Havana, Cuba, 15/6/2011 – A ideia nasceu sozinha e rapidamente cresceu como bola de neve. Em apenas poucos meses, mais de cem pessoas passaram a integrar, em Cuba, uma rede jovem que aposta na própria diversidade e na de uma sociedade onde o machismo e a homofobia se naturalizam e afetam também a população heterossexual.
“Sou dos que dizem: todos, todas e tudo, para que ninguém venha se queixar nem ninguém se sinta excluído”, disse à IPS o psicólogo cubano Yasmany Díaz, especialista do governamental Centro Nacional de Educação Sexual (Cenesex), que este ano assumiu a coordenação da rede social Jovens pela Diversidade.
Mais do que uma coordenação, trata-se de acompanhar um processo. “O acompanhamento não pode ser a partir da frente, mas tem de ser feito ao lado”, assegura, ou seja, “nada de esquemas nem de padrões”, disse Díaz. “A juventude cubana de hoje está ávida por participar, mas de uma forma real, sem líderes, de forma horizontal, focada em poder fazer e no diálogo constante”, acrescentou.
“Não importa o que você é”, é o lema do grupo que não distingue seus integrantes por orientação sexual ou identidade de gênero. “Basta ser jovem, se sentir jovem e ter vontade de fazer parte de nosso grupo”, acrescenta o especialista de 26 anos que inclui em seu trabalho a metodologia da educação popular.
A Jovens pela Diversidade é apenas uma das redes que nos últimos anos foi sendo tecida ao redor do Cenesex, uma instituição que mantém um sistemático trabalho de sensibilização sobre os direitos sexuais e humanos. O processo soma três grupos de mulheres, uma rede trans e a Homens pela Diversidade.
Os antecedentes do novo grupo remontam a 2009, quando o Cenesex começou a trabalhar na Casa da Federação Estudantil Universitária, uma das principais organizações juvenis de Cuba. Aos primeiros encontros se seguiram conferências, vídeos, debates e paineis de formação de promotores em educação e direitos sexuais.
Foi nesse momento, final de 2010 e começo deste ano, que o trabalho com a juventude universitária conseguiu se consolidar e superar, inclusive, as expectativas dos especialistas, graças a uma melhor organização e ao apoio financeiro da Agência Espanhola de Cooperação e Desenvolvimento (Aecid) a um projeto do Cenesex. Em apenas alguns meses, aderiram estudantes de jornalismo, psicologia, direito, sociologia, geografia, artes e letras, pedagogia, desenho industrial, medicina, de diversas carreiras técnicas e de ciências da informação. Da experiência aproximaram-se, também, jovens das províncias de Pinar del Río e Matanzas, ambas no ocidente de Cuba.
“A homofobia afeta todas as pessoas, inclusive as heterossexuais, porque as condiciona com quem pode ou não pode andar. Esta é uma luta por mudanças na subjetividade humana, contra todas as experiências machistas que dominam a sociedade”, afirmou à IPS Ana Lucía Gómez, estudante de Sociologia, de 22 anos. Como ela, Antonio Alejo, da Faculdade de Matemáticas da Universidade de Havana, encontrou no Cenesex a oportunidade de “conhecer mais e trabalhar por uma abertura na população” em um tema que sempre o inquietou e que definiu como “estar contra uma cultura imposta socialmente”.
Alguns dos integrantes mais ativos da rede apareceram durante maio nas atividades pela Jornada Cubana Contra a Homofobia, momento culminante de um programa muito mais amplo a favor da livre orientação sexual e identidade de gênero que se estende por todo o ano, com atividades em diferentes províncias do país.
Entre as experiências, esteve a de Wilfredo Mederos, o jovem professor da Universidade de Ciências Pedagógicas (UCP) Enrique José Varona, que por iniciativa própria levou uma de suas classes para a sessão de debates sobre diversidade sexual realizada na sede da União de Escritores e Artistas de Cuba.
“A preparação do professorado é todo um desafio. A escola, em conjunto com a família e a comunidade, são os elos fundamentais de socialização da vida da criança. É ali onde ela aprende a amar ou odiar, aceitar ou rejeitar, ser homofóbico ou não”, afirmou Mederos à IPS, ele que é membro da Homens pela Diversidade.
O também integrante da Cátedra de Gênero, Sexologia e Educação Sexual da UCP defendeu a necessidade de somar pessoas heterossexuais à luta contra a homofobia, considerando que este tipo de ódio não é exclusivo de nenhum grupo populacional e se estende, inclusive, entre as gerações mais jovens.
Na mesma linha de Mederos, como resultado da experiência vivida na marcha contra a homofobia que percorreu 400 metros na rua central de Havana, no dia 14 de maio, um grupo de jovens uniu-se espontaneamente para criar no Facebook a Comunidade Cubanos Heterossexuais Contra a Homofobia.
Para Yasmany Díaz, as gerações jovens que convivem na Cuba de hoje podem ter maior potencial de mudança, mas nem por isso estão livres da cultura machista dominante e, por fim, dos preconceitos existentes em relação aos homossexuais, bissexuais ou trans que chegam a naturalizar a homofobia.
“Apesar de a juventude poder estar um pouco mais aberta, ainda há muitas resistências. Não podemos ignorar que somos o produto de uma cultura, nem os processos de socialização. Inclusive, uma pessoa não pode mudar, mas a família tem de mudar conosco”, disse Díaz à IPS. Assim, acrescentou, “nosso trabalho parte de olhar a geração jovem como força de mudança social. Se virmos a história deste país, a juventude foi em seus momentos a propulsora das mudanças sociais que levaram a mudanças econômicas e políticas e, de alguma maneira, à mudança da consciência”, recordou. Envolverde/IPS