A unidade brasileira da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou na terça-feira 25 um estudo que traça o perfil dos atores envolvidos no trabalho escravo no País: funcionários resgatados, empregadores e aliciadores. Segundo o levantamento, dos 121 trabalhadores em situação análoga à escravidão libertados em dez fazendas do Pará, Mato Grosso, Bahia e Goiás entre 2006 e 2007, 18,3% eram analfabetos, 45% analfabetos funcionais e 52,9% homens com menos de 30 anos de idade. Além disso, 81% não eram brancos, sendo 18,2% negros, 62% pardos e 0,8% indígenas.
Um perfil semelhante aos aliciadores, mas oposto ao dos 12 empregadores entrevistados pelo estudo e envolvidos nos casos de exploração acima. Destes, nove possuíam ensino superior completo em áreas como agricultura e administração, além de dois indivíduos com mestrado.
A origem da maioria dos empregadores também é diferente da localização de suas terras: nove são do Sul e Sudeste e os demais do Norte. Porém, 59% deles vivem no mesmo estado de suas propriedades.
As fazendas do estudo, a maioria focada em agricultura e pecuária, foram flagradas utilizando trabalho escravo em vistorias apesar de desempenharem atividade econômica relevante. Nos locais não havia alojamentos adequados ou fonte de água potável.
Uma das fazendas tinha uma criação de 5 mil cabeças de gado e outra está entre os dez melhores criadores de gado Nelore do Brasil, segundo a OIT.
Noção de escravidão
De acordo com a pesquisa, os trabalhadores resgatados entendiam como trabalho escravo a ausência de remuneração ou salários baixos (38,8%), maus tratos, humilhação e jornada exaustiva (36,3%), condições precárias de trabalho (28,9%), privação da liberdade (24,7%) e a ausência de carteira assinada (apenas 4,1%).
Na visão dos empregadores, a escravidão contemporânea é caracterizada pela privação da liberdade, ausência de pagamento, condições precárias de trabalho e jornada exaustiva. No entanto, todos os aliciadores das fazendas vistoriadas negaram a existência de trabalho escravo nas propriedades.
Os “gatos” eram responsáveis por 52% das contratações, embora 71% dos empregados resgatados nunca tivessem trabalhado com o contratante e 57% nem o conhecessem. Além disso, o estudo mostrou que 59,7% dos entrevistados já haviam passado por privação da liberdade pelo menos uma vez na vida.
Apesar da complexidade do problema, a OIT afirma que o Brasil é considerado um dos países com maior avanço no combate ao trabalho escravo, tendo libertado mais de 40 mil trabalhadores nesta condição desde 1995. Segundo a entidade, o País é visto como uma referência mundial “devido à capacidade de articulação entre o governo, a sociedade civil, o setor privado e organismos internacionais”.
*publicado originalmente na Carta Capital.