Tel Aviv, Israel, 2/4/2012 – Especialistas em tecnologia não tripulada se reuniram no mês passado em Israel e traçaram uma imagem futurista: as guerras, tanto por terra quanto por mar e ar, pertencerão aos robôs. Esta foi a ideia que parece ter dominado a última conferência da Associação Internacional para Sistemas de Veículos Não Tripulados (AUVSI) realizada entre os dias 20 e 22 em Tel Aviv.
Os campos de batalha modernos levam cada vez mais os soldados ao limite, que devem transportar pesados equipamentos nas costas, o que às vezes atrapalha seu desempenho em combate. O robô REX field-porter poderia se converter no melhor amigo do soldado: pode carregar 200 quilos de equipamentos.
Projetado pela estatal Indústrias Aeroespaciais de Israel (IAI), esta plataforma movida por controle remoto procura melhorar o desempenho das tropas, facilitando a entrega de equipamentos aos soldados sem que estes tenham que carregá-los. O principal incentivador do desenvolvimento de sistemas robóticos para a guerra é Israel, “que procura ir além de suas possibilidades”, afirmou o vice-presidente de comunicações da AUVSI, Brett Davis.
Na guerra do Yom Kipur, em 1973, as baterias antimísseis sírias no Líbano causaram grande dano nos aviões de combate israelenses. Por isto, o Estado judeu decidiu criar um moderno programa de veículos aéreos não tripulados que utilizou um ano depois. David Harari foi o pioneiro do programa de aviões não tripulados do IAI. “A ideia era construir um pequeno sistema que transportasse uma câmara diurna para informação em tempo real”, explicou o consultor principal.
Os primeiros aviões movidos por controle remoto foram usados por Israel na guerra contra o Líbano, em 1982. Embora também fossem usados métodos de reconhecimento convencionais, essas aeronaves forneceram informação de radar que permitiram aos jatos israelenses destruir cerca de 30 baterias antiaéreas e mais de 80 caças russos MIG. Nem um só desses aparelhos israelenses foi derrubado. “Isso foi uma verdadeira descoberta. Logo, tínhamos um campo de batalha de quatro dimensões. E isto revolucionou a doutrina militar”, recordou Harari.
Especialistas israelenses obtiveram seus conhecimentos de sua própria experiência militar. “Sou um civil e um soldado da reserva”, explicou Harari. “Minha equipe construiu o esquadrão de aviões não tripulados da Força Aérea de Inteligência. Como participávamos de operações militares, desenvolvíamos estes sistemas”, acrescentou.
“Não são sistemas teóricos de laboratório”, ressaltou Davis. “São rapidamente colocados em prática e aperfeiçoados com a experiência. A concentração está nos resultados. Os militares dos Estados Unidos passaram por uma experiência semelhante”, contou. As forças dos Estados Unidos utilizaram aviões não tripulados no Iraque, Afeganistão e Iêmen.
“O exército dos Estados Unidos colocou no ar o Shadow (baseado em um desenho israelense) por mais de um milhão de horas, e o Predator, que possui mísseis, também é muito usado”, detalhou Davis. O Heron TP2 é o maior avião não tripulado e mais preciso no arsenal de Israel. Imita o norte-americano Predator. Com envergadura de 24 metros (semelhante à de um Boeing 737) e um peso máximo de decolagem de cinco toneladas, pode alcançar altitude de 13.700 metros e voar por até 40 horas.
As aeronaves por controle remoto israelenses patrulham incansavelmente os céus da Faixa de Gaza. São acusados de causar danos a civis. Organizações de direitos humanos dizem que estes aviões são imprecisos e matam civis quando perseguem supostos combatentes islâmicos. Porém, Harari assegurou que Israel não utiliza aeronaves teledirigidas com armas, mas exclusivamente com sistemas de apoio para detectar mísseis e avaliar a precisão de suas operações.
No entanto, especialistas afirmam que o avião Heron pode ser configurado para transportar armas, e tem alcance e autonomia suficientes para operar em distantes linhas inimigas, como o Irã, por exemplo. “Graças aos sistemas de comunicação via satélite, o Heron tem um imenso alcance”, disse o conselheiro Dan Bichman, da IAI.
No mês passado, funcionários de defesa israelenses confirmaram um acordo para venda de armas no valor de US$ 1,6 bilhão para o Azerbaijão, incluindo aviões não tripulados. Esse convênio coloca tecnologia de vigilância israelense mais próxima do Irã. Funcionários dos Estados Unidos citaram um informe indicando que Israel havia assegurado acesso a bases aéreas no Azerbaijão.
“Nosso papel é fornecer artefatos e sistemas para coleta de informação. O que os militares fazem, não sei”, se esquivou Harari. É possível que a nova geração de veículos com controle remoto seja nanotecnológica. “As necessidades operacionais nos levam a desenvolver sistemas miniatura”, indicou Bichman. Envolverde/IPS