Mão forte contra a malária

Washington, Estados Unidos, 28/4/2011 – Quando terminar de ler este parágrafo uma menina ou um menino africano terá morrido de malária, em geral antes de completar os cinco anos. “A África já perdeu um milhão de pessoas em razão do HIV/aids”, disse Dikembe Mutombo, ex-jogador da NBA (a associação norte-americana de basquetebol), originário da República Democrática do Congo, que se dedicou a trabalhos humanitários.

“Perdemos muitos milhões mais por causa da malária. É toda uma geração de médicos, professores e futuros governantes. Isto tem de acabar já”, acrescentou durante teleconferência em um encontro organizado em Washington por ocasião do Dia Mundial Contra a Malária, celebrado no dia 25.

Mais de 225 milhões de pessoas se infectaram com o parasita e quase 800 mil morrem por ano, segundo as últimas estatísticas do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Das mortes, 90% ocorre na África, bebês e grávidas na maioria dos casos.

A Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), a Fundação Gates e a gigante farmacêutica GlaxoSmithKline estão à frente da luta contra a doença causada por um parasita transmitido pelo mosquito Anopheles. “Há cinco anos, a malária já matava quase um milhão de pessoas por ano, a maioria menores de idade”, disse Rajiv Shah, administrador da Usaid. “A doença custa ao continente africano US$ 12 bilhões anuais em perdas de produtividade. Atualmente, ajudamos a salvar quase 150 mil vidas ao ano”, acrescentou.

Os esforços para deter a epidemia melhoram rapidamente, disse Eric Tongren, coordenador entre o Centro para a Prevenção e o Controle de Enfermidades e a Iniciativa Presidencial Contra a Malária, dos Estados Unidos. Uma criança morre a cada 45 segundos na África por causa dessa doença, reconheceu.

Do que o continente destina à saúde, 40% é gasto anualmente no combate a uma doença que há tempos foi erradicada da maioria dos países ocidentais. Tongren lamentou a perda dos US$ 12 bilhões que a doença causa aos governos africanos, mas elogiou as diversas campanhas globais.

Uma das principais metas da luta contra a malária é prevenir a infecção de mãe para filho, o setor mais vulnerável da população. O Programa Integrado de Saúde Materno-Infantil pretende reduzir a mortalidade em 80% para cumprir dois dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, o quarto e o quinto, nesta década. As metas mencionadas objetivam reduzir a mortalidade materna em dois terços e a materna em três quartos, entre 1990 e 2015.

A malária mata mais crianças do que qualquer outra doença no mundo e é responsável por cerca de 8% dos falecimentos de bebês, disse a diretora do Programa Integrado, Koki Agarwal. A entidade conta com apoio da Iniciativa Presidencial Contra a Malária, um ambicioso plano de cinco anos do presidente Barack Obama, com orçamento de US$ 2 bilhões.

O Programa Integrado objetiva reduzir pela metade a quantidade de mortes nos 15 países mais afetados atendendo 85% da população em risco, especialmente com o uso de mosquiteiros tratados com inseticidas, de produtos com ação residual e ampla utilização de medicamentos antipaludismo. Mas não se fala do problema da resistência do mosquito Anopheles aos inseticidas usados para matá-lo.

A maioria dos mosquiteiros contém piretroide, a única substância química que demonstra efetividade nos mosquiteiros ao impedir que o mosquito se alimente durante a noite. Estes se adaptam rapidamente, seja mudando seu padrão de alimentação ou adquirindo resistência ao veneno.

“Uma considerável quantidade de estudos concluiu que, segundo a localização, entre 25% e 50% dos mosquitos são resistentes ao piretroide”, disse à IPS o pesquisador Stephen Buhner, morador no Novo México. “Alguns concluíram que os mosquitos não são afetados após uma hora e meia de exposição ao produto. De fato, demora três horas e meia para que morresse a metade” de uma amostra, disse Buhner. “É claro que se tornam resistentes muito rapidamente”, acrescentou.

Os mosquitos têm o que se chama sistema citocromo, que, segundo Buhner, lhes permite desativar o inseticida mesmo depois de ingerido e convertê-lo em um metabolito inócuo. “É o mesmo fenômeno observado na agricultura. Existem cerca de 500 pragas que se tornaram resistentes. É uma dinâmica inevitável”, acrescentou Buhner.

A Iniciativa de Pesquisa sobre Métodos Tradicionais Contra a Malária (Ritam) alerta para a importância de aproximar-se da medicina tradicional, especialmente no uso de alternativas à base de ervas em lugar de antibióticos cada vez mais resistentes.

A Ritam foi criada pela Iniciativa Global para Sistemas Tradicionais de Saúde, financiada pela Fundação Rockefeller e pela Divisão de Pesquisa de Doenças Tropicais da Organização Mundial da Saúde. A Ritam proporciona uma colaboração necessária entre profissionais, pesquisadores e médicos dedicados a recuperar enfoques tradicionais para prevenir e tratar a malária. Envolverde/IPS