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Líbios devem decidir seu próprio futuro

Fortune Charumbira. Foto: Saaleha Bamjee/IPS

Midrand, África do Sul, 13/10/2011 – A União Africana (UA) deve liderar os esforços para conseguir a reconciliação na Líbia e para que seja assinado um acordo de unidade entre as forças ainda leais a Muammar Gadafi e o Conselho Nacional de Transição. Somente isto, e não a intervenção internacional, prepararia o caminho para a paz e a estabilidade nesse país, concluiu o Parlamento Pan-Africano (PAP), reunido nesta cidade sul-africana.

O PAP, órgão legislativo da UA, adotou a recomendação ontem, depois de receber um informe sobre como a intervenção militar na Líbia teria causado baixas civis e danos na infraestrutura, além de ter ameaçado o futuro do país. Os legisladores do continente estão reunidos em Midrand, entre os dias 3 e 14 deste mês.

“É imperativo que os cidadãos líbios decidam seu futuro de forma democrática”, disse o presidente do PAP, Fortune Charumbira, do Zimbábue. Este legislador liderou uma delegação investigadora do órgão enviada à capital da Líbia, Trípoli, depois da intervenção da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) nesse país, que levou à saída de Gadafi e ao estabelecimento do Conselho Nacional de Transição como governo provisório.

Ao apresentar o informe, Charumbira pediu o imediato fim da guerra na Líbia e recomendou que o país continue sendo um Estado soberano com um governo de unidade, afirmando que a União Africana deveria liderar esse esforço. Este relatório mostra que a situação no terreno continua se agravando diariamente nos dois lados “Hoje os líbios lutam e matam entre si. Isto pode ser visto como uma guerra civil. Propriedades privadas e públicas são destruídas. Os africanos negros estão sendo confundidos com mercenários, são torturados e assassinados”, afirmou o legislador.

“O fato é que a Otan se desviou do objetivo traçado pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) de proteger civis, e em lugar disso matou centenas de milhares nesses ataques”, alertou Charumbira.

O parlamentar pan-africano Ahmed Reza Issack, de Mauricio, que acompanhou a delegação à Líbia, disse à IPS que “ali o medo é palpável”. O que “está acontecendo agora na Líbia é o que aconteceu no Iraque e no Afeganistão. Quando há uma intervenção estrangeira, há um desastre. Na Tunísia e no Egito o povo se levantou e se manteve por si mesmo. Não precisou de ajuda estrangeira”, ressaltou. “É necessário deixar o país ao seu próprio povo. A Líbia para os líbios. As ações da Otan causaram grande insegurança. Conhecemos uma mãe que perdeu sua filha: o bombardeio assustou tanto a menina que morreu de ataque cardíaco enquanto estava escondida no banheiro”, contou Issack.

Churumbira acrescentou que a UA precisa ter um enfoque unificado. “É de grande preocupação que, apesar dos enormes desafios que o continente enfrenta, a União Africana careça de um foco unificado”, afirmou. Além disso, referiu-se ao fato de o bloco ter reconhecido muito tarde o Conselho Nacional de Transição como a autoridade legítima na Líbia junto à ONU, só depois que alguns países africanos o fizeram.

“Assim, não é surpreendente que a União Africana tenha ficado marginalizada pelos Estados-membros das Nações Unidas quanto ao conflito na Líbia”, afirmou Charumbira. Para ele, o futuro dos líbios é incerto. “O primeiro desafio do Conselho Nacional de Transição é estabelecer a lei e a ordem no país, sobretudo em Trípoli. Uma grande preocupação é que haja uma proliferação de pequenas armas, podendo criar futuros problemas, pois há pessoas que querem se vingar da morte de familiares ou amigos. A reconciliação será muito importante para se avançar”, ressaltou Charumbira. Envolverde/IPS