Juventude e mudanças climáticas

Entre tantas alternativas possíveis para o Século 21, duas se destacam. A primeira é baseada na retomada do crescimento econômico a partir da expansão do consumo, sobretudo nos países emergentes, sustentada por sistemas limpos de produção e tecnologias inovadoras de mitigação das mudanças climáticas. É a versão mais do mesmo, e se fia no argumento de que a tecnologia e o engenho humano serão capazes de resolver os problemas ambiental e social sem necessidade de alteração estrutural no motor que move o sistema: a expansão contínua dos bens de produção e consumo e de seus sistemas culturais associados.

A segunda argumenta que o sistema já caiu pela impossibilidade material desta mesma reprodução. Afinal, a capacidade de reposição ecológica do planeta já é superada anualmente em 30%, num momento em que bilhões de pessoas sequer acessaram a chamada classe mundial de consumo. E como este promete ser o século dos países em desenvolvimento e dessa gente toda que estava aí excluída dos “benefícios” da globalização, restaria tomar a sério a questão imediata do porvir: se o objetivo propagado destes países é assegurar a seus cidadãos as mesmas condições de vida que há nos países ricos, e se é sabido de antemão que isto é materialmente impossível, como a humanidade resolverá então seu dilema de perpetuar-se garantindo oportunidades e condições de vida digna para todos, com respeito aos gigantescos patrimônios ambientais e culturais do planeta?

A disputa é travada no momento em que 1,2 bilhão de pessoas são jovens e têm entre 15 e 24 anos.

Segundo estimativas do último Relatório das Nações Unidas para a Juventude – oportunamente dedicado às mudanças climáticas –, praticamente uma em cada cinco pessoas vivas hoje no planeta é jovem e tem entre 15 e 24 anos. Deste total, a vasta maioria – pouco mais de um bilhão –, vive em países em desenvolvimento, e 760 milhões estão em países da Ásia e da África, onde pelo menos um terço da população ganha menos de US$ 2 por dia. Estão, portanto, apartados do sistema de consumo. E respondem por 40% do desemprego global, embora sejam 25% da força produtiva.

As conclusões do relatório da ONU não são animadoras. Começam pelo reconhecimento da não efetivação dos quatro objetivos destacados pela Agenda 21, na Rio 92, para garantir aos jovens canais de participação nos sistemas de decisão pertinentes às mudanças climáticas, embora seja determinante a resposta que vão dar a este dilema.

Afinal, a idade aqui não é propriamente o mais relevante. O decisivo é o que define este momento precioso da vida: gente entre a infância e a vida adulta, que vislumbra uma carreira, um norte de atuação pelo trabalho e a formação possível para encaminhá-la. Que já tem certa independência financeira, mas ainda é experimental em seu comportamento, influenciando simultaneamente os dois lados da pirâmide: os mais jovens e os mais velhos. E que responderá pela condução deste mesmo debate, num futuro muito próximo, tão logo passe a ocupar a liderança organizacional em todos os seus níveis: governos, empresas e terceiro setor.

Ouvir o jovem, portanto, é fundamental. E empoderá-lo pode levar a caminhos promissores, a depender dos resultados de estudos que situam a juventude diante deste desafio.

Um deles é a reveladora pesquisa Sonho Brasileiro, realizada pelo instituto BOX1824, que foi a 173 cidades em 23 Estados perguntar a jovens de 18 a 24 anos por seus sonhos. Segundo o estudo, nada menos que 91% dos jovens brasileiros acreditam que hoje as pessoas consomem mais do que precisam, e 67% concordam que é possível transformar uma comunidade sem ser a partir do dinheiro. Mais do que isso, 74% dizem ter vontade de participar de projetos comunitários, e apenas 5% declaram ter o sonho de ficar ricas.

A bola está quicando, e pode ser que este jovem a pegue.

* Vinicius Carvalho é jornalista e colaborador da coluna Cultura e Juventude.

** Publicado originalmente no site da revista Carta Capital.