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Netanyahu forçado a ceder sobre o Irã

Netanyahu se mostra inflexível com o Irã, mas parece obrigado a ceder. Foto: Pierre Klochendler/IPS
Netanyahu se mostra inflexível com o Irã, mas parece obrigado a ceder. Foto: Pierre Klochendler/IPS

 

Jerusalém, Israel, 28/10/2013 – Israel continua insistindo com as potências que negociam com o Irã a não aceitarem menos que um desmantelamento completo do programa nuclear desse país. Porém, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu se veria obrigado a moderar sua demanda. Enquanto em Genebra aconteciam, na semana passada, as conversações entre Irã e o P5+1 (China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia, mais Alemanha), Netanyahu passava em revista um regimento na fronteira com a Síria, nas ocupadas Colinas de Golã.

“Seria um erro histórico aliviar a pressão sobre o Irã sem que antes este desmantele sua capacidade nuclear”, afirmou o primeiro-ministro. “Neste momento, o Irã está vulnerável. É viável aplicar sanções a toda força para obter os resultados desejados. Insisto com a comunidade internacional para que o faça”, acrescentou. A primeira rodada de negociações em Genebra, na Suíça, teve resultado positivo, mas ignorou o chamado de Netanyahu para endurecer as sanções contra Teerã. “Há um princípio de acordo para adotar um enfoque gradual”, disse o analista Shlomo Bron, do Instituto para Estudos de Segurança Nacional, com sede em Tel Aviv.

Bron acrescentou que “o Irã quer uma eliminação substancial das sanções na fase inicial e está disposto a fazer apenas umas poucas concessões. O P5+1 pede exatamente o oposto. As negociações consistirão na criação de um processo suficientemente sábio para atuar entre esses dois polos”. Daí a insistência de Israel para que o P5+1 não baixe a guarda, sobretudo quando os negociadores estariam considerando um alívio das sanções em troca de Teerã prometer reduzir seu plano de enriquecimento de urânio.

“Quanto mais pressão houver sobre o Irã, maiores possibilidades terá a diplomacia. Por essa razão, seria estúpido aliviar as sanções antes de se concretizar uma solução satisfatória”, afirmou à IPS o ministro de Assuntos Estratégicos e de Inteligência de Israel, Yuval Steinitz. “Nosso pedido, nossa demanda, nossa política e a forma como tentamos convencer nossos aliados se resumem no seguinte: vocês exerceram uma efetiva pressão sobre o Irã. Não deixem que entre em colapso”, disse à IPS o legislador israelense Tsahi HaNegbi, do Comitê de Assuntos Exteriores e Defesa, e colaborador próximo de Netanyahu.

Entretanto, estão longe os dias em que Israel ameaçava o Irã para que não enriquecesse urânio a 20%, o nível necessário para fabricar armas atômicas. Teerã se comprometeu a não enriquecer mais de 250 quilos de urânio a 20%, que seria a quantidade necessária para uma bomba. O Irã instalou mais de mil centrífugas avançadas com as quais quintuplicou sua capacidade de enriquecer urânio, mas sempre em um nível inferior a 20%. A linha vermelha traçada por Netanyahu se tornou irrelevante.

Então, o primeiro-ministro se dirigiu à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e voltou à sua reclamação básica: que o Irã desmantele toda sua infraestrutura de desenvolvimento atômico. Consciente de que não é parte negociadora, Netanyahu fortaleceu o papel de Israel com uma postura mais intransigente, pessimista e moralista. “Se Israel se vir sozinho, resistirá por si só. E, estando só, saberá que está defendendo muitos outros”, afirmou na Assembleia Geral este mês.

As conversações de Genebra recomeçarão logo, e se trabalha um prazo de seis a 12 meses para concluir um acordo. O tempo é essencial para Israel, como destacou HaNegbi: “O prazo se tornou eterno para nós. As negociações com o Irã levam mais de uma década. Já estamos sem tempo. Não vamos esperar por outros, digamos, nove meses”, afirmou. Steinitz tampouco foi otimista. “Os iranianos podem facilmente suspender o enriquecimento de urânio por um tempo e depois recomeçar”, afirmou. Entretanto, se mostrou disposto a esperar um pouco mais. “Se os iranianos congelarem alguma atividade, o prazo será razoável”, acrescentou.

Bron afirmou que “um Irã cauteloso não provocará as partes durante esse período. Por isso, não importa que as conversações durem um ou mesmo dois anos, sempre e quando o resultado seja um acordo satisfatório. Não se suspenderá mas se congelará o desenvolvimento econômico iraniano, e, portanto, haverá mais tempo para negociar”. O tempo também é importante para Israel porque deseja a todo custo impedir que Teerã alcance o nível tecnológico que lhe permita, se assim decidir, fabricar uma arma nuclear.

O tempo que o Irã levará para chegar a esse nível dependerá do número e da eficácia das centrífugas que possui e da quantidade e qualidade do material nuclear que acumular, além da forma como lidar com as inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Os negociadores devem assegurar um acordo que inclua uma série de parâmetros para impedir que o Irã alcance esse desenvolvimento tecnológico.

“Netanyahu não conseguirá tudo que quer. Desmantelar completamente o programa nuclear iraniano demorará cinco anos, precisamente o mesmo tempo que um país necessita para produzir uma arma nuclear do nada. Isso não acontecerá”, opinou Bron. No entanto, um acordo “que permita ao Irã possuir uma bomba, embora não em alguns meses, mas dentro de dois ou cinco anos, não é um sucesso”, respondeu HaNegbi. “Enquanto isso, serão eliminadas as sanções, cuja implantação demorou anos, e renová-las será impossível. Não ficará nenhuma forma de pressão”, lamentou.

No começo deste mês, a força aérea israelense realizou um exercício sobre águas gregas, com simulações de combate e reabastecimento no ar. Mas é um segredo conhecido que especialistas e altos comandos militares israelenses duvidam da eficácia de uma ofensiva contra o Irã. Um ataque preventivo de Israel apenas adiaria uns poucos anos o progresso do Irã rumo à capacidade nuclear, mas não o deteria, destacou Bron.

“O objetivo é impedir que o Irã se converta em uma potência nuclear. É sabido que um acordo é melhor do que uma operação militar se apresentar os mesmos resultados”, afirmou Bron. “Além disso, um acordo vem acompanhado de compromissos para realizar inspeções e a adoção de sistemas de verificação. Netanyahu não terá outra opção que não seja aceitar um acordo assim”, acrescentou. Envolverde/IPS