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Mudança climática prejudica agricultores de Trinidad e Tobago

Restos de casas de sombra que um agricultor tentou construir para proteger seus cultivos dos efeitos da mudança climática. Ele abandonou o projeto depois que o governo de Trinidad e Tobago não estendeu o subsídio prometido para completá-las. Foto: Jewel Fraser/IPS
Restos de casas de sombra que um agricultor tentou construir para proteger seus cultivos dos efeitos da mudança climática. Ele abandonou o projeto depois que o governo de Trinidad e Tobago não estendeu o subsídio prometido para completá-las. Foto: Jewel Fraser/IPS

 

Porto Espanha, Trinidad e Tobago, 30/9/2013 – Dalchan Singh, produtor de tubérculos e diretor da Sociedade Agrícola de Trinidad e Tobago, disse que em 2012 viu mudanças drásticas na meteorologia desta nação insular caribenha. Normalmente, a temporada chuvosa começa em junho e continua por julho e agosto, afirmou, e depois para até novembro, quando volta a chover.

“Mas no ano passado foi diferente. Durante dois meses tivemos muito sol e pouquíssimas chuvas. Somente em agosto que começou a chover. Este ano, quando chove, ela é muito forte, e quando faz sol é muito seco e quente. Este ano é muito diferente” dos anteriores, disse Singh à IPS.

Os cultivos crescem mais lentamente quando não recebem chuva suficiente na hora certa, afirmou Singh. E as fortes chuvas que o país experimentou este ano mataram alguns dos cultivos, como o guandu, e foi necessário jogar fora alguns tubérculos. Os agricultores locais dizem que este tempo imprevisível faz com que seja quase impossível determinar quais cultivos podem ser plantados de modo seguro e quando.

A mudança climática também está criando um desafio adicional quanto às pestes que os agricultores têm de enfrentar. Jemraj Singh, presidente da Associação de Agricultores de Felicity, no distrito de Chaguanas, explica que, quando há duas ou três semanas de chuvas constantes, qualquer tentativa de erradicar as pragas usando produtos químicos fica difícil, já que as precipitações dissolvem os pesticidas.

Ao mesmo tempo, segundo o agricultor Hudson Mahabir, a mudança climática também tem algum efeito positivo sobre o controle das pestes, já que “as chuvas fortes reduzem os trips”, insetos alados que se alimentam dos cultivos. Porém, quando se combinam chuvas fortes com sol intenso, “cria-se a situação ideal para fungos e bactérias se multiplicarem”, acrescentou.

Em todo o Caribe os produtores veem mudanças nos padrões meteorológicos das estações nos últimos oito anos, e agora combatem inundações mais severas, por um lado, e um tempo seco e quente, por outro. Entretanto, há estratégias para minimizar esses efeitos do aquecimento global. Quando Ramgopaul Roop começou a trabalhar em sua pequena propriedade rural em Freeport Norte, em Trinidad, o solo era muito ácido, estéril e compacto. Durante a temporada chuvosa tinha que lidar com as inundações e depois com as secas.

Roop decidiu adubar com cal o solo e aumentou a quantidade de matéria orgânica nele para melhorar sua fertilidade. Também adaptou a topografia de seu estabelecimento de tal modo que durante a estação chuvosa o excesso de água fluísse para um tanque criado especialmente, dessa forma prevenindo inundações. Durante a seca, começou a usar essa água para irrigar. Graças a isso, agora ele é um próspero agricultor.

Embora o trabalho de Roop na agricultura sustentável tenha começado antes de os impactos da mudança climática se tornarem notórios, Humberto Gómez, especialista em inovação tecnológica do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (Iica), o cita como exemplo do que se pode conseguir quando os agricultores adotam uma atitude proativa diante do problema.

Pode-se adotar “melhores práticas de manejo do solo e da água, como irrigação e drenagem”, afirmou Gómez à IPS. “Também se pode plantar variedades de cultivos que exijam menos água, que completem seu ciclo mais rápida ou lentamente, e que tenham tolerância às pestes e às enfermidades”. E acrescentou que “também podem ser cultivadas plantas que usem espaços menores, que absorvam e metabolizem os nutrientes de modo mais eficiente, etc.”.

O informe O Futuro da Agricultura Inteligente Com o Clima: Situando a Agricultura no Centro da Política Sobre Mudança Climática, do Grupo Consultivo para a Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR), também sugere cobrir os cultivos como método útil, especificamente para os produtores rurais do Caribe. O governo de Trinidad e Tobago ofereceu subsidiar essa tecnologia conhecida como “casas de sombra”, prometendo pagar metade do custo de sua construção, segundo Jemraj Singh.

Entretanto, Singh ressaltou que essas promessas não foram cumpridas e que a construção é muito cara: um hectare exigiu dez dessas estruturas, ao custo total de US$ 340 mil. Como o governo não subsidiou sua construção, as casas de sombra ficaram inviáveis. Cada uma delas “representa investimento de longo prazo. Não posso tomar US$ 2 milhões de Trinidad e Tobago e dizer que as casas de sombra gerarão dinheiro suficiente para se pagarem”, pontuou. Assim, Singh abandonou seus esforços para implantar esta tecnologia.

Os agricultores locais também veem o valor da irrigação por gotejamento e de cobrir os cultivos com plástico para ajudar a enfrentar as condições climáticas. Entre as estratégias que usam para combater as inundações intensas figura a construção de muitos mais canais de água, para garantir que seus cultivos sejam drenados adequadamente depois de chuvas fortes. Os agricultores também estão criando leitos de plantas menores e mais altos, para permitir uma drenagem mais rápida, indicou Singh.

Gómez propõe que os governos possam levar alívio aos agricultores “educando nossos industriais, comerciantes e pessoas em geral a melhorarem o manejo de resíduos, primeiro gerando menos e depois reciclando em grande proporção para poder minimizar a quantidade de lixo que acaba nos cursos de água”.

O Iica e outras organizações regionais de pesquisa ajudam introduzindo um germoplasma melhorado que é submetido a testes antes de ser liberado para uso comercial. O germoplasma inclui sementes e material genético para variedades de cultivos mais resilientes que podem enfrentar melhor as condições meteorológicas extremas.

Lamentavelmente, segundo Gómez, apenas uma fração do germoplasma introduzido chega aos estabelecimentos agrícolas. “Como região, fazemos pouco para coletar, preservar e melhorar nosso germoplasma local”, lamentou. “Um programa bem elaborado para o cultivo de plantas será um bem estratégico e valioso, atualmente ausente para alguns cultivos. Esta é uma área com muito espaço para as melhorias”, enfatizou. Envolverde/IPS