Empresas que incluem em sua contabilidade os ganhos sociais e ambientais podem contabilizar bons lucros e ser um modelo para novos negócios.
A humanidade experimentou diversas formas de se organizar para um convívio civilizado. Na virada do século, depois de lutas – conceituais ou sangrentas – o capitalismo ganhou a predominância, tanto no Ocidente, quanto no Oriente. Uma sociedade global pautada em negócios e busca incessante de lucros se consolidou sem, contudo, resolver grandes desafios como a fome, a pobreza e o desrespeito aos direitos humanos. Será que o capital pode ser colocado a serviço das transformações humanitárias necessárias? As empresas sociais provam que sim.
Nascido do próprio sistema capitalista, o conceito de Negócio Social alia a lógica de mercado e sua eficiência geradora de êxito econômico à resolução de problemas atuais. Este novo setor se fortaleceu em 2006, com a concessão do Prêmio Nobel da Paz a Muhammad Yunus, criador do Grameen Bank de microcrédito para pessoas pobres, sem acesso ao sistema financeiro convencional.
“Atender uma população excluída do mercado tradicional, ajudando a combater a pobreza e diminuir a desigualdade socioeconômica, é a base de toda empresa social”, explica Maure Pessanha, diretora executiva da Artemisia, instituição que difunde esta visão e concede, anualmente, assessoria e capital para iniciativas com este potencial, já tendo apoiado 92 empreendimentos no mundo todo, 67 deles no Brasil.
Entre eles, está, por exemplo, a Sementes de Paz, fundada por Omar Haddad. Pautada em comércio justo e transparência, a empresa começou suas atividades há três anos, com uma Kombi velha e menos de R$ 20 mil. Hoje, eles já abraçam uma meta anual de R$ 1 milhão, visando a triplicar sua base de clientes. De 150 casas que recebem produtos orgânicos, diretamente de seus produtores, querem passar para 485 pontos de entrega, alcançando escolas e empresas também.
A diferença para uma intermediação comum está na total publicidade de todos os números envolvidos. A própria lista de preços das mercadorias detalha quanto do valor cobrado se destina ao fornecedor, quanto é retido de impostos e a porcentagem para o frete e a organização da venda. “Com esta informação, todos acompanham os ganhos de cada envolvido e isto, por si só, coíbe abusos e injustiças”, explica Haddad que, desta forma, evita os problemas crônicos associados à figura dos atravessadores.
Ele sempre sonhou em promover uma transformação social e sempre fez questão de ter acesso a toda informação e participar das tomadas de decisão em relação ao trabalho em que se envolve. Com a Sementes, iniciada após atuar em programas sociais, estruturar cooperativas de trabalhadores junto a populações carentes e integrar um grupo de consumo, ele alcançou, junto com seu irmão Guilhermo, seu sócio investidor, dois objetivos principais: fornecer alimentos de qualidade a preços justos para famílias urbanas e valorizar o trabalho de quem está no campo.
Os princípios do Negócio Social são respeitados também dentro de casa. Assim, os salários praticados pela empresa de pequeno porte são de conhecimento de todos os funcionários e a administração acontece de forma inclusiva e cooperativa. “Todo colaborador tem a chance de se tornar dono do negócio, recebendo sua parcela de cotas. Dividimos ganhos, riscos e responsabilidades, na prática”, enfatiza Haddad, que desenvolveu suas habilidades de planejamento estratégico e gestão graças à formação e bolsa concedidas pela Artemisia.
Outro exemplo de Negócio Social de sucesso, apoiado por este programa, é o Banco Pérola, fundado por Alessandra França em 2009, com apenas 23 anos, inspirada pelo exemplo de Yunus. Dedicada ao microcrédito para jovens brasileiros, a iniciativa está em fase de expansão para 300 clientes, um aumento de quase 1000% da carteira em um ano e já se tornou correspondente de microcrédito da Caixa Econômica Federal, em Sorocaba.
“As empresas sociais no Brasil ainda são start up. Então, se olharmos só para o resultado financeiro delas, este pode não ser expressivo ainda. Mas se somarmos os benefícios sociais que estão sendo criados, os resultados ganham um vulto bem maior”, destaca Carolina Pereira, gerente de comunicação e marketing da Artemisia. (Envolverde)