Conacri, Guiné, 12/7/2012 – A horticultura em áreas periurbanas da capital da Guiné cresceu rapidamente e se converteu em uma fonte de renda para grupos de mulheres. Além de lhes permitir certa autonomia. A IPS visitou um grupo de 14 mulheres que trabalham no terreno baixo em Kobaya, arredores de Conacri. Elas arrendaram uma área de três hectares pelo equivalente a US$ 130 ao mês.
“Plantamos tomate, batata, cebola, alface, pimenta e pepino”, contou Fanta Camara, presidente da associação. A maioria de suas integrantes tem suas próprias hortas para consumo próprio, mas se reuniram em 2007 com a ideia de comercializar a produção. Construíram um galpão onde guardam as ferramentas e sacas e caixas para levar a produção ao mercado. Cavaram dois poços, um em 2007 e outro em 2010 para ter água de irrigação.
“A horticultura tem um papel social e econômico. Gera trabalho e constitui uma fonte de renda”, afirmou Moïse Koundouno, um trabalhador de extensão agrária da comunidade de Ratoma, em Conacri. Esta atividade constitui mais de 50% da renda para metade dos horticultores de áreas periurbanas. Entretanto, a associação de Kobaya não adotou nenhum método moderno para aumentar a produção fora de temporada, por isso depende do esterco para produzir verduras o ano todo.
“Nossas verduras são cultivas e colhidas de forma natural, sem técnicas artificiais”, disse Ramata Touré, encarregada das vendas. “Com a ajuda de um trabalhador de extensão, dividimos nosso terreno em diferentes cultivos, segundo a estação do ano”, explicou. “Temos boas colheitas em cada um dos blocos de dez por dez metros dedicados a um cultivo particular: uma tonelada e meia de cebola, duas de tomate, duas e meia de repolho, bem como grandes quantidades de berinjela, cenoura e quiabo”, detalhou Dramane Fofana, também da extensão agrária, que se ofereceu como voluntária para ajudar o grupo de mulheres.
Para os horticultores comerciais dos arredores de Conacri, levar verduras ao mercado na estação seca, de novembro a abril, é fundamental, e em especial de janeiro a fevereiro. Em Cobaya, as mulheres converteram a horta em sua principal atividade fora de temporada. Suas verduras chegam ao mercado da forma mais simples, por meio da venda direta ou mediante um atacadista comunitário chamado “bana-bana”. Abdul Karim Bangura, que gerencia um amplo mercado de frutas e verduras no bairro de Madina, na capital, disse à IPS que cerca de 370 organizações lhe vendem produtos frescos, o que gera centenas de milhares de dólares ao ano.
O preço das verduras é muito variável na cidade, e o de produtos frescos chega a triplicar durante a época de relativa escassez. Ramatoulayé Touré, tesoureira da organização, estima que o ganho anual é de US$ 10 mil. “O dinheiro das vendas é dividido entre os integrantes do grupo após as deduções, em especial para pagar o arrendamento e comprar insumos”, explicou Touré à IPS. A maioria das integrantes com as quais a IPS conversou está contente com os resultados. “Consegui cerca de US$ 500 no final de 2011, e pude criar meus filhos e manter meu marido desempregado”, contou Hawa Dabo, mãe de cinco filhos.
Um dos desafios que enfrentaram foram as perdas, o que não foi vendido e o que se perdeu e foi jogado fora. Desde 2010, resolveram o problema processando parte do cultivo no lugar, e assim transformaram um problema em um benefício. “Agora fazemos pasta com as pimentas e cenouras. Conservamos em frascos e depois vendemos durante a estação seca, quando os preços sobem. Conseguimos o dobro”, destacou Dabo.
Segundo um estudo de 2009, feito pelo Crédit Rural da Guiné, uma instituição de microcrédito, “a população deste país é essencialmente rural, pois apenas 30% reside em áreas urbanas”. Na periferia da capital vigoram os títulos de propriedade tradicionais. A terra é adquirida por herança ou empréstimo, e a venda é proibida. “A urbanização é uma ameaça para os horticultores porque a terra escasseia”, disse Taliby Sako, gerente de um restaurante. “São obrigados a irem cada vez mais longe da capital. A maior distância aumenta o preço dos produtos. Um quilo de tomates custa oito vezes mais do que há oito anos”, acrescentou.
O grupo de Kobaya tem outras dificuldades. “Apesar ter barreiras naturais (como o cacto), não gostamos que os animais pastem sem supervisão. Não temos equipes nem produtos fitossanitários, o que prejudica a qualidade de nossa produção”, observou Camara. O Ministério da Agricultura encabeça o apoio do governo à horticultura comercial. Com ajuda de sócios internacionais, financia vários projetos para reduzir a pobreza. Um deles é o Projeto de Desenvolvimento Social, de US$ 7 milhões, que atraiu mais US$ 5 milhões do Fundo de Desenvolvimento Africano.
O projeto de dois anos, que terminará em dezembro, objetiva desenvolver a capacidade de produção, especialmente de mulheres pobres, ajudando em iniciativas geradoras de renda, como a horticultura. “Nosso grupo ainda não se beneficiou desse programa. Mas pensamos em nos registrar junto ao Ministério da Agricultura para ver o que podemos obter dessa ou de qualquer outra iniciativa”, afirmou Camara à IPS. Envolverde/IPS