Manama, Bahrein, 5/7/2011 – Ativistas mulheres reconhecem sua escassa presença nas manifestações de rua no Bahrein e na luta contra o sectarismo religioso, o que atribuem a disputas internas dentro das organizações femininas. Conhecidas por sua histórica luta, as mulheres foram criticadas por não colocar sua marca nos levantes populares dos últimos meses.

Após a eclosão dos protestos em Manama em fevereiro, organizações femininas lançaram pelo menos três iniciativas para aproximar suas seguidoras do povo e ajudar a melhorar a difícil situação que vivem neste país. Mas a agenda política de outras organizações se interpôs à causa das mulheres.

“A maioria de nossas associações teve que abandonar suas atividades porque os programas propostos para melhorar a situação das mulheres não eram adequados ou porque algumas integrantes trataram de promover seus próprios objetivos políticos”, disse à IPS uma das fundadoras da organização feminina mais antiga do Bahrein, que pediu para não ser identificada.

“Muitas mulheres quiseram se aproveitar de nossa organização e promover objetivos políticos de suas próprias agrupações, e nós não queríamos que isso ocorresse. Decidimos cancelar quase todas as atividades para preservar nossa neutralidade”, explicou, acrescentando que o mesmo ocorreu a outras instituições. Um exemplo disso é a Mulheres por Bahrein, lançada em março e que desapareceu quase em menos de um mês.

“Teve sorte de ter um bom começo, mas recebeu um golpe mortal quando sua página no Facebook se converteu em um campo de batalha para jovens de diferentes setores” político-religiosos, explicou. “As tentativas de controlar a atividade da página e conter o mal-estar fracassaram e as organizações decidiram suspender o projeto”, afirmou.

As mulheres não passaram de 25% dos participantes das atividades dos partidos políticos durante os protestos, disse à IPS o presidente da Sociedade para a Transparência do Bahrein, Abdulnabi al Ekri. Elas participaram de manifestações e protestos da oposição e de partidários do governo, mas não como oradoras nem líderes.

“As organizações políticas têm mulheres, mas elas não ocupam cargos de decisão e ao seu papel se sobrepôs o de seus companheiros homens”, contou Ekri, que pediu urgência às ativistas para romper o silêncio e aproveitar a oportunidade histórica para conseguir maior poder por meio do diálogo nacional, que começou no dia 1º deste mês com participação de todos os setores políticos.

A União de Mulheres do Bahrein, que reúne 12 organizações femininas, deu o exemplo enviando, no dia 23 de junho, um documento com os pontos que considera que não podem faltar nas conversações. A coalizão pediu uma reforma da lei de nacionalidade para que elas possam transmiti-la aos filhos, como fazem os homens que se casam com mulheres estrangeiras. Também pediu a implementação da segunda parte da Lei de Família para incluir o tribunal da shariá (lei islâmica) xiita. Atualmente, só cobre a sunita.

“Demos nossa contribuição que tem apoio de quase todas as organizações femininas, mas não temos nem ideia se terão prioridade”, afirmou Mariam al Ruwai, presidente da União de Mulheres do Bahrein. Entretanto, destacou que as conversações se concentrarão em “corrigir a situação política e promover mudanças na matéria”, e que a igualdade de gênero deve desempenhar um papel primordial. A voz das mulheres foi sequestrada e já não é tão forte como na década de 1960, quando o Bahrein ficou independente do Império Britânico, disse o escritor Saeed al Hamad.

“O atraso dos últimos 30 anos no mundo árabe as converteu em seguidoras, não em líderes”, disse o escritor em um seminário organizado pelo estatal Conselho Supremo para as Mulheres. “As mulheres do Bahrein sentiram a dor do protesto mais do que os homens e devem ter um papel fundamental no futuro, com maior participação social. As próximas eleições de metade de período podem ser um começo” nesse sentido, ressaltou.

Contudo, a professora de religião Fatima Bosoundel não compartilha da ideia de que as mulheres tiveram um papel secundário nos últimos acontecimentos registrados no país. “Desempenharam um grande papel em casa mantendo as crianças tranquilas quando a situação nas ruas estava fora de controle. Não podem ser subestimadas, pois são o elemento mais forte do lar”, disse à IPS. Envolverde /IPS