrevivem com menos de US$ 1 por dia, enquanto 515 milhões o fazem com menos de US$ 2, segundo a ONU. O desemprego nesta faixa etária costuma ser o triplo do registrado entre os adultos, afirma a Organização Internacional do Trabalho. O problema se agravou, passando de 11,9%, em 2007, para 13%, em 2009, um aumento de 7,8 milhões de pessoas.

Quanto à educação, a Unesco informou que 98% das crianças com alguma deficiência dos países em desenvolvimento não vão à escola e que 99% das meninas são analfabetas. Há 67 milhões de menores fora do sistema formal de ensino. Contudo, os jovens têm maior formação, pois o alfabetismo entre pessoas de 15 a 24 anos baixou de 83% para 89% entre 1990 e 2009, segundo a agência, que atribuiu essa melhoria a um aumento de iniciativas de educação não formal, como as escolas móveis e outros projetos inovadores.

A ampliação desses programas faz parte da agenda desta semana. A Unesco assinará um acordo com a Fundação Internacional para a Juventude para realizar 180 projetos na África, com o objetivo de desenvolver capacidades e oferecer acesso a redes profissionais, dando preparação e assistência financeira. A organização também assina hoje um acordo com a Tafisa, Associação de Esporte Internacional para Todos, e o foco estará na criação de capacidades de liderança por meio da Iniciativa Voluntária para a Paz Mediante o Esporte (Vips), com sede na Tanzânia.

Whithaker também lançará esta semana um centro na internet “dedicado a mobilizar os jovens para promover a paz e o entendimento no mundo”. O fórum contará com outros conhecidos oradores, como o escritor brasileiro Paulo Coelho e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Os próprios delegados vão redigir uma resolução para apresentar aos líderes mundiais durante a conferência geral da Unesco, entre 25 deste mês e 10 de novembro. Envolverde/IPS