Saint John, Antiga e Barbuda, 19/6/2013 – Com suas ilhas desprovidas de rios e riachos, há séculos os agricultores de Antiga e Barbuda constroem represas e tanques e coletam água de chuva para irrigar seus cultivos e dar de beber aos animais. Entretanto, atualmente, a mudança climática lhes apresenta vários desafios. As tempestades mais fortes e mais frequentes costumam destruir as árvores em volta das bacias, bem como a grama, que contribuem para diminuir a evaporação.
“Desde o furacão Luis de 1995, tivemos muitas perdas”, disse à IPS Owolabi Elabanjo, um responsável de extensão técnica agrícola de Antiga. “Sofremos muito o impacto em algumas de nossas minirrepresas ou tanques devido aos furacões e de algumas tempestades”, acrescentou.
Em setembro de 1995, o furacão Luis, categoria quatro numa escala até cinco, atravessou Barbuda e provocou uma situação catastrófica em Antiga e nas ilhas vizinhas de São Bartolomeu, San Martín e Anguila. O ciclone deixou 19 mortos, quase 700 mil desabrigados e danos materiais que chegaram a US$ 3 bilhões. Todas as praias de Antiga e Barbuda sofreram erosão devido à força das ondas geradas pelo furacão.
A água é um dos elementos mais importantes para a produção agrícola, disse Elabanjo. Mas é um recurso escasso, afirmou, portanto caro, e não só para a agricultura, mas também para o uso doméstico. O Ministério da Agricultura trabalha, junto com a Autoridade de Serviços Públicos de Antiga e Barbuda e com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), para capacitar os agricultores na coleta de água e criação de melhores oportunidades para seu uso, explicou. “Sim, de fato queremos fortalecer a segurança alimentar e reduzir o gasto com alimentos importados, devemos fazer algo a respeito da água”, destacou.
A representante da FAO na Guiana, Lystra Fletcher-Paul, disse que uma das questões fundamentais da gestão hídrica é que o recurso esteja disponível para a agricultura. “Em vários países a prioridade sempre é ter água para uso doméstico, saúde e indústria, e se restar algo vai para a agricultura”, disse à IPS. “Não se pode falar sério sobre segurança alimentar se a água para a agricultura é a última prioridade. Deve-se ter uma estratégia que diga: tenhamos ou não seca, a agricultura receberá tal quantidade de água”, enfatizou. Fletcher-Paulo pontuou que a FAO ajuda os países da região na gestão do recurso. No caso de Antiga e Barbuda, a organização trabalha com as autoridades desde 1991 para melhorar a gestão da terra e da água, destacou.
Antiga e Barbuda foi um dos oito países que se beneficiaram em 2008 de um estudo de viabilidade para coleta de água de chuva, a cargo do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Agrícola do Caribe, do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura e do Banco de Desenvolvimento do Caribe. O estudo concluiu que a coleta de água era muito factível em Antiga porque a ilha recebe uma média de 750 milímetros de chuvas por ano.
Fletcher-Paul destacou a importância de contar com um plano de gestão de desastres para o setor agrícola. A proteção deve ser pensada muito tempo antes da temporada de furacões, ou com pouca antecedência, disse, com adoção de medidas como plantar árvores ao redor de represas ou grama para ajudar a fixar o solo.
O ministro da Agricultura de Antiga, Hilson Baptiste, disse à IPS que este país leva a sério a mudança climática. Dentro do Projeto Mudança Climática, o Ministério realiza uma iniciativa para combater o desmatamento, uma árvore por vez. O objetivo do projeto lançado em 2010 foi plantar 2.010 árvores. Três anos depois, “plantamos mais em Antiga do que qualquer outro país do Caribe”, comemorou. Anualmente, é apresentada aos estudantes a atividade de plantar árvores e eles semeiam entre cinco mil e seis mil. Todo Dia da Árvore, 29 de agosto, “entregamos meio milhão de plantas a escolas, grupos comunitários e eclesiásticos para estimular a sociedade a plantar”, contou, lembrando que são “plantados pés de laranja, abacate, manga”.
O ministro explicou que após observar as consequências da mudança climática na produção agrícola, Antiga e Barbuda não têm outra saída a não ser intensificar os esforços para mitigá-las. Também disse que nem uma só árvore é destruída no processo de produção de alimentos. “A agricultura ocorre entre uma floresta e outra e, às vezes, debaixo delas. Não se destrói nenhuma para facilitar a agricultura”, afirmou.
O subdiretor do Ministério, Ashley Joseph, concordou que o meio ambiente não deve sofrer com a produção de alimentos. “Se não se proteger o meio ambiente, com o tempo a produção diminuirá, por isso deve ser considerado na hora de produzir”, destacou. Por exemplo, o governo capacita os agricultores e pecuaristas sobre o pastoreio. “Quando o pastoreio é excessivo, a grama e a vegetação se esgotam. Quando isso ocorre, o solo fica pelado e, com a chuva, a água arrasta a camada superficial e a produção é cada vez menor”, afirmou. Envolverde/IPS