Não vou rimar com animal nem com boçal, seria uma falta de respeito pessoal. Cabral, não o Pedro Álvares, o descobridor desta gloriosa e gentil terra, mas o Serginho, o Serginho Cabral que não queremos rimar com animal, nem com boçal, cuja rima é o grande capital.
Serginho Cabral que representa o capital, o lucro e a exploração, os ‘negocinhos e negoções’.
Aquele que só quer a submissão sem igual, desculpe a rima. Salário mais do que baixinho para todo mundo, sem nenhuma distinção social, desculpe outra vez, mais uma rima.
Funcionário é funcionário; contracheque é contracheque. Qualquer alteração, insubordinação, imediatamente inquérito e mandado de prisão.
– Ó seu Cabral, ó seu Cabral, o funcionário público não é fruta podre do seu quintal.
– Ó seu Cabral, ó seu Cabral, o salário é letal, é tão pequeno que não faz nem um mingau.
Seja o branco do médico, da enfermeira, seja o vermelho do bombeiro, todos os funcionários recebem uma dose fatal: aumento de trabalho e responsabilidades, já o salário vai minguando, minguando, e a privatização vai crescendo, crescendo.
Serginho, Serginho capital, nestas plagas não tem igual, como servidor você é um exemplo maior, serve ao banqueiro, ao industrial multinacional, ao capital em geral… que legal!
Serginho Cabral, você com a mídia não tem igual, compra barulhos e silêncios de forma sensacional. Mídia amestrada, adestrada e maternal, que o coloca sempre em primeiro plano, como se fosse um vice-rei, excluindo e sufocando os “súditos”. Que genial!
Beijinhos para lá, beijinhos para cá, abracinhos para lá, abracinhos para cá, afaguinhos para lá, afaguinhos para cá, parece um papagaiozinho de pirata, sempre correndo atrás de quem manda, para tirar uma casquinha, obediente e subserviente, perfumadinho, belo e cheiroso como uma flor, mas cheio de espinhos no seu corpo.
Falando sério, sr. Sergio Cabral, chega de chamar os médicos de vagabundos, os bombeiros de vândalos, professores de incompetentes. Os servidores públicos do Rio de Janeiro só querem justiça, qualificação, que o sinhozinho tanto desqualifica nos seus arroubos de prima-dona.
Seu papel é valorizar o que é público, e não ser um clone do capital privatizante, não desqualificar, e sim valorizar, mediar as questões, esse o seu papel. O que nós pedimos vai ser difícil de acontecer: quem nasce Serginho nunca vai ter uma visão nacional.
O Brasil está cheio de serginhos. Chega de serginhos, parece que todos são iguais, governando (governando?) de forma arrogante e autoritária.
Investir no servidor público é investir no país. O serviço público é genuinamente nacional, a escola, o hospital, a universidade, pertencem à população. Desqualificá-lo é entregar o país ao grande capital. Privatizá-lo, amordaçá-lo é um grande crime sem igual..
Apesar de vocês, senhores serginhos, tudo passa, nada é eterno. A História é uma grande roda que gira, muitas vezes muito lenta, outras vezes muito rápida, nada é para sempre.
Não rimar com animal, nem com boçal, seria falta de respeito pessoal. Vou rimar Cabral com um simples mortal, que chega a ser banal. Para ser estadista, sr. Sergio, precisa maturidade e humildade, sabedoria pura.
Alguns ditados populares para encerrar. “A união faz a força”, “Antes tarde do que nunca”, “As aparências enganam”, “Com fogo não se brinca”, “As fezes é que mudam, as moscas são as mesmas”.
Com todo respeito, senhores serginhos, Cabral ou não, deixo para você ilustre leitor a rima final.
* Daniel Chutorianscy é médico.
** Publicado origianlmente no site Correio da Cidadania.