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Mais pequenas e médias empresas para desenvolver o Sul

Madri, Espanha, 26/10/2012 – O desenvolvimento econômico na África e na América Latina está recebendo um forte impulso das pequenas e médias empresas, tanto das constituídas em seus países como das espanholas que expandem suas atividades aos seus territórios. Um exemplo são os negócios das espanholas Ilhas Canárias, na costa ocidental da África. Mais de 160 dessas empresas do arquipélago se estabeleceram com o continente vizinho e exportam para o mesmo 240 milhões de euros anuais, segundo a Câmara de Comércio de Santa Cruz de Tenerife, capital canária.

As pequenas e médias empresas comercializam em 44 dos 55 países africanos, em um setor em dinâmica expansão. Em 2011, por exemplo, exportaram 20% mais do que em 2010, com um total de 16.317 operações. Uma aliança estratégica dessas empresas da África e da Iberoamérica é vital para enfrentar a atual crise global, disse à IPS o catedrático Francisco Javier Martínez García, diretor da espanhola Fundação para a Análise Estratégica e o Desenvolvimento das Pequenas e Médias Empresas, com presença em vários países latino-americanos.

García interveio no Encontro de Pequenas e Médias Empresas da Iberoamérica e do Norte da África, realizada no dia 22 em Madri. Do encontro participaram personalidades de Argélia, Líbia, Marrocos e Tunísia, pela África; Argentina, Colômbia, Equador, México, Peru, República Dominicana e Uruguai, pela América Latina, e Espanha, Itália e Portugal pela Europa. Também estiveram presentes representantes de organismos internacionais.

O acadêmico destacou que as pequenas e médias empresas são vitais para a economia e o desenvolvimento, porque são as empresas mais numerosas e as que geram maior emprego e riqueza. Os participantes coincidiram quanto a destacar que na América Latina esse tipo de empresa é uma base indiscutível para o desenvolvimento econômico e social regional, já que geram entre 25% e 40% dos empregos e entre 15% e 25% da produção total de bens e serviços.

No encontro, o secretário-geral da Comunidade Ibero-Americana de Nações, o uruguaio Enrique Iglesias, afirmou que, além do mais, é nas pequenas e médias empresas que estão 90% das oportunidades de trabalho para os jovens no grupo integrado pelos países de fala hispânica e portuguesa da América e Europa. Por isso, destacou ser importante que essas empresas espanholas e portuguesas se associem e coordenem ações com as latino-americanas, para melhorar a eficiência, produtividade e efetividade destas companhias de um e do outro lado do Atlântico.

Este objetivo será destacado na Cúpula Ibero-Americana que acontecerá na cidade espanhola de Cádiz, nos dias 16 e 17 de novembro, durante a qual será aprovada a Carta Ibero-Americana, dedicada ao desenvolvimento das pequenas e médias empresas e à cooperação entre elas dentro do grupo de 22 países. O padre católico Ángel García, presidente e fundador da ONG Mensageiros da Paz, disse à IPS que “é cada vez maior a implicação dessas empresas espanholas em projetos sociais, tanto em cooperação para o desenvolvimento no estrangeiro, quanto em iniciativas sociais na Espanha”.

“Nos últimos anos, no entorno das ONGs, em geral, e na Mensageiros da Paz, em particular, vimos com grande satisfação que nossas pequenas e médias empresas assumem a responsabilidade social corporativa como uma prática empresarial generalizada, entendendo-a como uma parte a mais da atividade da organização”, afirmou o padre. Por isto, considerou que é “mais bonito trabalhar em cooperação em projetos que contem com a colaboração de uma empresa pequena ou média do que fazê-lo com uma companhia grande ou mesmo multinacional”.

Lázaro Bustince, diretor da Fundação Sul, com 40 anos de trabalho na África, disse à IPS que o papel dessas empresas no impulso ao desenvolvimento desse continente “é, em princípio, simplesmente fundamental e o mais urgente”. Também alertou que, “se a entendemos dentro do sistema capitalista neoliberal, estarão manipuladas pelos grandes investidores que se beneficiam à custa da maioria”.

Mauricio de María Campos, catedrático da Universidade do México, afirmou que nas pequenas e médias empresas pode estar a resposta para um dos grandes problemas atuais da economia latino-americana, que é a “desindustrialização”. Recordou que, há 20 anos, a indústria contribuía com 23% da renda, e atualmente esta caiu para 16% na região. Isto é consequência da priorização das exportações de matérias-primas por sua alta demanda em potências emergentes como China e Índia, o que acaba gerando uma falta de financiamento para máquinas e desenvolvimento tecnológico que afeta as pequenas e médias empresas.

Campos destacou que desse comportamento se salvam Brasil e Chile, onde essas empresas continuam crescendo, enquanto em países como Argentina e México diminuem sua contribuição para o desenvolvimento industrial. Por esta razão, considerou que os latino-americanos devem buscar novas medidas, “em especial dar maior acesso aos mercados e às redes locais, às novas tecnologias da informação e promover os jovens empreendedores”, com as pequenas e médias empresas como grande ferramenta.

Também pediu que sejam considerados os elementos mais importantes para o desenvolvimento: “cooperação, alianças fortes dos principais atores e coordenação entre os governos, empresas e universidades”. Saad Hamoumi, presidente da Comissão de Pequenas e Médias Empresas da Confederação Empresarial do Marrocos, destacou que, nos países do Magreb, há uma grande oportunidade para os investimentos estrangeiros e para mobilizar os talentos locais e impulsionar a produção. Envolverde/IPS