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Navios sul-africanos rumam para o Leste

Imagem ilustrativa. Foto: Divulgação/Internet

Johannesburgo, África do Sul, 13/12/2012 – A África do Sul experimenta uma significativa mudança em sua política comercial, com uma nova ênfase em países emergentes, particularmente China e Índia, à custa de seus tradicionais sócios no Norte industrializado. Mike Schussler, diretor executivo da consultoria Economists.co.za, com sede em Johannesburgo, analisa a evolução do comércio sul-africano desde 1998. “Houve mudanças importantes desde então”, disse à IPS.

“A China se converteu na capital industrial do mundo, e muitos produtos minerais sul-africanos vão para esse país, enquanto a Índia se converteu em um importante centro industrial e de serviços”, explicou Schussler. Em 1998, os cinco principais destinos das exportações africanas eram Grã-Bretanha, Estados Unidos, Alemanha, Japão e Holanda, enquanto a China ficava em oitavo lugar, detalhou.

Em 2008, os cinco primeiros foram Japão, Estados Unidos, Alemanha, Grã-Bretanha e China, enquanto a Índia aparecia em sétimo lugar, segundo informação do Departamento Sul-Africano de Comércio e Indústria. Dados dos primeiros nove meses deste ano indicam que agora a China é o destino número um, seguida por Estados Unidos, Japão e Alemanha, com a Índia no quinto lugar.

“Dois dos cinco primeiros são atores Sul-Sul, pois China e Índia integram a aliança Brics” (completada por Brasil, Rússia e África do Sul), destacou Schussler. “Prevejo que, para 2015, a Índia estará entre os três principais destinos de exportação, superando Japão e Alemanha”, acrescentou, lembrando que, apesar de o comércio intrarregional continuar sendo modesto, foi registrado aumento das exportações sul-africanas para o restante da África.

Por outro lado, em lugar de importar do mundo rico, a África do Sul compra cada vez mais de nações emergentes. Os seis países que mais vendem para a África do Sul “são China, Alemanha, Arábia Saudita (fundamentalmente petróleo), Estados Unidos, Japão e Índia”, informou Schussler. “Além do petróleo, importamos principalmente bens de consumo e bens de capital, e é por isso que a China se coloca tão bem. Não fabricamos telefones celulares e, no entanto, há mais desses aparelhos no país do que pessoas”, acrescentou.

Schussler sustentou que a África do Sul poderia ampliar o leque de suas exportações se apoiar alguns setores em particular. “Fabricamos automóveis para exportar, mas, talvez, nossa vantagem maior esteja na agricultura”, afirmou. “Se dermos aos nossos produtores um pouco de proteção e subsidiarmos nossa agricultura, ela poderia ir muito bem. Deveríamos nos concentrar no setor da alimentação”, ressaltou.

O especialista recordou que a África do Sul teve que deixar de exportar carne de avestruz, depois que foi detectada uma cepa de gripe aviária. “Mas isso não teria que significar o fim do assunto. Se há problemas de saúde com a carne de avestruz crua, por que não cozinhá-la e depois exportá-la, desta forma agregando valor a ela?”, questionou. Além disso, afirmou que as exportações de carne de avestruz cozida não sofreriam as mesmas restrições que as de carne crua.

Schussler também propõe maior impulso para o comércio com os países vizinhos. “O resto da África cresce duas vezes mais rápido do que a África do Sul, e realmente poderíamos impulsionar nossas exportações se oferecêssemos mais bens de consumo, em particular para a região. Além disso, podemos fornecer mais serviços à região, como transporte de bens e turismo”, pontuou.

A África do Sul somou-se ao então Bric na cúpula do grupo realizada em abril de 2011, na China. No próximo ano, o presidente Jocob Zuma será o anfitrião da nova reunião de chefes de governo do bloco na cidade de Durban. Houve muitas críticas à inclusão da África do Sul nessa aliança, pois os demais membros são economias maiores. No entanto, Schussler destacou o peso político e estratégico deste país. “A África do Sul não é membro por direito próprio. Mas tem um lugar no Brics como representante da África”, explicou.

Por sua vez, o consultor de relações internacionais John Maré, de Pretória, afirmou que o novo enfoque comercial da África do Sul não deve deixar de lado os históricos laços com o Norte industrial. “Esperamos poder fortalecer nossos bem estabelecidos laços comerciais com o Ocidente, ao mesmo tempo em que desenvolvemos outros com a África subsaariana e com toda a comunidade global. O contexto dos Brics é especialmente importante, mas não é o único”, disse à IPS.

“A África do Sul deve ser capaz de ajudar a criar diversas associações, junto com outros atores africanos”, enfatizou Maré. “Se manejarmos isto bem, a África do Sul poderá se converter em uma central, uma intersecção do mercado mundial”, afirmou. Uma forma de cultivar esses laços entre as nações é assegurar que os chefes de governo sempre viajem com delegações comerciais. Portanto, é provável que a África do Sul queira ver não apenas políticos na próxima cúpula do Brics, mas também empresários.

Como explicou Schussler, a evolução do comércio sul-africano nos últimos anos, até certo ponto, esteve determinada pelas grandes mudanças na economia global, com o crescimento de China e Índia. Mas estas transformações vão em linha com um desejo próprio do governo africano, de fortalecer os laços comerciais com outras nações líderes, e por isso é de se esperar que sua atenção continue concentrada no Brics e no sul em desenvolvimento. Envolverde/IPS