Os dados mais recentes informados pelo site mostram que a violência contra jornalistas aumentou significativamente durante o governo do presidente Jair Bolsonaro. Esse tipo de ocorrência subiu de 100 em 2018 – último ano do governo de Michel Temer – para 183 em 2019, primeiro ano da gestão Bolsonaro, e para 302 em 2020. Em 2021, esse número foi de 150, uma queda em relação ao ano anterior, mas ainda assim superior ao registrado antes da posse do atual governo. “Acredito que essa queda se explica pela não notificação”, afirma a professora Elizabeth. “2021 foi o ano do auge da pandemia de covid-19, e a Fenaj teve dificuldade de coletar as denúncias.”
A professora Daniela Oswald Ramos, do Departamento de Comunicações e Artes da ECA – também coordenadora do site –, concorda com Elizabeth, destacando que o crescimento da violência contra jornalistas tem relação com o contexto político do Brasil. Ela lembra que o governo de Jair Bolsonaro atacou jornalistas sistematicamente, tendo o seu nome relacionado a 261 casos de hostilidade aos profissionais de imprensa. Há pelo menos sete registros em que os agressores são identificados como apoiadores de Bolsonaro. “Esses grupos extremistas precisam hostilizar e desqualificar o jornalismo como estratégia de desinformação”, diz Daniela.
A imprensa é o inimigo natural desse tipo de estratégia populista de política”, afirma Daniela.

Em 2013 também houve aumento de casos de violência contra jornalistas, como mostra o site. Foram 185 casos, um aumento de 112 registros em comparação com o ano anterior. O contexto das agressões eram as chamadas Jornadas de Junho, em que os manifestantes protestavam contra o preço da tarifa do transporte público e criticavam o jornalismo hegemônico, que ignorava os protestos ou os caracterizava como vandalismo. “O momento da mudança foi quando uma repórter da Folha de S. Paulo foi atingida por uma bala de borracha e, a partir disso, passou a denunciar a violência policial”, destaca Daniela. “Também teve o caso em que o jornalista Caco Barcellos e sua equipe foram hostilizados no Largo da Batata (zona oeste de São Paulo) enquanto cobriam as manifestações.”
A professora Daniela Oswald – Foto: Reprodução/LinkedIn

Agressões contra jornalistas de 1982 a 2021 – Foto: Reprodução/Obcom
Outro dado apontado pelo site é a maior incidência de registros de agressão nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro e no Distrito Federal. Para a professora Elizabeth Saad, isso tem relação com a presença nesses locais da mídia hegemônica, que recebe maiores ataques. “Entretanto, não podemos nos esquecer do Brasil profundo, onde famílias poderosas são donas dos veículos de comunicação ou muito influentes. Ali, denunciar é colocar sua vida profissional e sua integridade física em risco”, reforça.
Elizabeth compara a situação com o caso da jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo. O jornal deu suporte à jornalista na denúncia de agressão de cunho sexual feita pelo governo. “Esse tipo de situação, em que as empresas de comunicação dão suporte ao jornalista agredido, não acontece no Brasil profundo, e ainda algumas agressões partem de pessoas do próprio jornal.” Por isso, a existência de poucos registros de agressão nos demais Estados do Brasil pode ser explicada pelo alto risco para quem faz denúncias e pela falta de apoio aos profissionais.
