Arquivo

Mulheres foragidas da polícia

Bulawayo, Zimbábue, 31/3/2011 – “As mulheres no Zimbábue são vistas como um importante grupo demográfico que os políticos querem explorar para obter apoio”, disse a ativista Ntombikayise Mswela. “No entanto, quando vamos às ruas exigir respeito do mesmo governo, nos jogam na prisão. Ainda não vimos nenhuma sinceridade por parte das autoridades na proteção de nossos direitos”, disse à IPS. Para Ntombikayise, as mulheres são usadas em iniciativas do governo, “como os últimos esforços para coletar assinaturas para a petição contra as sanções” internacionais.

No começo deste mês, o presidente Robert Mugabe lançou uma campanha para conseguir dois milhões de assinaturas com o objetivo de pressionar a União Europeia e os Estados Unidos a retirarem as “sanções ilegais contra o povo do Zimbábue”. Um grande número de mulheres apoia a campanha, mas, diante da repressão contra as ativistas de gênero, muitas se desiludiram.

As ativistas dizem que os políticos atam seus esforços por oportunidades iguais, e o ativismo de gênero encontra-se marginalizado. Somente umas poucas pessoas valentes ainda enfrentam o governo. “Basta ver quantas mulheres acabaram atrás das grades nos últimos anos por saírem às ruas e falarem sobre a violação de seus direitos”, disse a ativista Thelma Dube à IPS.

Thelma falou em razão de uma proibição nacional das marchas que estavam planejadas para o dia 8 deste mês, para comemorar o Dia Internacional da Mulher. Agora, muitas temem ser identificadas como ativistas porque podem sofrer “represálias” de homens. “Não vejo muitas mulheres, instruídas ou não, saindo em grande número com cartazes e pedindo para serem ouvidas, mesmo quando o governo fala em respeitar seus direitos”, afirmou a ativista.

Em fevereiro, ativistas da organização Mulheres do Zimbábue de Pé (Woza) foram presas na cidade de Bulawayo antes de saírem às ruas, enquanto outras foram detidas junto à destacada lutadora pela democracia Munyaradzi Gwisai, acusada de traição no começo deste mês por, supostamente, ter integrado um grupo que fomentava uma revolta popular “ao estilo do Egito”. Uma declaração da Woza, do dia 1º deste mês, diz que as mulheres presas em Bulawayo foram torturadas pela polícia.

“Todos aqui sabem que só se pode falar em público sobre temas que estão de acordo com a forma de pensar de alguns partidos políticos. Uma vez que você ergue sua cabeça, rapidamente é identificada como ativista ou defensora de uma espécie de agenda contrária ao statu quo. Isso é ruim”, disse à IPS uma especialista de gênero de uma das universidades estatais do Zimbábue. “No fim, as mulheres acabam optando por se limitarem a lutar de forma silenciosa por suas famílias”, acrescentou.

A especialista falou com a IPS sob a condição de não ser identificada, por medo de represálias, um dos muitos exemplos da falta de liberdade acadêmica neste país, especialmente para as mulheres. O Ministério de Assuntos Femininos, de Gênero e Desenvolvimento Comunitário está na vanguarda da luta pelo fortalecimento econômico das mulheres e em defesa de seus direitos, mas grupos como a Woza afirmam que isto não é suficiente.

“É difícil para alguns assumir essas mensagens enquanto somos sempre presas por protestar e fazer campanha para alimentar nossos filhos e levá-los à escola”, disse uma ativista da Woza, que também pediu para não ser identificada. Ela já foi várias vezes detida em Bulawayo. “As marchas pró-governamentais são permitidas, não as nossas, que são basicamente apolíticas. Assim, fica difícil levar a sério o Ministério de Assuntos Femininos”, afirmou.

A ativista é uma das várias mulheres que afirmam ter perdido interesse por política, uma situação que pode afetar os esforços para aumentar a presença feminina na tomada de decisões. “As mulheres em Bulawayo, em geral, têm desconfiança dos políticos”, especialmente do governo, acrescentou. A representação feminina no parlamento do Zimbábue é, atualmente, de 15%, abaixo da média regional da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, de 24%, segundo dados de 2010 da União Interparlamentar. Se mais mulheres como Thelma se desinteressarem pela política, é possível que sua representação diminua nas próximas eleições, a menos que sejam estabelecidas cotas. Envolverde/IPS