Experiência realizada em plantações de tomate num assentamento rural de São Paulo mostra que a preservação de Mata Atlântica diminui os custos da produção e reduz a incidência de pragas na cultura. Nos experimentos, a porção de mata conservada agiu como um regulador de pragas e, segundo o engenheiro agrônomo Fábio Leonardo Tomas, os custos de produção foram reduzidos em até 84%.
Tomas é autor da dissertação de mestrado A influência da biodiversidade florestal na ocorrência de insetos-praga e doenças em cultivos de tomate no município de Apiaí-SP, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba , que foi realizada com produtores das cidades de Ribeirão Branco, Guapiara e Apiaí, na região Sudeste do estado de São Paulo, que possui a maior produção de tomate de mesa do País. A área está localizada no Assentamento Rural do Incra “Luiz David de Macedo”. “O tomate é um dos cultivos mais suscetíveis a pragas. Nossos experimentos revelaram que a porção de Mata Atlântica conservada agiu como um regulador, dispensando o uso de agrotóxicos, que encarecem o produto final em até 70%”, explica o pesquisador.
O método desenvolvido por Tomas consiste em espalhar cultivos em clareiras de 25×25 metros abertas na Mata a cada 300 metros de floresta. Este recurso, denominado módulo experimental, apresenta-se como substituto do desmatamento de toda cobertura natural do terreno.
“Isso é uma abordagem agroecológica e sustentável que respeita e se alia à floresta, trazendo benefícios econômicos e sociais para os agricultores”, comenta Fábio Leonardo, pesquisador que desenvolveu o estudo sob a orientação dos professores Fabio Poggiani e Paulo Yoshio Kageyama, ambos da Esalq-USP.
O modelo adotado nos módulos experimentais de Tomas baseiam-se no experimento que seu orientador Kageyama utilizou para o plantio de seringueiras no Acre, denominado Ilhas de Alta Produtividade. “O mesmo princípio das Ilhas de Alta Produtividade foi utilizado no projeto para tomate. Acreditamos que este método também seja válido para outras culturas. Porém mais testes e experimentos devem ser feitos para confirmar isto em campo”, afirma Tomas.
Os dados foram obtidos apor intermédio da comparação dos índices das plantações convencionais, que retiram toda a cobertura nativa da área e utilizam agrotóxicos, e os produtores dos assentamentos, testando o método experimental de Tomas. Os dados foram captados em cinco módulos experimentais no período de 2008 a 2010.
Agrotóxicos e custos
“Os produtores antigos da região diziam que antes dos desmatamentos não haviam tantas pragas”, relata Tomas. Com o aumento das pragas foi necessário aumentar o uso de agrotóxicos nas plantações. Devido ao uso intenso de agrotóxicos e outros venenos no combate às pragas, a região sustenta recordes de uso de agrotóxicos e de contaminação de trabalhadores por estes produtos.
Durante os dois anos de estudo, foram entrevistados cinco proprietários de cultivos convencionais de 15 mil pés em média. Cada fazenda possui um trabalhador para cada cinco mil pés cultivados, ou seja, possui ao menos três funicionários efetivos, além dos diaristas. A pesquisa indicou algo alarmante: em cada roçado ao menos três funcionários relataram eventos de intoxicação por elementos tóxicos.
Os agrotóxicos também são responsáveis pelo encarecimento do tomate que é comercializado. “Enquanto em um cultivo tradicional um pé de tomate custa cerca de R$5,00, um pé de tomate de uma plantação experimental custou apenas R$0,80”, cita Tomas. “Além disso, o mercado para produtos orgânicos, ou seja, sem agrotóxicos, é mais valorizado do que o mercado tradicional e gera mais lucro para o agricultor” completa.
*Publicado originalmente na Agência USP.