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Mulheres dispostas a unir sociedade rachada

Manama, Bahrein, 26/4/2011 – Mulheres do Bahrein pretendem acalmar, por meio de novas iniciativas, as tensões sectárias que surgiram neste país do Golfo em razão das reclamações políticas que começaram em 14 de fevereiro. A maioria xiita e a minoria sunita costumavam conviver sem problemas neste pequeno reino insular, cuja renda com petróleo representa 70% do dinheiro arrecadado pelo Estado. Inspirada pelos movimentos populares no Egito e na Tunísia, a oposição barenita começou a protestar, reclamando uma reforma constitucional e o fim do que considera uma sistemática discriminação contra a população xiita.

A família real sunita agiu rapidamente e reprimiu os protestos. A maioria dos manifestantes que participaram das manifestações antes que as autoridades decretassem, em março, três meses de estado de emergência, era de xiitas. Os sunitas realizaram manifestações favoráveis ao governo. As forças de segurança abriram fogo contra os manifestantes em 16 de fevereiro, matando pelo menos três pessoas e ferindo dezenas, mas não conseguiram acalmar os protestos.

Um mês depois, quando o Conselho de Cooperação do Golfo aprovou o envio de um contingente de mil soldados para apoiar o governo do Bahrein, o rei Hamad bin Isa Al Khalifa não perdeu tempo e evacuou a Praça Pearl. Centenas de pessoas foram feridas no caos que se formou. A polícia dispersou os manifestantes com gás lacrimogêneo, balas de borracha e munição real. Xiitas e sunitas divulgaram listas de estabelecimentos comerciais a serem boicotados porque os proprietários pertencem a outra corrente do Islã. Os nomes foram divulgados em folhetos, emails e redes sociais.

A “Mulheres por Bahrein” pretende voltar a unir os barenitas. “Tentamos explicar que a religião é para Deus e o país é para nós, e que o sectarismo pode causar graves complicações”, disse à IPS a ativista Fawziya al Jaja, que também integra o comitê de imprensa. A organização, que reúne pessoas de todas as confissões e condições sociais, se opõe a dirigentes que apoiam as tensões sectárias para promover sua agenda política, explicou Jaja.

A organização começou suas atividades em março com um chamado em favor do amor e da tolerância, por meio das redes sociais da internet e pediu unidade. “As atividades da organização não têm um prazo e continuarão enquanto forem necessárias. Queremos que a população do Bahrein se aceite e se respeite sem importar suas diferenças e que compartilhe o amor por seu país”, acrescentou Jaja.

Segundo a ativista, a organização promove os princípios da sabedoria, justiça e liberdade para proteger a dignidade das pessoas. “Dizemos à sociedade e ao mundo que não se deve deixar de lado as barenitas porque sem elas a estrutura da família e da comunidade é afetada”, explicou.

As redes sociais e a tecnologia da comunicação se converteram em armas de guerra entre jovens xiitas e sunitas que trocam mensagens de ódio. O conteúdo se concentra em criticar as diferenças entre as duas correntes do Islã, disse à IPS a presidente da Mulheres do Bahrein, Mariam al Ruwai.

“Os casamentos mistos são os que mais sofrem a consequência da tensão, pois as pessoas podem rejeitar o sectarismo dentro de suas casas, mas o confrontamos em nossas camas”, disse à IPS a xiita Fathiya Ibrahim, casada com um sunita. “Não nos sentimos cômodos porque temos opiniões diferentes. Antes não era assim, mas a situação nos levou a isso”, afirmou.

Haisa al Junadi, sunita casada com um xiita, conseguiu arregimentar 40 mulheres para se oporem à situação que ameaça a estabilidade de suas famílias e a segurança de seus filhos, pois os enfrentamentos se tornam violentos nas escolas. “Queremos tomar medidas legais, como conversar com dirigentes políticos que promovem o sectarismo”, informou Haisa no lançamento da iniciativa que organizou em sua própria casa. “Com a organização queremos deixar claro que nos doi a desunião da comunidade e a alteração das relações”, insistiu. Envolverde/IPS