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Mais sanções contra o Irã pode ser tiro pela culatra

Washington, Estados Unidos, 12/8/2011 – Uma nova iniciativa no Congresso dos Estados Unidos para sancionar o Banco Central do Irã busca reduzir os ganhos com petróleo desse país, mas pode acabar sendo um tiro pela culatra e prejudicar a economia mundial. No dia 9, o The Wall Street Journal divulgou uma carta endereçada à Casa Branca, assinada por 92 senadores, cobrando do presidente Barack Obama a adoção de restrições às atividades dessa instituição iraniana como parte de uma estratégia para “paralisar” Teerã.

Uma cópia da carta, obtida ontem pela IPS, diz que o Banco “situa-se no centro” dos esforços do Irã para evitar as sanções já impostas pelos Estados Unidos e por outros países. Limitar as atividades do Banco Central iraniano criaria mais obstáculos a Teerã em suas tentativas de conseguir capital para suas exportações de petróleo. Especialistas disseram à IPS que a intenção não é limitar as vendas iranianas de petróleo, o que poderia causar um aumento nos preços mundiais e, em última instância, ajudaria a economia do Irã, dependente do petróleo, sem dificultar seu comércio em geral.

“Se isto continuar, os grandes compradores de petróleo poderão espremer o Irã”, disse Kevan Harris, sociólogo da Universidade Johns Hopkins e estudioso da economia iraniana. “Trata-se de mover o mercado para ter menos compradores” do petróleo iraniano, acrescentou, por sua vez, Mark Dubowit, diretor do Projeto de Energia do Irã na Fundação para a Defesa das Democracias, centro de estudos com sede em Washington que fornece informação a funcionários do Congresso para elaboração das sanções. Dubowitz disse que pessoalmente preferiria, em lugar de proibir os negócios com o Banco Central iraniano, impedir determinadas transações que, segundo ele, facilitam o programa de desenvolvimento nuclear de Teerã e apoiam o terrorismo. Além disso, chamou o Senado a iniciar uma “negociação” com o governo de Obama para adotar mais sanções contra a República Islâmica.

Em junho, a administração indicou que não procurava uma nova legislação com mais castigos para o Irã e preferia limitar-se às medidas já em vigor. De todo modo, a Casa Branca pode adotar sanções mediante uma ordem executiva. O senador Mark Kirk, do opositor Partido Republicano e um dos principais incentivadores da carta, disse ao The Wall Street Journal que apresentaria um projeto de lei para sancionar o Banco Central iraniano se o governo de Obama não agir até o final deste ano. “A administração enfrentará o dilema de liderar este esforço ou se ver obrigada a agir”, afirmou Kirk. A iniciativa acontece quando ficam mais fortes as vozes dos “falcões” (ala mais belicista em Washington), questionando as atuais sanções e sugerindo que a via militar poderia ser necessária para deter os progressos do Irã em seu programa atômico. A administração de Obama não descarta a “opção militar”, apesar de destacar que prefere as sanções econômicas.

A carta do Senado, que também teve forte apoio de Chuck Schumer, do governante Partido Democrata, foi aplaudida pelo Comitê de Assuntos Públicos Norte-Americano-Israelenses, influente grupo de pressão judeu que considera uma prioridade deter o plano nuclear iraniano. Em entrevista coletiva o grupo afirmou: “Exortamos o governo a atender o chamado dos senadores no sentido de sancionar o Banco Central do Irã, que é o que mantém Teerã em contato com o sistema financeiro internacional. Sancioná-lo seria um golpe importante contra o regime que limitaria severamente sua capacidade de levar adiante um comércio internacional e de financiar atividades ilegais”, acrescentou. A IPS não conseguiu entrar em contato ontem com representantes do grupo para obter mais informações a respeito.

Contudo, sancionar o Banco Central do Irã acabaria por afetar a população do país, algo que o governo de Obama diz querer evitar, e minaria o crescente consenso internacional contra o programa atômico. Também poderia disparar os preços do petróleo em um momento em que a economia global cambaleia à beira de uma segunda recessão. “Especialistas em direito internacional consideram que isto equivaleria a uma declaração de guerra”, disse Trita Parsi, presidente do Conselho Nacional Iraniano-Norte-Americano. Por sua vez, Harris concorda que sancionar o Banco Central do Irã poderia derivar em uma “guerra econômica”. Envolverde/IPS