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Mulheres podem liderar guerra contra a fome

 

Grupos da sociedade civil pediram à CNULD ações em matéria de gênero. Foto: Manipadma Jena/IPS

Changwon, Coreia do Sul, 21/10/2011 – O papel das mulheres é fundamental para combater a fome por meio da regeneração da terra, afirmaram delegados da Convenção das Nações Unidas para a Luta Contra a Desertificação (CNULD), reunidos nesta cidade sul-coreana. Entretanto, traduzir este consenso em ações é outra questão. Os rascunhos da chamada Iniciativa Changwon, proposta pela Coreia do Sul, que preside a décima conferência das partes (COP10) da CNULD, não mencionam a questão de gênero, e se concentram na participação do setor privado, disse Patrice Burger, diretora da organização não governamental francesa Centre d’Actions et de Realisations Internationales.

Espera-se que a iniciativa incorpore finalmente as decisões tomadas neste encontro, que começou no dia 10 deste mês e termina hoje. “As mulheres estão cada vez mais envolvidas na administração de fazendas familiares e de terras secas, enquanto os homens emigram em busca de trabalho”, disse Dennis Garrity, embaixador da boa vontade da CNULD e diretor-geral do Centro Mundial sobre Agroflorestamento.

“Estimular uma crescente e vigorosa participação das mulheres em todos os aspectos do desenvolvimento das terras secas é absolutamente fundamental para o sucesso das futuras ações destinadas a acabar com a fome por meio da regeneração do solo”, afirmou Garrity à IPS. “A questão de gênero é central nas três Convenções do Rio sobre Biodiversidade, Mudança Climática e Desertificação”, disse o secretário-executivo da CNULD, Luc Gnacadja.

“As mulheres são as que administram tanto a fazenda como a família quando os homens das áreas rurais emigram devido à falta de produtividade dos cultivos, e são as últimas a abandonar o lar quando a emigração se torna inevitável”, acrescentou Gnacadja. “Entre os mais afetados pela desertificação, degradação da terra e pela seca, 90% são as mulheres e crianças”, ressaltou.

“Apesar de a Convenção estar vigente desde 1997, não se vê um substancial trabalho com enfoque de gênero no terreno”, disse à IPS Eva María Vicente, da Fundação Ipade (Instituto de Promoção e Apoio ao Desenvolvimento), com sede em Madri. “As mulheres, especialmente em comunidades indígenas, têm um conhecimento diferenciado sobre os recursos que poderiam dar significativas contribuições às políticas de combate à desertificação. Isto deve ser documentado antes que se perca para sempre”, destacou Eva María.

Sua opinião, como a de Burger, reflete o descontentamento das 60 organizações da sociedade civil que participam da COP10. María Bivol, coordenadora de projetos do BIOS, grupo com sede na Moldávia, disse à IPS que as mulheres poderiam ser melhores administradoras em questões de desertificação, degradação da terra e seca se fossem capacitadas e tivessem melhor acesso a conhecimento, treinamento e fundos.

Em seu último informe anual, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) afirma que em todo o mundo as mulheres sofrem limitações de gênero que reduzem sua produtividade e limitam sua contribuição ao crescimento econômico, bem como ao bem-estar das famílias. O estudo quantifica a brecha no rendimento agrícola entre homens e mulheres entre 20% e 30%, principalmente devido às diferenças no uso de recursos. Cerca de 925 milhões de pessoas em todo o planeta sofrem desnutrição. Acabar com a brecha na produção agrícola poderia reduzir esse número entre 100 milhões e 150 milhões.

À luz do importante papel das mulheres nos esforços para combater a desertificação, o escritório de gênero da União Internacional para a Conservação da Natureza uniu-se à secretaria da CNULD em meados deste ano para desenvolver um Contexto de Políticas de Gênero. “Embora o texto da Convenção chame explicitamente a reconhecer a importância dos esforços de gênero para combater a desertificação, até agora isto continua sendo reconhecido apenas de maneira marginal”, diz o Contexto. Envolverde/IPS