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Marcha de Durban pede mudança radical

Durban, África do Sul, 5/12/2011 – Com ruidosos cantos, milhares de pessoas se reuniram no dia 3 nesta cidade e seguiram em direção à sede da cúpula das Nações Unidas sobre mudança climática para pedir “uma imediata e drástica” redução de emissões de carbono destinada a salvar o planeta. No Dia Mundial de Ação, manifestantes de organizações não governamentais nacionais e internacionais e de grupos de trabalhadores, mulheres, jovens, acadêmicos, religiosos e ecologistas uniram-se para fazer os governos do mundo ouvir a demanda de uma ação firme de combate à mudança climática.

Em Durban acontece desde o dia 28 de novembro, e termina no dia 9, a 17ª Conferência das Partes (COP 17) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUCC). “Pedimos uma mudança de 100%. Hoje nasce um poderoso movimento que desafia as nações ricas do mundo”, afirmou o integrante do comitê organizador do Dia Mundial de Ação, Desmond D’Sa. “Os dirigentes mundiais discutem a sorte de nosso planeta, mas estão longe de conseguir uma solução para a mudança climática”, acrescentou.

É hora de os negociadores ouvirem a voz das pessoas comuns, disseram os manifestantes, alguns carregando cartazes onde se lia “Nunca confie na COP 17”, “Unidos contra a mudança climática”, “Justiça climática já” e “Asseguremos a sobrevivência das futuras gerações”. Havia nas ruas o sentimento generalizado de que as pessoas comuns continuam excluídas de debates cruciais sobre assuntos que afetam suas vidas.

“Queremos que o 1% que está dentro da Conferência ouça o que têm a dizer os 99% que estão fora”, disse Bobby Peek, um dos organizadores do protesto e diretor da Amigos da Terra África. “Pedimos cortes imediatos e drásticos das emissões nos países ricos, que causaram a mudança climática”, acrescentou. Era palpável o descontentamento pelo lento progresso das negociações na primeira semana da COP 17, misturado com o medo de que o encontro termine sem resultados concretos. Peek disse estar muito decepcionado pelo estado das conversações. “Foi uma semana desastrosa. Não há sinais de progresso em metas” de redução das emissões que causam o aquecimento, acrescentou.

O diretor-executivo do Greenpeace, Kumi Naidoo, acusou os Estados Unidos por não ratificarem o Protocolo de Kyoto, único instrumento internacional obrigatório para reduzir a contaminação climática. “Isto não é um ensaio geral. Esta semana de beligerância, rixas e punhaladas pelas costas deve dar lugar a acordos reais sobre o futuro do planeta. os que não estão interessados em salvar vidas, economias e meio ambiente, como os Estados Unidos, devem se afastar e permitir o avanço dos que têm vontade política”, ressaltou Naidoo.

Uma ruidosa multidão de manifestantes se dirigiu desde o centro de Durban até a entrada do Centro Internacional de Convenções, onde acontece a COP 17, para entregar à secretária-executiva da CMNUCC, a costarriquenha Christiana Figueres, uma lista com todos os pontos que os governos deveriam conseguir antes de terminar a reunião, reproduzidos a seguir.

• Assegurar que o ponto mais alto de emissões mundiais de gases-estufa seja alcançado em 2015; • Prorrogar o Protocolo de Kyoto e garantir que contenha um mandato para estabelecer um amplo instrumento legalmente obrigatório; • Entregar o financiamento necessário para enfrentar a mudança climática; • Estabelecer um contexto de proteção para as florestas dos países em desenvolvimento; • Assegurar a cooperação mundial em matéria de tecnologia e financiamento energético; • Garantir um sistema internacional transparente para medir e fiscalizar os compromissos e as ações nacionais.

Os ativistas criticaram as nações ricas e industrializadass por usarem a crise econômica mundial como desculpa para dar prioridade aos interesses nacionais sobre os internacionais. Após uma semana de conversações, segue-se sem saber como serão obtidos os recursos para financiar projetos de mitigação e adaptação, particularmente cruciais para os países pobres.

“No momento, não sabemos de onde virá o dinheiro. há um verdadeiro risco de deixarmos Durban com os bolsos vazios. E este fracasso será medido em vidas, economias e habitats”, alertou o coordenador de política climática do Greenpeace, Tove Ryding. “Se os governos não avançam, o acordo final estará desprovido de toda capacidade de proteger o clima”, acrescentou. A marcha do dia 3 interpela especialmente os ministros e chefes de Estado e de governo que começam a chegar a partir de hoje para a COP 17.

“Não podemos continuar falando e perdendo tempo. Estamos nos manifestando para demonstrar nossa indignação. Queremos deixar uma mensagem clara aos ministros: não podem continuar colocando pretextos”, disse Harjeet Singh, coordenador da ActionAid International. Envolverde/IPS