Há cerca de seis meses, um amigo me disse que 2011 seria um daqueles anos especiais, em que revoluções invisíveis acontecem e milagres inesperados dão o troco nas fatalidades: seria um Ano da Igualdade. “Coisa rara de acontecer”, confidenciava-me em tom de autoajuda. E provava sua afirmação com esta simples operação matemática: 2 + 0 = 1 + 1.
O Ano da Igualdade é a hora de zerar tudo e começar de novo. O Ano da Igualdade é um “pequeno fim de mundo”. Uma oportunidade existencial.
Estamos chegando à metade do ano. E devo admitir que, sem querer e sem forçar, acabei acreditando nessa história.
No Ano da Igualdade, a dívida não esmaga a vida, e a dúvida não boicota a dádiva.
No Ano da Igualdade, os fracassados encontram o melhor de si, e os vitoriosos aprendem a rir de si.
No Ano da Igualdade, a balança se equilibra, a gangorra se acalma, o corpo abraça a alma.
No Ano da Igualdade, o infrutífero amadurece e o imaturo floresce.
No Ano da Igualdade, se você está perto, chegará. Se você já chegou, voltará. Se pensou em desistir, resistirá. Se resistir, compreenderá.
No Ano da Igualdade, o não se espatifou ao chão, o sim voltou para mim, o talvez se lança à frente e o quase decide de uma vez.
No Ano da Igualdade, o que cansava entusiasma agora. O que afligia anima agora. O que angustiava encoraja agora.
No Ano da Igualdade, a utopia e a piada, o discurso e a ação, a força e a fraqueza, o sonho e a consciência, o mar e o sertão, todos os contrários se encontram em surpreendente, em desejada convergência.
No Ano da Igualdade, quem comeu o pão que o diabo amassou quer alimentar-se das uvas que Deus cultivou.
No Ano da Igualdade, a culpa se desfaz e se transforma em pensamentos de paz.
No Ano da Igualdade, o pior melhora, o confuso se esclarece, o invasor se retira, o agressor se retrai, o traidor chora.
Cada dia no Ano da Igualdade é ocasião de descobertas e surpresas. Mesmo quem não está ciente desses silenciosos terremotos, desconfia, estranha, sente que coisas inexplicáveis acontecem.
Os três últimos Anos da Igualdade foram 1982, 1991 e 2002. Quem viveu viu, e há de lembrar. O próximo, será 2020. Quem até lá viver verá.
* Gabriel Perissé é doutor em Educação pela Universidade de São Paulo e escritor – http://www.perisse.com.br/.
** Publicado originalmente no site Correio da Cidadania.