Novo estudo do Centro Internacional de Pesquisa Florestal compara manejo comunitário a áreas de proteção florestal e indica que a primeira opção pode ser mais eficiente para prevenir degradação ambiental e manter a vegetação em pé.
Por muito tempo acreditou-se que a melhor maneira de conservar uma floresta era isolá-la do contato com o ser humano, e o manejo florestal era visto com desconfiança pelos que queriam preservar a natureza. Mas um novo estudo do Centro Internacional de Pesquisa Florestal (CIFOR) revela que a gestão florestal pode ser tão ou mais eficaz que as áreas de proteção para conservar a vegetação. Isso pode ser um novo incentivo para os projetos de REDD, que se baseiam na ideia de aliar a preservação ambiental à sobrevivência das comunidades.
A nova pesquisa do CIFOR, publicada no jornal Forest Ecology and Management, analisou 40 áreas de proteção e 33 comunidades florestais em 16 países – 11 na América Latina, três na África e dois na Ásia – e descobriu que as áreas protegidas perdiam cerca de 1,47% de cobertura florestal por ano, enquanto os bosques geridos pelas comunidades tinham uma perda de cerca de 0,24% ao ano.
“Nossas descobertas sugerem que uma floresta guardada por uma cerca e designada como ‘protegida’ não necessariamente terá sua extensão mantida em longo prazo, se comparada a florestas administradas por comunidades locais – na verdade, as primeiras perdem muito mais”, declarou Manuel Guariguata, cientista do CIFOR e um dos coautores do relatório.
Além disso, o relatório também aponta que o número de regiões onde havia um aumento da cobertura florestal era maior nas áreas de manejo florestal comunitário (CMF) do que nas regiões de proteção. Nas 33 áreas de CMF observadas, 20 delas, ou 60,6%, estavam sendo regeneradas, enquanto nas regiões protegidas, das 40 analisadas, 19, ou 47,5%, eram recuperadas.
O estudo diz que a preservação das florestas pelas comunidades ocorre também em parte porque nem sempre as causas do desmatamento, como o aumento da população e a expansão agrícola, criam, de fato, impactos no meio ambiente. “Os ejidos, em Quintana Roo, no México, exemplificam como a manutenção da cobertura florestal em uma CMF pode ocorrer mesmo com a presença de pressões do desmatamento”.
Segundo os autores, nesta comunidade “os fatores de desmatamento como o desenvolvimento da infra-estrutura, o crescimento populacional, a expansão agrícola e os programas de desenvolvimento não necessariamente resultam em taxas anuais de desmatamento maiores, principalmente porque as comunidades têm trabalhado regras para manejar as áreas florestais”.
Para Guariguata, esse resultado pode ser muito positivo para os projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal e Manejo Sustentável (REDD+), já que indica que a participação comunitária na construção e na implementação dos projetos é de grande importância, o que é um conceito básico deste programa da ONU.
“Depois de décadas de expansão das áreas protegidas, a necessidade de incorporar as preocupações com os direitos humanos e a justiça nos objetivos de manejo é agora inquestionável. Os esquemas de REDD+ podem ser uma oportunidade de reconhecer o papel que as comunidades locais têm na redução do desmatamento”, explicou o coautor.
Esta não é a primeira pesquisa que relaciona o CMF a melhores níveis de conservação florestal. Ainda em agosto, um estudo dos cientistas Andrew Nelson e Kenneth M. Chomitz publicado no PLoS ONE apontava que regiões administradas por comunidades, sobretudo indígenas, tinham conservado 16% da floresta em oito anos, um índice mas eficaz do que o das áreas protegidas. O relatório do CIFOR, porém, inova ao indicar que esse processo é uma tendência mais ampla.
Além disso, dados preliminares de outro relatório do CIPOR indicam que comunidades que vivem perto de florestas recebem mais de 20% de sua renda familiar de recursos florestais. Isso sugere que é muito mais provável que as comunidades estabeleçam um manejo sustentável nos bosques se elas dependem destes para sobreviver.
“Quando feito apropriadamente, os benefícios do manejo comunitário podem ser vistos em longo prazo, levando a uma maior participação na conservação, na redução da pobreza, no aumento da produtividade econômica e na proteção de muitas espécies florestais”, esclareceu Guariguata.
Ainda de acordo com o estudo, florestas sob o CMF somam cerca de 8% do total de bosques manejados no mundo, e 20% das florestas da América Latina. “Esse número poderia aumentar agora que descobrimos que o manejo florestal comunitário pode levar a melhores resultados ambientais e de sustento do que as reservas convencionais”, afirmou Guariguata.
“No entanto, há assuntos específicos envolvendo direitos de posse, regulamentações governamentais e forças de mercado locais e internacionais que influenciam a possibilidade de resultados positivos para pessoas e florestas. Precisamos aprender como esses fatores interagem a fim de desenvolver intervenções políticas apropriadas”, acrescentou ele.
Ainda assim, o coautor da pesquisa ressalta que as áreas de proteção também são muito importantes para a preservação das florestas, e que todos estes mecanismos devem ser combinados. “Não estamos argumentando que os parques em áreas florestais tropicais são inúteis. Ao contrário, estamos argumentando que florestas manejadas por comunidades são uma peça-chave do pacote de conservação florestal”, concluiu Guariguata.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.