Novos profetas anunciando a velha lógica do capital
A crise poderá acelerar o movimento das classes sociais, externando suas contradições inconciliáveis e possibilitando uma nova correlação de forças. O elemento do movimento da transformação é indissociável do processo histórico. Portanto, nenhuma situação política e econômica é eterna e imutável.
A crise poderá acelerar o movimento das classes sociais, externando suas contradições inconciliáveis e possibilitando uma nova correlação de forças.
O elemento do movimento da transformação é indissociável do processo histórico. Portanto, nenhuma situação política e econômica é eterna e imutável. Ao que tudo indica, o ano de 2012 confirmará essa máxima filosófica. Quem tem nos garantido isso não são os filósofos acadêmicos, mas sim Angela Merkel e Nicolas Sarkozy, dois importantes chefes de Estado que comandam, respectivamente, o governo alemão e o governo francês.
A frieza de Angela Merkel ao afirmar que “2012 será sem dúvida pior que 2011” e o tom de conformismo de Nicolas Sarkozy quando assegurou que “2012 será o ano de todos os riscos” deixam claro que a crise econômica mundial se aprofundará no presente ano. Como todos sabemos, a situação da economia dos Estados Unidos e da Europa não é nada promissora. Some-se a isto a tendência de queda no crescimento da economia chinesa. O impacto desse cenário nas economias periféricas ainda é motivo de polêmica, mas o fato é que a estagnação e mesmo a recessão econômica em muitas economias centrais do capitalismo afetarão o comércio mundial de gêneros agrícolas e de minérios, do qual dependem muitos países.
Preocupação para os capitalistas com a ameaça da queda de suas taxas de lucros para patamares insustentáveis. Mas a crise também é motivo de preocupação para a classe trabalhadora, diante da possibilidade real de queda na sua qualidade de vida. No entanto, um cenário como este tem outro aspecto fundamental: o da oportunidade de apresentar novos projetos políticos. A crise poderá acelerar o movimento das classes sociais, externando suas contradições inconciliáveis e possibilitando uma nova correlação de forças.
No caso do Brasil, podemos afirmar que, se a crise econômica se aprofundar, existe a possibilidade concreta do surgimento de elementos objetivos e subjetivos que proporcionam o movimento real da classe trabalhadora, abrindo oportunidade para a emergência de uma força social de massas que tenha a capacidade de mudar a correlação de forças e apresentar um projeto popular para o Brasil.
Esse cenário é possível pelos seguintes motivos. Primeiro, os anos de neodesenvolvimentismo dos governos Lula e Dilma formaram uma jovem classe trabalhadora dispersa e sem projeto político, mas que já começa a retomar a tradição da luta sindical que proporcionou ganhos salariais. Segundo, a geração de empregos nos anos de neodesenvolvimentismo diminuiu o tamanho do exército industrial de reserva, gerando pressão salarial e contribuindo para a retomada das lutas, inicialmente meramente econômicas. Terceiro, numa situação como essa, dificilmente a classe trabalhadora aceitará perder as conquistas salariais e as políticas públicas. Quarto, o neodesenvolvimentismo, que concilia o investimento produtivo com o capital financeiro, não é uma alternativa popular.
A crise econômica colocará o governo Dilma diante de alguns desafios. Para manter as conquistas do governo Lula, a presidenta terá que acelerar e aprofundar as mudanças na política econômica, diminuindo o espaço do capital financeiro na economia nacional. Além disso, o que realmente poderia garantir renda e emprego num momento de crise profunda seria um conjunto de reformas nacionais, democráticas e populares que dependem mais de um amplo movimento de massas do que de um governo de composição que concilia interesses de classes.
Vale lembrar que o aprofundamento da crise também possibilitará o surgimento de uma alternativa pela direita. Isto pode ocorrer se nos depararmos com o encontro de duas situações. O caráter conciliador do neodesenvolvimentismo conservador – que não pauta as reformas estruturais na sociedade, não educa politicamente as massas, não forma uma base social de massas com um projeto político claro e não gera massa crítica na sociedade – abre espaço para o crescimento da direita em determinadas situações. Além disso, se as forças populares não conseguirem viabilizar uma alternativa democrática, nacional e popular à crise do capitalismo mundial, aumentam, ainda mais, as possibilidades de triunfo da direita.
Para as forças populares, acumular forças incidindo nas contradições reais que a luta política nos apresenta é fundamental para viabilizar uma alternativa popular à crise econômica. Por isso, avançar no nível de organização popular, dialogando com uma nova correlação de forças em formação na América Latina, é o caminho para podermos consolidar uma força social de massas que apresente um projeto popular que dialogue com o nível de consciência da classe trabalhadora e que resolva seus problemas básicos.
A história demonstra que uma proposta como essa tem a capacidade de politizar e polarizar as classes sociais, causando um impasse político na sociedade em que o projeto popular passa a ser uma alternativa de poder para a classe trabalhadora. Que as lutas sociais em 2012 acumulem para a construção de um projeto popular.
* Publicado originalmente no site Brasil de Fato.




