Contrariando as baixas expectativas de que um novo acordo climático global ou a extensão do Protocolo de Quioto seriam firmados, Artur Runge-Metzger, líder da comissão climática da União Europeia, declarou em entrevista à EurActiv que acredita que um pacto climático é uma alternativa plausível para a 17ª Conferência das Partes da ONU (COP17), que acontece entre 28 de novembro e 09 de dezembro em Durban, na África do Sul.
“Estamos esperançosos de que haverá um resultado, e em termos do que estamos ouvindo e vendo nas últimas semanas, acreditamos que um acordo é possível”, confirmou Runge-Metzger.
E o líder da delegação climática europeia parece não ser o único a sustentar essa opinião. Outro negociador climático presente em Durban observou que “haverá um forte impulso e há uma chance melhor do que nunca de que chegaremos à prolongação do Protocolo de Quioto, a menos que algo dê muito errado”.
Runge-Metzger acredita também que a ideia de criar um roteiro para a extensão do Protocolo de Quioto ou para a concepção de um tratado semelhante está ganhando terreno. Segundo ele, países em desenvolvimento como os da África, da América do Sul e as pequenas nações insulares apoiam o plano. “Um dos poucos países que disse que acha que isso é prematuro em Durban é a China. A China é um parceiro de negociações difícil neste contexto”, lamentou.
O negociador climático também afirmou que estabelecer um prazo para 2015 é necessário para se poder levar em consideração estudos que serão apresentados em 2014 e 2015, como o do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e a Análise da ONU.
“Muitas pessoas dizem que a UE está adiando qualquer tipo de ação para até depois de 2020. Isso não é o caso, porque a próxima rodada de negociações terá que depender de ciência mais recente”, justificou.
Runge-Metzger comentou também sobre os recentes relatórios do IPCC, da Organização Mundial de Meteorologia (OMM) e da Agência Internacional de Energia (AIE), que, respectivamente, estreitam a ligação entre as mudanças climáticas e a ação do ser humano, apontam que a concentração de gases do efeito estufa é a maior já registrada e que a ‘porta’ para limitar o aumento da temperatura global em dois graus Celsius pode ‘se fechar’ em 2017.
“Você não fecha a porta, mas torna isso fenomenalmente difícil. Portanto, também precisamos ver uma ação antes desse tempo, com certeza. E todos terão que implementar o que prometeram em Cancún e ver se mais progresso pode ser feito”, enfatizou o líder da comissão climática.
No entanto, Runge-Metzger lembrou que todas as questões só serão decididas nos quatro últimos dias do encontro, quando os ministros dos governos chegarão à reunião. “Essas são decisões políticas que virão na última noite, então quando você vir você saberá”.
Ainda assim, o negociador climático ressaltou a importância de se chegar a um acordo. “Se os negociadores não puderem chegar a uma conclusão, acho que as pessoas de fora perderão sua fé nesse processo de negociação. Provavelmente haverá implicações muito significativas. O público e os chefes de estado estão assistindo bem de perto e isso também coloca o processo muito mais sob pressão”, concluiu.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.