Nações baleeiras impedem votação para a criação do Santuário do Atlântico Sul

Jersey, Reino Unido, julho de 2011- Em reunião da Comissão Internacional da Baleia (CIB) realizada quinta-feira (14) em Jersey, no Reino Unido, vinte países liderados pelo Japão, obstruíram, por falta de quórum, votação objetivando a criação de uma um santuário para proteger as baleias no Atlântico Sul.

Não houve consenso acerca da proposta inicialmente apresentada pelo Bloco Latino-Americano – conhecido como Grupo de Buenos Aires (ou GBA, na sigla em inglês) e liderado por Brasil e Argentina –e o Japão, sendo seguido por outros países, ameaçou boicotar a votação, caso esta fosse de fato realizada. Os representantes latino-americanos mantiveram-se firmes em sua posição e não coube ao presidente da CIB, Herman Osterhausen, outra alternativa senão convocar a votação, o que levou a delegação japonesa e seus aliados a se retirarem da sala, sob o olhar incrédulo dos demais delegados e participantes.

“A atitude das nações baleeiras e seus aliados é altamente indignante. Obstruir uma votação por falta de quórum bem demonstra o mais completo desrespeito pelo mais essencial instrumento democrático utilizado no mundo para a formalização de acordos. A sociedade civil latino-americana apóia o direito do Grupo de Buenos Aires de votar pela criação do Santuário do Atlântico Sul”, afirmou Marcela Vargas, gerente de programas da WSPA – Sociedade Mundial de Proteção Animal para a América Latina.

Depois de confirmada a impossibilidade da votação por ausência de quórum, os delegados se reuniram a portas fechadas por mais de quatro horas, mas também não houve consenso. Os representantes do Grupo de Buenos Aires se empenharam, contudo, para manter o tema em pauta. Ficou decidido, então, que a proposta pelo santuário será discutida novamente no próximo encontro da Comissão Baleeira Internacional, no Panamá, em 2012.

Lorenzo Rojas, delegado do México, afirmou que a atitude dos países baleeiros foi bastante infeliz, e que não deveria ser aceita em convenções internacionais como a CIB. Rojas, todavia, ressaltou que, contra a vontade das nações baleeiras, a discussão da proposta fica em aberto até 2012. “Eu acho que o texto final do relatório da presidência da CIB será muito positivo, pois mostrará todos os esforços que vimos envidando para chegarmos a um consenso. Mostrará também que somos maioria e que os países que menosprezaram os procedimentos democráticos deste órgão internacional terão os seus nomes devidamente identificados”, frisou.

A proposta para a criação do Santuário do Atlântico Sul já está na mesa de negociações da CIB há mais de 10 anos. No encontro de hoje, ela recebeu o apoio de quase todos os países europeus, além de outros, como a Índia, a Nova Zelândia e o principado de Mônaco.

Em outra sessão realizada antes do fim das discussões plenárias, a Itália, a França e algumas ONGs ofereceram doações de até 40 mil euros para atividades de pesquisa e proteção de cetáceos de pequeno porte.

Nota: delegações que se retiraram quando convocada a votação: Japão, Camboja, Camarões, Costa do Marfim, Gâmbia, Islândia, Noruega, Nauru, Mongólia, Mauritânia, Guiné-Bissau, Granada, Quiribati, Marrocos, Coréia, Gana, Palau, Togo, Tuvalu, São Cristóvão e Nevis e Santa Lúcia.