Mercosul: desafios e oportunidades

Chávez durante entrevista coletiva no dia 9. Foto: Juan Barreto/AFP

Alguns pessimistas e críticos não concordam com o ingresso da Venezuela no Mercosul. No entanto, é mais do que necessário relembrar uma importante passagem de nossa política internacional.

Em novembro de 2005, ocorria a 4ª Cúpula das Américas. Naquele momento, um dos maiores objetivos, particularmente dos Estados Unidos, era pôr em prática a Área de Livre Comércio das Américas, a Alca, ou seja, desenvolver acordos de livre comércio que beneficiavam pouquíssimos setores deste enorme continente. No entanto, a proposta foi engavetada. O que começou a significar a partir de então?

Representou um grande momento de inflexão na política internacional dos países ditos subdesenvolvidos americanos e, ao mesmo tempo, um acúmulo de forças na luta pela soberania de nossos países. Nessa perspectiva, a entrada da Venezuela no Mercosul, seria e foi apenas uma consequência da condução geoeconômica e política de nossos países.

Neste sentido, os temas do cenário internacional que nos é proporcionado, como a prolongada e persistente crise econômica e social, a assunção da China, a devassidão ambiental, constituem enormes desafios para o Mercosul, e, também, nos apresenta grandes oportunidades.

As oportunidades intrínsecas aos desafios só poderão ser enfrentados se os governos dos Estados do Mercosul aumentarem significativamente sua cooperação econômica e social de forma a tornar a região mais integrada. Por exemplo, o Mercosul precisa continuar expandindo sua integração, com o ingresso de Equador, Bolívia, Suriname e Guiana, lhes concedendo uma participação especial, haja vista os seus níveis de desenvolvimentos e o interesse político e econômico em cada um deles.

O fortalecimento do Mercosul significa o fortalecimento de suas atividades econômicas, de suas empresas nacionais, de suas organizações sociais, de seus Estados nacionais. Neste sentido, é mais do que urgente eliminar as assimetrias e deficiências de infraestrutura dos Estados, tornando-os menos desiguais e ampliando as condições de atração para os investimentos e o financiamento junto ao mercado financeiro internacional, e, em paralelo, reduzindo as diferenças de carga tributária e de PIB.

Para tanto, é essencial elevar os recursos do Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul (Focem), com vistas a executar um programa mínimo de infraestrutura física, econômica e social, pois quanto mais coesos forem os Estados, maior altivez e tendência de enfrentar e se beneficiar da crise internacional o Mercosul terá.

Por fim, é urgente um plano eficiente de divulgação das informações do Mercosul, pois é notório o desconhecimento de nossa mídia nativa, como diz Mino Carta, ignorando e minimizando os esforços de integração, focando estritamente nas tensões e divergências políticas que surgem e são naturais.

Ao que tudo indica, a unidade e integração de nossa América é nosso caminho e está em nosso horizonte. Até então, nossa história de saques, desigualdade e miséria parece estar sendo redimida aos poucos.

* Paulo Daniel é economista, mestre em economia política pela PUC-SP, professor de economia e editor do blog Além de Economia.

** Publicado originalmente no site Carta Capital.