Diálogo multissetorial, compromissos voluntários e transformação pela educação para o consumo são os principais legados da Conferência.
A agenda do consumo consciente foi central durante a Rio+20. O Akatu participou de vários debates e atividades, tanto em espaços oficiais quanto em fóruns paralelos de discussão proporcionados pela Conferência, compondo o grupo de organizações que levou o tema ao maior espaço de diálogo sobre o desenvolvimento sustentável da história. A Conferência, da qual resultou o documento O Futuro que Queremos, apresentado ao final das negociações, e que recebeu muitas críticas – muitas delas com fundamento –, cumpriu o papel de indutora do debate e da mobilização em torno do tema da sustentabilidade, criando a oportunidade de compromissos os mais variados por diversos agentes da sociedade civil e que são um ponto de partida dos mais importantes para o futuro que queremos construir.
Assim, a materialização do documento O Futuro que Queremos não se dá pela sua publicação. O que se percebeu durante a Conferência foi uma intensa mobilização de todos os setores assumindo compromissos concretos para colocar em prática o desenvolvimento sustentável. As empresas, por exemplo, já se apresentam de forma a voluntariamente promover algumas mudanças em suas cadeias produtivas para que se tornem mais sustentáveis.
Isso é ótima notícia, mas não é suficiente.
A radicalidade necessária nessa mudança só será impulsionada pela transformação do modelo de consumo. E é do comportamento das pessoas que trata esse debate. Ao fazer escolhas de consumo, pode-se construir um novo modelo de civilização, que coloque a vida das pessoas como foco de atenção e realização, focando no bem-estar derivado dos bens e serviços disponíveis em lugar do consumo como um fim em si mesmo. Vivemos hoje em uma sociedade em que o consumo está subordinando a vida, muito mais do que a vida está subordinando o consumo. Inverter esses fatores é o grande desafio da sociedade humana.
Se queremos um novo modelo de civilização, precisamos primordialmente educar crianças e jovens. Consumo é uma questão cultural. A formação dos hábitos, que conformam a cultura, se dá na infância. Esta é a fase em que se estabelecem os valores e, em função disso, é nesse período que se aprende o que será importante ou não ao longo da vida. Nesse sentido, a educação para o consumo consciente e para a sustentabilidade é o meio mais poderoso para se alcançar o desenvolvimento sustentável. Essa questão foi ressaltada como imprescindível para a transformação em todos os espaços em que o Akatu esteve presente, por chefes de Estado, CEOs de empresas, presidentes de organizações não governamentais, representantes das Nações Unidas.
O desenvolvimento sustentável não é nota de rodapé na nossa história. Ainda precisa ser disseminado, aprendido, ganhar escala. Há gerações a serem educadas sobre a urgência dessa questão que é determinante para a sobrevivência da espécie humana. Essa urgência implica uma nova forma de educar que valorize a transdisciplinaridade: requer entendimento de ciência, problemas sociais, conhecimento sobre a organização das sociedades, sobre a motivação que alimenta a vida das pessoas.
O Akatu trabalha há 11 anos, por meio de projetos de educação e campanhas de comunicação, para que pessoas usem o poder transformador dos seus atos de consumo consciente como instrumento de construção da sustentabilidade da vida no planeta. Na Rio+20 enxergamos possibilidades de aliança a serem feitas entre setor privado, público e sociedade civil organizada de forma a expandir o alcance da missão do Akatu para que ganhe escala e velocidade necessárias. O diálogo multissetorial fomentado pelo espaço da Rio+20 e chancelado pelos mais de 700 compromissos voluntários assinados sinaliza o novo modelo de civilização que já estamos construindo. Estamos todos no mesmo barco. Podemos e devemos – cada um de nós – contribuir para essa transformação.
* Helio Mattar é presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.
** Publicado originalmente no site Akatu.