Neates estimula economia solidária no Rio

Espaço Solidário de Rio das Ostras, onde artesãos vendem seus trabalhos.

Dona Conceição é uma senhora simples de Magé, município da região metropolitana do Rio de Janeiro. Todos os dias ela prepara seus crochês, bolsas e outros produtos artesanais para vender em feiras e espaços ligados à economia solidária. Feliz, ela sabe da importância de seu trabalho para a melhoria da renda e da qualidade de vida de sua família. Mas não foi sempre assim!

Se hoje ela tem um conhecimento que lhe permite pensar seu produto de forma completa, passando pelo planejamento e design, até a definição de preço e venda, antes, Conceição produzia seus artesanatos para então vendê-los conforme sua necessidade. Tudo ficava guardado em um armário. Se precisasse de cinco reais, ia lá a senhora para a rua vender alguma de suas peças por aquele mesmo valor. O pior é que ela não sabia que, muitas vezes, o custo do produto era muito superior ao seu preço final.

A exemplo dessa senhora, muitos outros pequenos empreendedores ligados à economia solidária do Rio de Janeiro penam para fechar suas contas no fim do mês. Em 2007, segundo a Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), órgão ligado ao Ministério do Trabalho e Emprego (MET), estavam em operação no Rio de Janeiro 1.343 Empreendimentos Econômicos Solidários (EES). Sem noção nenhuma de como tocar o negócio de maneira sustentável (em todos os sentidos da palavra), muitos deles desistiram no meio do caminho.

Foi com o objetivo de melhorar a situação de pelo menos uma parcela desses empreendimentos que o Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável (CIEDS) – por meio de um projeto piloto da SENAES – implantou no RJ o Núcleo Estadual de Assistência Técnica a Empreendimentos Solidários (NEATES). Em dois anos de atividades financiadas pelo MTE, período esse finalizado em meados deste mês, a iniciativa atuou em mais de 20 municípios, totalizando 3.613 horas de assessoria a EES, 144 horas de jornadas de estudos e seis seminários. Também ajudou a fomentar a criação de fóruns locais de economia solidária, a criar um banco de dados com informações sobre empreendedores e seus produtos, a auxiliar gestores públicos na elaboração de novos projetos e a fortalecer inúmeras atividades, como feiras, eventos e reuniões em diversas partes do estado. Assim, os responsáveis pelo projeto estimam que a iniciativa tenha beneficiado 877 pessoas diretamente e outras cerca de 930 indiretamente.

“Oferecemos as ferramentas para que esses empreendimentos prosperem”, explica Sérgio Pereira, gerente do projeto. “Ensinamos pontos ligados à gestão, ao design, à venda e também o conceito dos 4Ps (produto, preço, promoção e praça). Hoje, quem passou por nossa assessoria tem condições de entender tudo isso”, completa.

Margareth Azevedo, do Espaço Solidário de Rio das Ostras, é prova disso. Para ela, o projeto desenvolvido pelo CIEDS foi além das expectativas. Segundo a artesã, as pessoas de seu grupo passaram a compreender melhor a importância do planejamento, trabalho em equipe e redes de cooperação, percebendo que podiam se emancipar dos programas assistencialistas.

“Não recebemos apenas formação técnica, mas fortalecemos nossas atividades”, conta Margareth. “Éramos fracos, mas os assessores (da organização) nos mostraram que era possível melhorar nosso comércio. Tanto conseguimos, que agora mais artesão querem se juntar a nós. Hoje posso dizer que existimos”, comemora.

Outra empreendedora da economia solidária que celebra o sucesso do programa é Aneilda dos Santos, de Duque de Caxias. A artesã, uma forte liderança local, reclama que nenhum projeto social chega à região. “É difícil até mesmo sair daqui para ir até a cidade fazer um curso, porque somente para isso já precisamos de pelo menos 20 reais por dia”, lamenta. Por essa razão, ela ficou feliz da vida quando o NEATES chegou até sua comunidade. “Agora, sabemos até fazer planilha e trabalhar com computador. Esta semana mesmo vou buscar o meu”, conta ela referindo-se ao treinamento recebido e ao equipamento que seu grupo ganhou da iniciativa.

“Acreditamos que a experiência de fomentar a criação de oportunidades por meio do comércio justo e da economia solidária é algo revolucionário, inclusivo e anúncio de um novo modelo de desenvolvimento que equilibra forças econômicas, sociais e ambientais”, enfatiza Fábio Muller, coordenador executivo do CIEDS. “Fechamos este ciclo de dois anos com a certeza do dever cumprido e de termos fortalecido a economia solidária no estado do Rio de Janeiro”, conclui.

* Publicado originalmente no Mercado Ético.