Este ano, uma pesquisa publicada pela revista Nature Neuroscience demonstrou que o volume da amígdala, uma das principais regiões cerebrais associadas ao processamento de emoções, é maior entre pessoas que têm maiores redes sociais reais. Logo em seguida, outro grupo de pesquisadores fez outra pergunta: será que a quantidade de amigos que uma pessoa tem no facebook também tem alguma relação com a anatomia do seu cérebro?
Cento e vinte e cinco universitários ingleses com 23 anos em média, todos eles vinculados à rede facebook, foram submetidos a exames de ressonância magnética. As imagens do cérebro foram analisadas com uma técnica especial que mede o tamanho das regiões de interesse – morfometria baseada em voxels.
Os resultados apontaram que, quanto maior o número de amigos no facebook, maior o volume de algumas regiões do cérebro. Uma dessas regiões é a própria amígdala, já apontada no estudo anterior como sendo maior entre indivíduos com uma maior rede social de “carne e osso”. Outras estruturas do lobo temporal também se mostraram mais volumosas, algumas delas ligadas à memória e à capacidade de associar informações – ligar o nome à imagem da pessoa –, enquanto outras são associadas a funções como a habilidade de perceber a intenção do outro e de notar que estamos sendo observados.
Os pesquisadores investigaram também se o tamanho da rede de amigos online era proporcional à rede real. Um questionário de três perguntas foi aplicado para estimar o tamanho da rede real: 1) quantas pessoas lhe enviariam uma mensagem convidando para uma comemoração? 2) qual o número de pessoas na sua lista de telefones? 3) quantos amigos da época de escola ou faculdade que você ainda pode ter uma conversa amigável? As respostas indicaram que as redes do facebook e do mundo real eram proporcionais.
Uma questão que a pesquisa não pôde responder é se as características do cérebro são causa ou consequência da experiência social. É fresquinho porque vende mais ou vende mais porque é fresquinho?
O estudo foi publicado pelo periódico Proceedings of the Royal Society.
* A última edição da Science traz um estudo mostrando que macacos que convivem em grupos maiores também apresentam maior volume da substância cinzenta em diversas áreas cerebrais, incluindo a região temporal. Mais uma evidência de que o cérebro é uma grande ferramenta social.
** Ricardo Teixeira é doutor em Neurologia e pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Dirige o Instituto do Cérebro de Brasília.
*** Publicado originalmente no blog do autor ConsCiência no Dia-a-Dia