G77 mais a China não abrem mão de discutir a extensão do Protocolo, que termina em dezembro de 2012, enquanto nações industrializadas insistem que não há porque continuar a debater algo que não foi capaz de controlar as emissões.
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Apesar da ONU já ter reconhecido que não há mais tempo para evitar que exista um intervalo entre o término do Protocolo de Quioto e o início de um novo acordo climático, as negociações climáticas em Bonn, que concluem nesta sexta-feira (10) sua primeira semana, seguem focadas nesta discussão.
O bloco do G77 mais a China, que tem atualmente na presidência o embaixador argentino Jorge Arguello, afirmou que a prioridade da rodada deve ser estender Quioto.
“Estamos deixando bem claro que o compromisso dos negociadores é debater como manter o Protocolo em funcionamento. O mundo não pode perder o único acordo que possui para limitar as emissões de gases do efeito estufa”, declarou Arguello.
Trata-se da mesma posição do BASIC, que reúne Brasil, África do Sul, Índia e China. Ministros desses países estiveram reunidos no final de maio e divulgaram um documento no qual confirmam uma posição conjunta em defesa de um segundo período de compromissos sob o Protocolo.
Do outro lado da briga estão Estados Unidos, Japão, Rússia e Canadá, que já anunciaram oficialmente que não desejam a continuidade de Quioto. Segundo eles, o Protocolo não foi eficiente para reduzir as emissões (2010 bateu o recorde histórico com 30,6 gigatoneladas de CO2) e apresenta ainda a falha de apenas obrigar as nações mais ricas a terem metas.
Reforçando essa noção de que os países emergentes não podem mais ser tratados de forma diferenciada, dados divulgados nesta quinta-feira (9) mostram que as emissões chinesas aumentaram 10,4% em 2010 em comparação com o ano anterior, consolidando a China como o maior emissor do planeta pelo terceiro ano seguido.
“Estou entristecido em participar dessas negociações, a atmosfera aqui é de confronto”, afirmou Akira Yamada, líder da delegação japonesa, à agência Reuters.
Diante dessa divisão entre as nações, Bonn pouco tem conseguido avançar sobre qualquer tema. Dentro do formato da ONU, as negociações apenas prosseguem quando é alcançada a unanimidade sobre determinado assunto, o que não poderia ser mais utópico neste momento com cada país defendendo seus próprios interesses.
Para se ter idéia de como os diplomatas são focados em beneficiar seus países, a Arábia Saudita acaba de por em pauta a discussão de compensações para produtores de petróleo que se sentirem prejudicados por políticas climáticas que levem a queda do comércio do recurso.
Enquanto isso, Christiana Figueres, a presidente do braço climático da ONU (UNFCCC), tenta fazer com que os negociadores voltem a debater as decisões firmadas na Conferência do Clima de Cancún (COP 16) no ano passado.
Questões como financiamento climático, transferência de tecnologias e melhorias em mecanismos como a redução de emissões de desmatamento e degradação florestal (REDD) devem ser lapidadas para que na próxima COP, na África do Sul, no fim do ano, seja possível adota-las.
“Como navios testando as águas, todos os países estão analisando uns aos outros. As negociações devem começar de verdade nas próximas duas semanas(…) A estrada para Durban ainda está cheia de obstáculos”, concluiu Li Yanduan, líder da delegação chinesa.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.