Europa não gera uma quantidade suficiente de empresas inovadoras que crescem rápido e se tornam grandes. Foto: David Parkins

Além de uma crise do euro, a Europa tem uma crise de crescimento. Isto acontece graças à inabilidade crônica do continente para encorajar empreendedores ambiciosos.

Dados revelam que a Europa continental tem um problema com a criação de novos negócios com altas chances de crescimento. De acordo com o Global Entrepreneurship Monitor, que compila dados que podem ser comparados entre países, em 2010, empreendedores em “estágio inicial” totalizavam apenas 2,3% da população adulta da Itália, 4,2% da Alemanha e 5,8% da França. Os países europeus contam com, proporcionalmente, menos empreendedores – em muitos casos com muito menos – do que os Estados Unidos (7,6% da população adulta), China (14%) e Brasil (17%).

Pouco numerosos, os empreendedores europeus não encaram seus prospectos com otimismo. Um estudo do ano passado da Ernst & Young, uma empresa de auditoria, mostrou que os empreendedores alemães, italianos e franceses sentiam-se muito menos confiantes em relação às condições de empreendedorismo dos seus próprios países. Pouquíssimos empreendedores franceses afirmaram que o seu país oferecia o melhor ambiente; 60% dos brasileiros, 42% dos japoneses e 70% dos canadenses responderam que as suas pátrias eram os melhores países para a prática da atividade empreendedora. Ao serem perguntados sobre quais cidades têm as melhores chances de criar o próximo Google ou Microsoft, os executivos que responderam à pesquisa da Ernst & Young apostataram em Xangai, São Francisco e Mumbai (ainda que Londres tenha ganhado alguns votos).

Apesar de criar várias mercearias, salões de beleza e afins, a Europa não gera uma quantidade suficiente de empresas inovadoras que crescem rápido e se tornam grandes. Em 2003, em uma análise da lacuna empreendedora europeia, a Comissão Europeia citou um estudo que revelava que, na década de 1990, 19% das empresas de médio porte norte-americanas eram classificadas como de crescimento rápido, contra uma média de apenas 4% em seis países da União Europeia. A Kauffman Foundation, que promove o empreendedorismo pelo mundo, argumenta de maneira convincente que uma razão de os Estados Unidos terem superado a Europa na geração de empregos é sua capacidade de produzir empresas novas de crescimento rápido tal como a Amazon, uma varejista online, ou a eBay, um site de leilões. E, em termos de empregos, empresas novas e pequenas têm a vantagem adicional de serem menos propensas do que suas congêneres de maior porte a terceirizar boa parte de seus empregos para fornecedores baratos da Ásia.

A fim de tentar descobrir o que desestimula os empreendedores, a Comissão analisou, no ano passado, os regimes de insolvência e descobriu que muitos países tratam empreendedores que vão à falência mais ou menos como estelionatários, ainda que apenas uma pequena parcela de falências envolva qualquer tipo de fraude. Alguns países mantêm empreendedores que faliram em um limbo por muitos anos. A Inglaterra perdoará as dívidas de um empresário que foi à falência após 12 meses; o mesmo processo acontece mais rapidamente nos Estados Unidos. Na Alemanha, as pessoas esperam seis meses para conseguir limpar o seu nome; na França espera-se que o processo leve nove anos. Na Alemanha, empresários falidos podem ter que enfrentar uma proibição vitalícia de ocupar cargos de alto escalão em empresas de grande porte.

E os empreendedores europeus têm dificuldade para manejar as principais armas do empreendedor: as opções de ações e cotas gratuitas que tornam as empresas iniciantes atraentes para os profissionais. A complexidade legal de conceder cotas gratuitas a novos contratados é proibitiva, afirma um empreendedor que atualmente está tentando contratar um funcionário do Google, que frequentemente distribui ações a seus funcionários. Todos o aconselham a não fazê-lo, afirma. Isto limita mais ainda as possibilidades que um empreendedor tem de convencer pessoas a darem uma guinada em sua carreira.

* Publicado originalmente no jornal The Economist e retirado do site Opinião e Notícia.