Quequeña, Peru, 15/8/2013 – Nas principais regiões do sul andino do Peru há dezenas de pequenos negócios e planos de proteção ambiental nos quais quase a metade dos participantes é de mulheres. Elas tornam possível a mudança junto aos seus novos aliados, os jovens. Estas iniciativas são financiadas pelo programa governamental Serra Sul e Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida)
Usando uma blusa de renda e cores vivas, Yolanda Chaucayaqui mostrou em uma maquete a realidade que até há pouco marcava seu povoado, Yanaquihua: o desmatamento e a mineração informal. E, em outra maquete, exibia sorridente o futuro com o qual sonha: um solo verde com plantações de abacate alimentadas por um sistema de irrigação por gotejamento, um depósito de água e zero escavações.
“Queremos que nosso povoado fique livre de todo o mal e por isso trabalhamos para abrir este outro caminho para o futuro”, afirmou à IPS Chaucayaqui, que viajou sete horas de carro de seu povoado até Quequeña, um distrito da região de Arequipa onde centenas de camponeses participaram, no dia 3 deste mês, da última feira de projetos de Serra Sul e Fida.
A feira contou com a visita do presidente do Fida, o nigeriano Kanayo Nwanze, que expressou à IPS sua satisfação por estes progressos e, sobretudo, pela presença de mulheres. Há 20 anos o Peru trabalha com esta organização internacional para gerar pequenos empreendimentos que permitem às famílias das zonas rurais melhorarem suas vidas.
Na segunda etapa do Serra Sul, há 18 mil famílias beneficiadas nas regiões Apurímac, Arequipa, Cusco, Puno, Moquegua e Tacna. Dessa população, 48% são mulheres que estão comprometidas com planos de negócios e manejo de recursos naturais, e conseguiram abrir uma poupança para ingressar no sistema financeiro, explicou à IPS o responsável pela área de acompanhamento e avaliação do projeto Serra Sul II, José Vilcherrez.
Nestas regiões do sul são desenvolvidos 550 planos de negócios, cada um impulsionado por cerca de 20 pessoas, entre homens e mulheres. Em média, 80% do negócio é financiado pelo programa estatal com empréstimo do Fida, enquanto os 20% restantes são de responsabilidade da comunidade.
Cada projeto é escolhido de maneira transparente, em feiras como a de Quequeña, pelo comitê legal de destinação de recursos, integrado por habitantes e autoridades dos povoados participantes. Os negócios são diversos e as mulheres participam em quase todos: criação de animais, melhoria de pastagens, panificação, produção de lácteos, tecidos e artesanatos, entre outros.
“Estas mulheres ganham espaço dentro de suas famílias, o respeito do marido e dos filhos. Começam a ser ouvidas”, afirmou Vilcherrez, que avalia o impacto do Serra Sul na população feminina para determinar como podem melhorar seu apoio. As mulheres solicitam mais informação para ter acesso a novos negócios e conhecer mais sobre seus direitos, detalhou o especialista.
Nelly Roxana Cheña preside um grupo de artesãs em Puno. A partir deste programa, ela começou a reconhecer seu talento para produção de tecidos, que lhe permite gerar recursos para pagar a escola dos filhos. “Jamais fomos valorizadas, mas, com estas capacitações, nos levantamos às quatro da manhã, fazemos as tarefas de casa e trabalhamos para seguir adiante. Queremos continuar nos capacitando”, contou entusiasmada à IPS, rodeada por suas companheiras, de gorro e luvas de lã.
Cheña garantiu que as mulheres de seu povoado participam decididamente da proteção do meio ambiente. Há 127 planos de manejo de recursos naturais nas regiões do sul, nos quais as famílias desenvolvem ações para administrar e cuidar das fontes de água e dos solos. Os melhores projetos são premiados com os recursos do programa.
“Queremos contribuir para a recuperação de nossos povoados. Projetamos viver em casas ordenadas e preservando os recursos naturais para nós e as próximas gerações”, afirmou Rosemary Quispe da região Cusco. Com 19 anos, é uma de muitas jovens que tomam parte destas iniciativas.
Desde o final do ano passado, o Fida incentiva a participação juvenil em áreas rurais de Colômbia, Guatemala, Peru, República Dominicana e Brasil, mediante o programa Juventude Rural Empreendedora e com apoio financeiro e técnico.
No Peru, 344 jovens se somaram a 28 empreendimentos, metade deles no sul. “Os jovens tinham poucas oportunidades para ficar em seus povoados e isto agravava a pobreza e a migração”, explicou à IPS Wilder Mamani. coordenador no Peru do Procasur, uma organização sem fins lucrativos sócia do Fida.
Sinthia Yucra, de 21 anos, decidiu apostar em seu povoado e gerar mais recursos para sua família com a criação de galinhas. Ela vive no distrito de Lucre, em Cusco, a mais de três mil metros de altitude. Outras nove pessoas se somaram e juntos criam mil galinhas e mil frangos. Oito destes dez jovens são mulheres. “Isto está fortalecendo e unindo minha família. Nunca pensei que nossos pais nos apoiariam. Isso me entusiasma, tenho muitos planos para meu povoado”, disse Yucra à IPS.
Fizeram um empréstimo para iniciar o negócio e construíram os galpões. Nos últimos dias, Yucra vive o entusiasmo de desenvolver um plano de comercialização para abastecer supermercados. Para isso, seu grupo contratará um economista e está se capacitando com os técnicos do Procasur. Não acreditam no assistencialismo. Envolverde/IPS