Tempos difíceis transformaram os hábitos alimentares da Inglaterra.
Os ingleses são viciados em programas de culinária. O país também é um produtor prolífico de cozinheiros de televisão, que insistem em uníssono nas virtudes de usar ingredientes frescos e cozinhar em casa. Mas o que realmente acontece nas cozinhas inglesas está longe do ideal televisivo.
Há alguns anos, a dieta britânica parecia estar melhorando. Com efeito, as pessoas estavam comprando menos vegetais verdes, dando continuidade a uma tendência de longo prazo fundamentada por um desejo cada vez menor por repolho, couve-flor e couve de Bruxelas. Mas elas estavam mais ou menos compensando isso comendo mais vegetais folhosos e frutas. As pessoas estavam comprando mais peixes saudáveis e menos gordura. O inglês médio comprou 170 gramas de peixe por semana em 2006 – o máximo desde pelo menos 1974. As vendas de comida orgânica (tida como mais saudável, apesar da falta de evidências) estavam disparando.
Em seguida veio a crise financeira, um aumento enorme no preço das commodities e medidas de austeridade do governo. O preço de varejo dos alimentos na Inglaterra aumentou em 25% desde janeiro de 2008, um valor consideravelmente acima da inflação média. Tudo isso afetou sobremaneira a dieta nacional.
A primeira coisa a ser eliminada foi comer fora de casa, afirma Giles Quick da Kantar Worldpanel, uma empresa de pesquisa de mercado. Depois disso, os consumidores passaram a fazer concessões mais dolorosas. As vendas de frutas e vegetais caíram bruscamente, junto com a venda do que Quick chama de “proteínas primárias”, isto é, carne e peixe, que impõem custos adicionais aos consumidores porque requerem outros ingredientes para formar uma refeição. Os Estados Unidos também passam por uma mudança similar, ainda que menos radical.
Essas mudanças são mais pronunciadas entre os 20% mais pobres da população, mas de maneira alguma essas se restringem a esta parcela da população. Para um governo que precisa tirar o atraso relacionado à saúde precária, essas podem ser notícias ruins.
* Publicado originalmente no jornal The Economist e retirado do site Opinião e Notícia.