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Justiça lenta no caso de assassinato de ambientalista

Rio de Janeiro, Brasil, 7/11/2011 – “Há fortes indícios” de que o assassinato na Amazônia brasileira do ambientalista João Chupel está relacionado com as denúncias que fez dois dias antes sobre a exploração ilegal de madeira em duas reservas no Estado do Pará, afirmou o procurador Cláudio Amaral. Um morador local disse à IPS – sob a condição de não ser identificado – que a situação é crítica na região e que “algo deve ocorrer nos próximos dias”. Admitiu que “a comunidade espera uma grande operação policial para controlar a ação das empresas que retiram madeira da área ilegalmente”.

Relatos de moradores afirmam que cerca de três mil metros cúbicos de madeira são retirados todos os dias e mais de cem máquinas, caminhões e escavadoras são usadas nesse trabalho. Chupel, de 55 anos e presidente da comunidade católica Nossa Senhora de Nazaré de sua localidade, foi morto com um tiro na cabeça, no dia 22 de outubro, por um dos dois homens que chegaram em uma motocicleta ao escritório no qual trabalhava, na Vila de Miritituba, sudoeste do Pará.

Filho único de um casal do Maranhão, o ambientalista era casado com Aneli, com quem teve um filho, que morreu aos 22 anos eletrocutado em um acidente de trabalho. Aneli estava com familiares no Estado do Mato Grosso quando foi informada do assassinato. A denúncia que o ativista apresentou à polícia se referia à Reserva Extrativista (Resex) Riozinho do Anfrísio e à vizinha Floresta Nacional Trairão, que incluem 736 mil hectares na região da Terra do Meio, entre os rios Xingu e Iriri.

Os crimes ambientais, como o de Chupel, são investigados por três procuradorias nas cidades de Altamira, Santarém e Belém, no Pará, mas o homicídio é atribuição da polícia civil. Devido à complexidade do caso, as investigações estão sob rígido segredo, disseram fontes judiciais à IPS. “Pedimos à Polícia Federal que acelere as investigações sobre os crimes contra o meio ambiente”, disse à IPS Amaral, procurador de Altamira, um dos responsáveis por acompanhar a investigação ambiental.

O Ministério Público Federal no Pará pediu à polícia e a outras autoridades que investiguem a morte de Chupel, protejam as testemunhas que existirem do crime e atuem para acabar com a impunidade dos crimes cometidos na Amazônia denunciados pelo ativista.

Chupel foi mais uma vítima da violência na Amazônia, por defender a floresta e denunciar práticas de extração ilegal de madeira e a apropriação fraudulenta de terras fiscais (grilagem) por meio de falsificação de documentos, alertam ativistas como Marcelo Salazar, coordenador-adjunto do Programa Xingu, do não governamental Instituto Socioambiental (ISA). “Ele denunciou todo o esquema de exploração de madeiras em Riozinho do Anfrísio”, disse Salazar à IPS.

O esquema denunciado por Chupel se desenvolve dentro dos limites da reserva, em sua porção oeste, perto da Floresta Nacional Trairão, e no acesso ao Assentamento Areia, montado por uma empresa há uma década para extrair madeira irregularmente. São muitos os interesses em jogo na reserva de Riozinho, que vão de especulação imobiliária a venda de recursos naturais e lavagem de dinheiro.

Luiz Vagner, responsável pela reserva de Riozinho por ordem do estatal Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), admitiu à IPS que os interesses madeireiros são dominantes e colocam em risco até a sobrevivência dos moradores locais que se dedicam à coleta de sementes oleaginosas e frutos.

“Será que voltaremos ao tempo do faroeste?”, pergunta com tristeza Wilmar Santin, bispo de Itaituba, cidade próxima de Miritituba às margens do Rio Tapajós. “Estou muito sentido; o conheci de perto, tive vários encontros com ele, uma pessoa muito alegre e animada. Quando falei com Chupel em agosto sobre suas denúncias, avisei para que tomasse cuidado”, afirmou o bispo.

“Ele não acreditava que pudesse ser atacado, só queria melhorar a região onde vivia. Nesse ponto foi ingênuo”, acrescentou dom Santin, após afirmar que seguramente o assassinato foi “encomendado”. No dia 20 de outubro, o ativista testemunhou por quatro horas na sede da Polícia Federal de Altamira.

Duas testemunhas do crime informaram que a arma utilizada era de uso profissional, que o disparo entrou pela frente e saiu fragmentado por trás da cabeça, e que o assassino era um homem muito bem vestido e desconhecido da região, contou o bispo. Segundo informações da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Chupel deixou registradas várias vezes as ameaças que sofria, tanto na Polícia Federal quanto na polícia local e no Instituto Chico Mendes.

A CPT disse que a operação contra o roubo de madeira da reserva feita pelo Instituto e pelas forças de segurança nunca teve êxito, e todas as noites continuam saindo entre 15 e 20 caminhões carregados. A falta de segurança na região motivou a suspensão da operação. Há informações de que um soldado do exército enfrentou um grupo de pessoas na selva e acabou ficando perdido por cinco dias na floresta. Após esse acontecimento, a força militar retirou seu apoio.

O bispo Santin responsabiliza as autoridades e o governo federal por esta outra morte causada pelos crimes ambientais na Amazônia. Segundo a CPT, pelo menos 20 pessoas foram assassinadas nesta região desde 2005. Envolverde/IPS