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Moçambique se prepara para o perigoso ciclone Giovanna

Os sistemas de drenagem em Maputo não suportaram as chuvas torrenciais. Foto: Johannes Myburgh/IPS

Maputo, Moçambique, 17/2/2012 – Mais de cem mil pessoas em Moçambique ainda se recuperam da perda de suas casas, escolas, comércios e cultivos, depois que uma tempestade tropical e um ciclone afetaram o país em janeiro. Entreanto, o pior está por vir. Espera-se que outro perigoso ciclone atinja o país hoje, num momento em que as reservas de emergência estão se esgotando.

O ciclone Giovanna, com a mesma intensidade que o Katrina, que em 2005 devastou o sudeste dos Estados Unidos, atingiu Madagascar no final de semana deixando 65 mortos e 11 desabrigados. Espera-se que chegue ao sul de Moçambique hoje, com velocidades máximas entre 100 e 150 quilômetros por hora.

“Conforme o ciclone tropical se aproxima da cidade de Inhambane, esperamos um dano de alto risco para alguns distritos em torno dessa localidade”, informou o diretor de previsões do Instituto Nacional de Meteorologia de Moçambique, Sergio Buque. O fenômeno também afetará várias outras áreas, incluindo Zavala, Morrumbene e Massinga, na província de Inhambane.

Moçambique ainda se recupera da morte de 40 pessoas quando dois eventos climáticos extremos se sucederam em meados do mês passado. Neste ano, o número de mortes já superou o de 2011, que teve 30 mortos. “Um total de 108.048 pessoas foram afetadas pela tempestade tropical Dando e pelo ciclone Funso”, divulgou a Equipe Humanitária do País (EHP) da Organização das Nações Unidas (ONU).

A chefe do EHP, Lola Castro, explicou que os preparativos para a temporada de ciclones começaram em outubro do ano passado, mas as reservas já estão se esgotando devido às tempestades de janeiro. “Lamentavelmente, neste momento as reservas de vários artigos que temos no país ficam menores, porque tivemos que ajudar as províncias do sul e do norte”, acrescentou. São necessários artigos básicos, como lâminas de plástico para proteger as casas, além de “equipamentos para água e saneamento, pois as latrinas foram destruídas e por isso as pessoas precisam usar cloro” para impedir a transmissão de doenças. Também buscamos grãos, como arroz, feijão e milho”, completou.

Quase 98 mil hectares de cultivos foram destruídos em janeiro. O Giovanna se aproxima em um momento em que o Programa Mundial de Alimentos atende 83.424 pessoas afetadas pelas tempestades de janeiro, e metade delas já começou a receber assistência. “A distribuição já foi completada em Nicoadala e Manganja da Costa, e ainda acontece em Chinde e Pebane, na central província de Zambezia, e na província de Maputo. Cada família recebeu ou receberá 50 quilos de milho para um mês”, informou o EHP em resposta por escrito às perguntas da IPS.

Em janeiro, o ciclone Funso atingiu categoria 4 de intensidade. Contudo, se afastou do continente e atingiu o sudeste do Canal de Moçambique. As chuvas torrenciais obrigaram os moradores de Maputo a permanecerem dentro de suas casas e a ribeira da capital inundou depois que os sistemas de drenagem não suportaram o volume de água. Chuvas incessantes em países vizinhos também elevaram os níveis dos rios que correm em direção a Moçambique. O Komati transbordou, afetando por vários dias a principal estrada que une o norte e o sul esse país.

Os Estados Unidos alertaram seus cidadãos a não viajarem para Moçambique. Apesar de milhares de pessoas serem afetadas, a situação não foi tão devastadora quanto em 2009, quando duas tempestades açoitaram a costa central do país e deixaram mais de 520 mil pessoas dependentes de ajuda alimentar. Moçambique é especialmente vulnerável aos desastres naturais, segundo foi anunciado no ano passado na 17ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 17), realizada na cidade sul-africana de Durban.

Nas últimas duas décadas, Moçambique sofreu 50 eventos climáticos extremos, com custo de 1.745 vidas e US$ 96 milhões, afirmaram delegados presentes ao encontro. Este país ficou em 19º posto em termos de mortes e perdas econômicas por inundações, secas, ondas de calor e severas tempestades entre 1991 e 2010, segundo o Índice Mundial de Risco Climático, elaborado pela organização alemã Germanwatch. Os moçambicanos, na maioria agricultores de subsistência, estão à mercê da natureza.

“A população sempre será afetada pelos desastres naturais em Moçambique, pois é um país vulnerável. No entanto, se estes são alertados a tempo, o grau das crises pode ser minimizado”, destacou o EHP. “Os números de populações afetadas caiu nos últimos 12 anos. Os desastres podem aumentar devido à mudança climática, mas Moçambique está cada vez mais equipado para prevenir e responder a esses eventos”, assegurou.

O Instituto Nacional para Manejo de Desastres foi declarado no ano passado o melhor de sua classe pela Plataforma Global para a Redução de Riscos de Desastres, da ONU. “Doze anos depois das inundações de 2000-2001, a escala de danos, tanto à infraestrutura quanto aos civis, caiu em consequência do planejamento de contingência, das atividades de preparação e dos investimentos em sistemas de alerta”, esclareceu Castro à IPS.

Por sua vez, Buque disse que a população moçambicana já foi alertada sobre a iminente tempestade de hoje. “Agora, assessoramos as pessoas sobre as áreas de risco e o que devem fazer. Também têm de seguir a atualização da informação dada pela autoridade de manejo de desastres, a de água e inclusive dos governos comunitários e locais”, explicou. As autoridades provinciais capacitaram grupos comunitários para agirem diante de desastres e ajudarem na evacuação de residências em caso de inundações. Envolverde/IPS

* Com a colaboração de Zukiswa Zimela, de Johannesburgo.