Paris, França, 22/6/2011 – A pobreza segue incólume nos países africanos apesar do grande crescimento econômico registrado em muitos deles na década passada, pelo fato de os investidores se concentrarem na indústria extrativa e não na agricultura, à qual está ligada a maior parte da população, afirmou o especialista Jan Rielaender. A bonança econômica da região se deve ao bom desempenho da indústria do petróleo e de outras atividades extrativas, com um efeito mínimo na redução da pobreza, disse Rielander, um dos autores do estudo Perspectiva Econômica Africana 2011.
[media-credit name=”Ercan Baysal” align=”alignright” width=”214″][/media-credit]Cerca de 75% do investimento estrangeiro na África se radicaram nos países ricos em hidrocarbonos e minerais, mas com poucos vínculos com o resto da economia local e, por fim, com a população mais pobre. A frágil resposta da “redução da pobreza” ao crescimento econômico se deveu em parte a este não estar vinculado aos setores onde trabalham os mais pobres, insistiu Rielander, integrante do Centro de Desenvolvimento da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE).
O alto preço dos combustíveis e dos minerais, principais produtos de exportação da região, foi o principal fator do crescimento econômico de muitas das nações africanas entre 1996 e 2008. O estudo, publicado este mês, é resultado do esforço conjunto da OCDE, do Banco de Desenvolvimento Africano, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e da Comissão Econômica para a África. Apenas três, dos 14 países africanos com produto interno bruto anual superior à média regional de 5,3% entre 2001 e 2009, registraram uma substancial queda da pobreza.
A falta de correlação entre crescimento e redução da pobreza deve obrigar os “governos africanos a concentrarem seus esforços imediatos na geração de emprego, investir em serviços sociais básicos e promover a igualdade de gênero”, destacou Rielander à IPS. Para atender à falta de correlação entre “o crescimento e a redução da pobreza”, o estudo exorta os governos africanos a “adotarem ações simultâneas em várias frentes”. O crescimento econômico melhorará o desenvolvimento humano somente se for inclusivo e dirigido aos pobres.
“Destinar dinheiro ao setor social gerará um desenvolvimento sustentável se o investimento estiver acompanhado de esforços para criar mais oportunidades que beneficiem grandes segmentos da população”, acrescentou Rielander. O estudo também recomenda políticas de desenvolvimento regional que promovam diferentes setores econômicos e reduzam a dependência em matérias-prima com minerais e cultivos comerciais. “Uma política industrial no setor farmacêutico poderia ser uma medida adequada para criar emprego e alcançar objetivos sociais na África”, mediante a produção local de remédios genéricos, explicou.
Agências internacionais, como a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento, e organizações humanitárias, como a Médicos Sem Fronteiras, pediram urgência aos governos africanos na criação de planos de industrialização para produzir medicamentos localmente, indispensáveis para lutar contra o HIV/aids, a malária e a tuberculose.
Dessa forma, a região se beneficiará das atuais exonerações de requisitos internacionais em matéria de propriedade intelectual, como patentes de medicamentos que vencerão em 2016. Uma política desse tipo é exequível em algumas nações africanas, segundo Rielaender. “Quando se fala de política industrial nos países em desenvolvimento, também se fala de proteger a indústria nascente. Mas as empresas criadas desse modo devem ser suficientemente eficientes para evitar a má distribuição e o desperdício dos escassos recursos”, acrescentou.
A África conseguiu lidar relativamente bem com o impacto da crise financeira global, afirmou Rielaender. Entretanto, alertou que os conflitos no Norte da região e a inflação no preço dos alimentos e dos combustíveis reduzirão novamente o crescimento do continente, estimado, em média, em 3,7% para este ano. Ele explicou que a recuperação africana após a crise global se baseou principalmente na emigração das atividades econômicas, dos países da OCDE na Europa e América do Norte para as economias emergentes da Ásia e América do Sul.
A mudança se reflete no intercâmbio comercial da África com o resto do mundo. A China superou, em 2009, os Estados Unidos e se converteu no principal sócio comercial dos países africanos, cujo comércio com seus sócios emergentes cresceu de 23% para 39% nos últimos dez anos. Os cinco primeiros sócios comerciais da África são China (38%), Índia (14%), Coreia do Sul (7,2%), Brasil (7,1%) e Turquia (6,5%). Outro fator favorável à economia africana, em geral, é a “boa gestão macroeconômica” da última década, destacou Rielaender. “A inflação permaneceu relativamente baixa e o alto preço da matéria-prima levou a um aumento da renda do continente”, explicou. Envolverde/IPS