Antananarivo, Madagascar, 18/7/2012 – Toda sexta-feira, mães e filhos se reúnem no centro comunitário de nutrição da pequena aldeia de Rantolava, a 450 quilômetros da capital de Madagascar, para aprender a ter uma dieta saudável. O dia começa com pesagem das crianças para avaliar seu desenvolvimento. Depois há uma demonstração de culinária. A facilitadora do painel ensina as mães a preparar um prato de batata doce com leite. Logo o projeto matinal se transforma em um saboroso desjejum compartilhado por todos os pequenos.
Estes painéis semanais são parte do Programa Nacional de Nutrição Comunitária, implantado em seis mil centros de todo o país. Madagascar é um dos seis países com maior prevalência mundial de desnutrição metade de todas as crianças menores de cinco anos nesta grande nação insular africana sofre desnutrição crônica, e diversificar sua dieta é um elemento fundamental do programa nacional.
Jean Serge Rambeloson trabalha para o Escritório Nacional de Nutrição (ONN) de Madagascar, que controla o programa em locais como Rantolava. O objetivo da demonstração de culinária é passar às mães receitas que as ajudem a variar a dieta de seus filhos, além de conselhos sobre como preservar os alimentos, explicou à IPS. “Por exemplo, ensinamos a fazer farinha a partir de produtos localmente disponíveis”, acrescentou.
Com o objetivo de dar à população acesso a uma variedade mais ampla de alimentos, o programa também criou um plano para popularizar novos cultivos. Em Rantolava, o centro de nutrição tem uma área reservada para cultivar várias verduras. “Plantamos abobrinha, tomate, repolho, moringa, batata doce, fava verde e repolho chinês”, contou Viviane Vaviaby, responsável pela horta do centro.
Um trabalhador de extensão explica como cultivar cada um destes alimentos. “As pessoas daqui estão acostumadas a comer arroz. É importante aprenderem a variar sua dieta, e de seus filhos, com base nos produtos locais”, ressaltou Angelo Tiandrazana, coordenador regional do ONN. “A desnutrição crônica não é apenas uma questão de acesso a alimentos suficientes, mas também de variedade”, afirmou Stephen Lauwerier, representante residente em Madagascar do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), à IPS.
Ao contrário da desnutrição severa, que se torna evidente com uma drástica perda de peso, os efeitos da desnutrição crônica se revelam de modo mais sutil, atrasando o crescimento. Os pais podem não perceber a seriedade do problema que afeta seus filhas quando muitas outras crianças da mesma idade também são pequenas.
Toky Raharimanana é o médico-chefe do Centro de Saúde Básica em Mahambo, uma comunidade vizinha a Rantolava. “As crianças desnutridas são pequenas e se desenvolvem fisicamente depois daquelas melhor alimentadas. Também são mais frágeis e mais suscetíveis a doenças (como diarreia ou malária) do que as demais crianças. Seu desenvolvimento cognitivo é limitado e não têm bom desempenho escolar”, explicou.
O atraso no desenvolvimento físico também pode ter consequências de mais longo prazo, com na hora de ter seus próprios filhos. Por exemplo a Pesquisa Demográfica de Saúde 2008-2009 de Madagascar mostrou que as mulheres cuja complexão é pequena devido à desnutrição crônica sofrida na infância correm um risco adicional de complicações durante a gravidez e o trabalho de parto.
A diversificação das dietas infantis não é em si mesma uma solução para a desnutrição crônica neste país. Segundo o Unicef, também é importante melhorar o acesso a água limpa, saneamento e cuidados com a saúde, para reduzir a incidência de gravidez e casamentos precoces, e para melhorar a nutrição de adolescentes mulheres, particularmente as grávidas e durante a amamentação.
A desnutrição crônica é um problema da pobreza e exige atenção do governo e de seus sócios para o desenvolvimento, alertou Lauwerier. “A desnutrição crônica não se vê, é uma crise silenciosa”, afirmou. “É um dos maiores problemas de Madagascar. Quando uma criança é mal alimentada no longo prazo, seu cérebro não se desenvolve adequadamente, o que tem impacto no desenvolvimento geral dessa criança e no futuro do país”, enfatizou. Envolverde/IPS